Fúria em Alto Mar

Fúria em Alto Mar: Um Submarino de Potencial Afogado em Clichês

Sete anos se passaram desde que Fúria em Alto Mar chegou aos cinemas brasileiros em 25 de outubro de 2018. E olhando para trás, percebo que a minha memória do filme é bem… diluída, como um torpedo mal-guiado no fundo do oceano. Isso não é necessariamente ruim; alguns filmes são tão esquecíveis que sua mediocridade se torna quase uma arte. Mas, em outras ocasiões, a falta de impacto sugere um potencial desperdiçado, e esse é o caso de Fúria em Alto Mar.

O filme nos apresenta o Comandante Joe Glass (Gerard Butler, com sua expressão de quem acabou de receber uma intimação judicial), um lobo solitário encarregado de uma missão crucial no perigoso Mar de Barents: monitorar a atividade militar russa, após o misterioso desaparecimento de um submarino americano. A tensão geopolítica, um jogo de xadrez nuclear prestes a se tornar uma guerra de xadrez, força Glass a tomar decisões arriscadas, num thriller militar que promete – mas não entrega – a adrenalina prometida pela sinopse.

A direção de Donovan Marsh é competente, sem ser brilhante. Ele consegue construir algumas sequências de ação visualmente interessantes dentro do claustrofóbico cenário de um submarino, mas falha em criar uma atmosfera de tensão palpável que realmente nos prenda à trama. A fotografia é adequada, e a edição mantém o ritmo, mas falta alma, aquela faísca que transforma um filme decente em uma experiência memorável.

O roteiro de Jamie Moss e Arne Schmidt, infelizmente, é um festival de clichês. Os diálogos soam artificiais e previsíveis, as reviravoltas são fáceis de antecipar e os personagens, caricaturas de personalidades militares hollywoodianas. Gary Oldman, um ator que poderia trazer substância a qualquer papel, parece perdido em seu papel como o CJCS Charles Donnegan, um papel que parece mais um pretexto do que uma personagem complexa. O mesmo acontece com outros atores do elenco, como Toby Stephens e Common, que ficam presos num mar de diálogos rasos e personagens pouco desenvolvidos.

Apesar das atuações sólidas (principalmente Butler, que mesmo em papéis previsíveis, consegue dar uma pitada de sua energia característica), o filme não consegue se desvencilhar de sua previsibilidade. O enredo é linear e óbvio, carecendo da complexidade necessária para sustentar seu tempo de execução. A rivalidade EUA x Rússia, um tema que poderia gerar inúmeros conflitos interessantes, acaba sendo utilizada de forma superficial, servindo apenas como pano de fundo para as cenas de ação genéricas.

Fúria em Alto Mar tem seus momentos. As sequências de ação submarina, como mencionado, são bem filmadas. Mas a trama simplória e a falta de profundidade em seus personagens afundam o filme antes mesmo que ele possa emergir. É uma pena, pois o tema, o elenco e os cenários continham um potencial imenso, mas, infelizmente, o resultado final é um filme mediano, um “resgate aceitável”, como diz a crítica, se você não tiver nada mais para assistir.

Embora eu compreenda que existem filmes que pretendem ser apenas diversão despretensiosa, Fúria em Alto Mar não consegue atingir nem esse nível com maestria. É uma pena, pois a temática de tensão geopolítica e o cenário singular de um submarino prometiam uma aventura mais impactante. No final, o que fica é a sensação de um potencial imenso perdido num mar de clichês, e a constatação de que mesmo com um elenco estelar, uma premissa interessante e uma boa produção, um roteiro fraco pode afundar qualquer filme, por mais imponente que ele pareça ser. Recomendo apenas se você estiver desesperado por um filme de ação sem grandes pretensões.