Às vezes, a gente só precisa de um bom mistério. Daqueles que te agarram pela gola da camisa, te puxam para dentro de um universo de excentricidade e pistas disfarçadas, e te fazem esquentar a cabeça tentando desvendar quem fez o quê, e por qual motivo. Foi exatamente com essa expectativa, essa sede por uma trama inteligente e um elenco carismático, que eu me sentei para assistir a Glass Onion: Um Mistério Knives Out pela primeira vez, e, sinceramente, a cada revisão desde o lançamento em 2022, minha admiração só cresce. Já faz quase três anos que essa aventura grega de Benoit Blanc nos cativou, e ainda hoje, o filme de Rian Johnson brilha com uma intensidade peculiar.
“Knives Out” redefiniu o que um filme de mistério moderno poderia ser, e a sequência tinha um peso nas costas: manter a originalidade sem se repetir. E, ah, como Johnson nos entrega isso! Somos transportados para a Grécia, para uma ilha particular tão opulenta quanto seu proprietário, o bilionário da tecnologia Miles Bron (interpretado com um carisma quase ingênuo por Edward Norton). Ele convida seu círculo eclético de “disruptores” e figuras públicas – uma governadora ambiciosa (Kathryn Hahn), um cientista (Leslie Odom Jr.), uma designer de moda e uma influencer – para um fim de semana de quebra-cabeças e diversão. A cereja do bolo, ou a fatia mais fina da cebola, é a presença do inigualável detetive particular Benoit Blanc (Daniel Craig, com seu sotaque sulista que virou marca registrada), que misteriosamente recebeu um convite. E, claro, onde Blanc vai, o assassinato e o caos inevitavelmente o seguem.
O que me fisga em “Glass Onion” é a forma como ele pega a fórmula clássica do whodunit e a subverte com uma sagacidade quase teatral. Não é apenas uma investigação; é uma sátira mordaz do privilégio, da cultura do cancelamento e da autoproclamada genialidade que muitas vezes não passa de superficialidade. Miles Bron, com sua fortuna e seu círculo de amizades que orbitam sua influência, é o epicentro dessa teia de relacionamentos frágeis. O filme nos mostra o que acontece quando a pandemia de COVID-19 força essa galera a um isolamento luxuoso, e como velhas tensões e segredos começam a ferver sob a superfície idílica. A chegada inesperada de Andi Brand (Janelle Monáe, em uma performance que é um show à parte), uma ex-parceira de negócios de Miles, só acende ainda mais o pavio.
Rian Johnson, que escreve e dirige com uma mão firme e um olho afiado para o detalhe, nos convida a brincar com ele. Ele não esconde as pistas; ele as espalha de forma tão descarada que a gente as ignora. O título, “Glass Onion”, não poderia ser mais apropriado. É uma cebola de vidro: tudo está ali, transparente, mas somos tão condicionados a procurar a complexidade oculta que perdemos o óbvia simplicidade. A trama é um verdadeiro puzzle box, com reviravoltas que fazem você dar um pulo no sofá, e depois se recostar com um sorriso no rosto, admirado com a audácia do roteiro.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Rian Johnson |
| Roteirista | Rian Johnson |
| Produtores | Rian Johnson, Ram Bergman |
| Elenco Principal | Daniel Craig, Edward Norton, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr. |
| Gênero | Comédia, Crime, Mistério |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtora | T-Street |
Daniel Craig, como Benoit Blanc, é uma delícia. Ele consegue ser ao mesmo tempo a personificação da elegância e da excentricidade, com um senso de humor que flui entre a ironia sutil e a pura exasperação. Você consegue ver a roda girando em sua mente enquanto ele observa a performance, quase uma peça de teatro amadora, encenada pelos convidados de Miles. E o elenco de apoio? Fabuloso! Edward Norton é sublime como o bilionário com um ego tão grande quanto sua mansão, e Janelle Monáe entrega uma atuação multifacetada que é o coração emocional do filme. A dinâmica entre esses personagens, essa espécie de “arrested development” de adultos ricos e entediados, é o combustível para a comédia e o crime.
Para mim, a beleza de “Glass Onion” reside não só na inteligência do seu mistério de assassinato, mas na alegria descarada com que ele se diverte com as convenções do gênero. É um filme que te quer entretido, que te quer rindo, mas que também quer te fazer pensar um pouco sobre quem idolatramos e por que. A arte, a Mona Lisa protegida na ilha, os segredos escondidos à vista de todos – tudo contribui para uma experiência cinematográfica rica e imersiva.
É verdade que, para alguns, a natureza da revelação pode parecer um tanto previsível se você estiver prestando muita atenção, ou se for um veterano dos whodunits. Mas, honestamente, isso mal arranha o brilho da jornada. O riso é constante, as atuações são estelares e a ambientação grega é um convite irresistível para a fuga. Glass Onion: Um Mistério Knives Out é mais do que apenas uma sequência; é uma declaração de que o mistério pode ser revigorante, divertido e, sim, ter um bom soco de comentário social, tudo isso enquanto nos deixa deliciadamente entretidos do começo ao fim. Eu, particularmente, mal posso esperar pelo próximo mergulho com Benoit Blanc.




