Há algo de mágico em revisitar um clássico que, sem avisar, decide subverter expectativas e nos entregar algo que nem sabíamos que precisávamos. É com essa sensação de descoberta tardia – afinal, já se passaram alguns anos desde 2022 – que me pego pensando em Scooby-Doo! Gostosuras ou Travessuras. Confesso, o Dia das Bruxas é minha época favorita do ano, e poucas coisas combinam tanto com a atmosfera de mistério e diversão quanto a turma da Máquina dos Mistérios. Mas este filme, ah, este filme tem um tempero extra que me fez querer voltar a ele.
Imagine a cena: a noite de Halloween, a Máquina dos Mistérios enguiça no coração de uma cidade que parece ter sido tirada diretamente de um conto de fantasmas. Fred, Daphne, Velma e Salsicha se viram para tentar colocar o motor para funcionar, enquanto Scooby, com seu faro infalível para doces e problemas, decide que é hora de ir brincar de “gostosuras ou travessuras”. É um cenário que grita “Scooby-Doo!”, com criaturas apavorantes e a promessa de muita correria e risadas. E, acredite, o filme entrega exatamente essa dose reconfortante de aventura familiar que esperamos. As vozes icônicas de Frank Welker, dando vida ao nosso amado cão falante, e a Fred, além de Matthew Lillard como o Salsicha, continuam a ser o coração pulsante dessa franquia, uma presença tão familiar quanto a própria gravidade. Grey DeLisle e Kate Micucci completam o quarteto com a leveza e inteligência características de Daphne e Velma. É como calçar um par de chinelos velhos e confortáveis: você sabe o que esperar, e isso é bom.
Mas Audie Harrison, o diretor, e a Warner Bros. Animation não se contentaram apenas com o conforto. Eles decidiram que era hora de dar um passo à frente, e é aqui que “Gostosuras ou Travessuras” brilha com uma luz própria, quase neon. Quem diria que, em meio a essa caçada por doces e a uma pitada de mistério clássico, encontraríamos um dos momentos mais comentados e significativos da história recente de Scooby-Doo? Estou falando, é claro, de Velma Dinkley e seu coração acelerado por Coco Diablo, a designer de moda por trás dos trajes dos vilões mais icônicos.
Você já parou para pensar na Velma? Sempre a mente brilhante do grupo, a pragmática, a que vê além da cortina de fumaça. E, de repente, ela está ali, perdidamente apaixonada, ou melhor, crushada, por outra mulher. E não é só um sussurro, uma insinuação; é o fio condutor de boa parte da trama! Ver a Velma, um ícone da cultura pop por décadas, finalmente ter essa parte de sua identidade explorada de forma tão aberta e central é, para mim, um marco. Não é apenas representatividade; é a validação de uma personagem complexa que, por tanto tempo, foi um enigma para muitos. A atuação vocal de Kate Micucci, que já trouxe tanta vida para Velma, ganha uma nova camada de doçura e vulnerabilidade quando ela se vê diante da cativante Coco Diablo, dublada por Myrna Velasco. Essa dinâmica entre Velma e Coco, com todas as suas ambiguidades e o charme inegável de Diablo, é o que eleva este filme de uma aventura de Halloween divertida a algo com um ressonância duradoura. Não é só que “Velma é lésbica e tem uma queda por uma mulher”, é como o filme se compromete com essa narrativa, mostrando a admiração e o fascínio de Velma.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Audie Harrison |
Elenco Principal | Frank Welker, Grey DeLisle, Matthew Lillard, Kate Micucci, Myrna Velasco |
Gênero | Aventura, Mistério, Comédia, Animação, Família |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtora | Warner Bros. Animation |
O mistério principal, com o elemento de “doppelgänger” e fantasmas que assombram a cidade, é envolvente o suficiente para manter os pequenos e os grandes na ponta do sofá. As sequências de perseguição são criativas, a comédia é pontual, e o visual de Halloween é exuberante, um verdadeiro deleite para os olhos. Mas é a maneira como o filme tece a jornada emocional de Velma dentro desse cenário familiar que o torna tão especial. Não é uma trama à parte; é a trama. E, ao fazer isso, o filme não só honra a longa história da franquia, mas também a impulsiona para o futuro, provando que é possível ser fiel às raízes enquanto se abre para novas e importantes histórias.
Scooby-Doo! Gostosuras ou Travessuras não é apenas um filme sobre um cachorro falante e seus amigos desvendando um mistério de Halloween. É um lembrete de que até mesmo as histórias que amamos desde a infância podem crescer e evoluir conosco, oferecendo novas perspectivas e abraçando a diversidade do mundo real. É uma aventura cheia de charme, risadas, e, o mais importante, um coração enorme que pulsa em cada quadro. Se você ainda não viu, ou se já viu e esqueceu, te convido a dar uma chance. É uma gostosura que vale a pena conferir.