Guermantes: Uma Ode à Resistência Artística em Tempos de Crise
Confesso, quando comecei a assistir a Guermantes, em 2021, não esperava ser tão profundamente tocado. O filme, dirigido e roteirizado por Christophe Honoré, prometeu uma comédia romântica leve ambientada em Paris, no verão de 2020, durante a pandemia de COVID-19. O que encontrei, porém, foi algo muito mais rico e complexo: uma reflexão poética e comovente sobre a arte, a amizade e a persistência humana diante da adversidade. A sinopse, em poucas palavras, descreve uma trupe teatral ensaiando uma peça inspirada em Proust que, após um cancelamento repentino, decide seguir adiante com as apresentações, movida pela beleza da arte e a alegria da companhia uns dos outros.
A direção de Honoré é impecável. Ele consegue capturar a atmosfera sufocante e, ao mesmo tempo, onírica do verão parisiense, com uma sensibilidade visual quase táctil. A câmera dança entre os atores com uma delicadeza que espelha a fragilidade e a força dos personagens. O roteiro, também de Honoré, é inteligente e sutil, entrelaçando diálogos espirituosos com momentos de profunda melancolia. Não se trata de um relato linear, mas sim de uma exploração fragmentada, quase impressionista, das relações entre os membros da trupe.
As atuações são, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. Claude Mathieu, Anne Kessler, Éric Génovèse, Florence Viala e Elsa Lepoivre formam um conjunto extraordinário, cada um dando vida a personagens complexos e multifacetados, com suas inseguranças, seus sonhos e suas contradições. A química entre eles é palpável, transmitindo uma autenticidade que raramente se vê no cinema. É como se assistíssemos a um grupo de amigos de longa data, revelando suas vulnerabilidades sem jamais perder a elegância.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Christophe Honoré |
Roteirista | Christophe Honoré |
Elenco Principal | Claude Mathieu, Anne Kessler, Éric Génovèse, Florence Viala, Elsa Lepoivre |
Gênero | Drama, Romance, Comédia |
Ano de Lançamento | 2021 |
Produtoras | Les Films Pelléas, La Comédie-Française, Ego Productions, France Télévisions, CNC |
Mas Guermantes não está isento de defeitos. Alguns podem achar o ritmo um pouco lento, ou a estrutura narrativa pouco convencional, preferindo uma trama mais direta e linear. A própria fragmentação, que considero uma força, pode ser vista como uma fraqueza por aqueles que buscam uma narrativa mais fechada. No entanto, a beleza do filme reside precisamente nessa imprevisibilidade, nessa recusa em oferecer respostas fáceis ou conclusões apressadas.
O filme explora temas profundamente relevantes: a efemeridade da arte, o poder transformador da amizade, a importância da resistência em tempos de crise. Em meio ao caos causado pela pandemia, a trupe encontra na arte um refúgio, um espaço de pertencimento e uma forma de dar sentido à sua existência. A mensagem é clara: mesmo diante da adversidade, a beleza, a doçura e a alegria da companhia humana podem nos manter firmes e nos permitir encontrar a força para seguir em frente.
Em retrospectiva, quatro anos depois da sua estreia, Guermantes se revela como um documento singular de um momento específico na história. A pandemia de COVID-19 deixou marcas profundas em nossas vidas, e o filme captura essa experiência com sensibilidade e honestidade. Embora não tenha alcançado uma recepção massiva, a crítica especializada reconheceu seu valor artístico e sua profunda humanidade.
Recomendo Guermantes a todos aqueles que apreciam o cinema autoral, que procuram uma experiência cinematográfica que vá além do mero entretenimento. É um filme para ser apreciado, saboreado, e refletido, um ato de resistência artística que ecoa ainda hoje, em 2025. Se você busca um filme leve e escapista, talvez não seja a melhor opção. Mas se procura uma obra que te toque profundamente, que te faça pensar e sentir, então Guermantes é uma experiência inesquecível.