No turbilhão digital em que vivemos, onde cada clique e cada curtida são monitorados, um filme como Hackers no Controle não é apenas entretenimento; é um espelho, um alerta, e, para mim, um convite irresistível para mergulhar nos medos e possibilidades da era tecnológica. Lembro-me bem quando o burburinho sobre essa produção holandesa começou lá em 2022. Sempre tive um fraco por thrillers que cutucam a ferida da privacidade, e quando soube que uma hacker brilhante seria a protagonista, minha curiosidade foi fisgada como um peixe em isca bem lançada. Por que eu, um entusiasta do cinema e um tanto paranoico com meus próprios dados, me senti compelido a revisitar essa história? Porque, três anos depois, a relevância de Mel Bandison e seu inferno particular só parece ter se intensificado.
Hackers no Controle nos apresenta a Mel (interpretada com uma intensidade palpável por Holly Mae Brood), uma gênia da programação, daquelas que parecem nascer com um teclado na ponta dos dedos. Ela é astuta, rápida e, crucialmente, ética – ou pelo menos tenta ser, em um mundo onde a linha entre o certo e o errado é mais nebulosa do que um código criptografado. A trama explode quando Mel desenterra um escândalo de privacidade tão colossal na Holanda que chega a ser inimaginável. Não estamos falando de um vazamento de fotos de gatos; é algo que mexe com a estrutura de confiança social, uma ferida aberta na alma digital de uma nação. E como a vida costuma imitar a ficção (ou vice-versa), Mel, de repente, se vê não como a heroína que desvendou a verdade, mas como a vilã, acusada de assassinato e forçada a fugir da polícia, com a vida virada do avesso por chantagistas que parecem ter um controle assustador sobre cada passo dela.
A jornada de Mel não é apenas uma corrida contra o tempo; é uma luta contra um sistema invisível e onipotente. Holly Mae Brood entrega uma performance que me fez prender a respiração diversas vezes. Ela não apenas interpreta uma hacker; ela é a angústia de alguém que vê seu mundo desabar, a determinação de quem se recusa a ser uma vítima e a inteligência fria de quem usa a lógica como arma. Suas mãos tremem, mas seus olhos focam com uma intensidade laser quando está atrás de uma tela, revelando mais sobre seu estado mental do que qualquer monólogo poderia fazer. É essa capacidade de mostrar a vulnerabilidade e a força simultaneamente que torna Mel tão crível e fácil de torcer.
E por falar em torcer, o filme da diretora Annemarie van de Mond nos joga numa montanha-russa de ação e suspense. A narrativa, roteirizada por Tijs van Marle e Hans Erik Kraan, tem um ritmo de batimento cardíaco acelerado. As perseguições são frenéticas, sim, mas o verdadeiro brilho está na perseguição intelectual. Ver Mel desvendar camadas de intriga digital, cada linha de código um degrau em direção à verdade ou a uma armadilha, é o que realmente engaja. É como um jogo de xadrez de altíssima velocidade, onde o tabuleiro é o ciberespaço e as peças são dados, identidades e vidas.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretora | Annemarie van de Mond |
| Roteiristas | Tijs van Marle, Hans Erik Kraan |
| Produtores | Annemieke van Vliet, Femke Bennink |
| Elenco Principal | Holly Mae Brood, Géza Weisz, Susan Radder, Frank Lammers, Noortje Herlaar |
| Gênero | Ação, Crime, Thriller |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtora | Fiction Valley |
O elenco de apoio também contribui de forma crucial para essa tapeçaria de tensão. Géza Weisz, como Thomas Deen, oferece um contraponto interessante à intensidade de Mel, um aliado talvez relutante, mas essencial, que nos faz questionar até onde vai a lealdade. Susan Radder (Roos) traz um toque de humanidade e amizade que serve como um raro porto seguro para Mel, enquanto Frank Lammers (Buddy) e Noortje Herlaar (Linde van Erp) adicionam camadas de ameaça e intriga, cada um com seus próprios segredos e motivações. Não são apenas personagens secundários; são peças vitais na teia que enreda nossa protagonista, cada um com uma “impressão digital” própria que enriquece a narrativa.
O que me prendeu em Hackers no Controle não foi apenas a adrenalina das cenas de ação, mas a sensação desconfortável de que essa ficção pode estar mais perto da realidade do que gostaríamos de admitir. Quantas das nossas informações pessoais flutuam por aí, vulneráveis, ou já foram usadas de formas que nem imaginamos? O filme não te dá respostas fáceis, e essa é uma das suas maiores virtudes. Ele te faz pensar, te provoca, e te deixa com um gosto amargo e instigante. A vida real, afinal, é cheia de ambiguidades, e o filme as abraça. Mel não é uma heroína sem falhas, e seus antagonistas não são vilões de desenho animado; eles operam em uma zona cinzenta moral que é perturbadoramente familiar.
A direção de Annemarie van de Mond consegue equilibrar a urgência da ação com a profundidade emocional necessária para Mel. Ela não tem medo de deixar a câmera repousar no rosto de Holly Mae Brood, capturando a microexpressão de pânico ou de um flash de genialidade. A produção da Fiction Valley também merece aplausos; os cenários, a atmosfera, tudo contribui para a imersão nesse mundo onde a segurança é uma ilusão e o anonimato, um luxo.
Três anos depois de seu lançamento, Hackers no Controle permanece mais do que relevante. É um lembrete contundente de que, na era digital, o controle é uma ilusão e que a fronteira entre o público e o privado está em constante erosão. A história de Mel Bandison não é apenas a de uma hacker acusada injustamente; é a história da nossa própria vulnerabilidade em um mundo hiperconectado. E, convenhamos, num dia como hoje, 06 de outubro de 2025, com cada vez mais da nossa vida acontecendo online, quem de nós não se sente um pouco como Mel, navegando por um mar de informações, torcendo para não esbarrar no iceberg errado? É um filme que, ao final, não te solta facilmente. Ele te deixa pensando, ponderando, e talvez, só talvez, verificando as permissões dos seus próprios aplicativos. E isso, meu caro leitor, é o sinal de um thriller que realmente acerta o alvo.




