Lembro-me de quando Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 chegou aos cinemas, lá em 2010. Na época, eu já carregava essa saga no coração há mais de uma década, desde que o primeiro livro me fez acreditar na magia das palavras. Ver a jornada de Harry, Ron e Hermione se desenrolar na tela grande era um ritual anual, quase uma peregrinação. Mas com “Relíquias”, a sensação era diferente. Era o começo do fim, e um presságio de que a inocência dos primeiros filmes estava irremediavelmente perdida.
Este filme não é um conto de fadas, e isso ficou claro desde os primeiros minutos. Ele abraça a escuridão que J.K. Rowling teceu nas páginas finais de uma maneira visceral. Esqueça os corredores aconchegantes de Hogwarts por um tempo, porque aqui, somos jogados no mundo real, cruel e sem piedade, onde a magia é uma ferramenta de guerra tanto quanto de esperança. David Yates, que já vinha conduzindo os filmes para um terreno mais sombrio, amadurece de vez sua visão, e Steve Kloves entrega um roteiro que captura a essência da desolação e da urgência.
A gente acompanha Harry, Ron e Hermione em uma verdadeira “road trip” de bruxos, mas sem o glamour. É uma fuga constante, uma caçada sem trégua aos Horcruxes, esses fragmentos da alma corrompida de Voldemort que garantem sua imortalidade. A sinopse não mente: eles estão fugitivos, sozinhos, e a dependência mútua é palpável. Você vê a tensão cravada nos seus rostos, a exaustão nos seus olhos. Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint já não são mais as crianças que vimos pela primeira vez; eles se transformaram em atores capazes de carregar o peso emocional de seus personagens, e aqui, eles brilham na vulnerabilidade.
O filme se debruça sobre o isolamento e a paranoia. Aquele senso de abrigo que Hogwarts oferecia evapora, e o que resta é a vida em barracas, a constante incerteza, a comida escassa. Há uma cena em particular que sempre me pega, quando a relação entre os três está no limite, corroída pelo medo e pelo artefato sombrio que carregam. Ron, em um momento de desespero e ciúme, explode. Ali, a magia não resolve nada; é a fragilidade da amizade que está em jogo, e a atuação de Rupert Grint expressa essa dor com uma crueza que te faz sentir o frio no estômago. É a realidade da amizade sendo testada sob pressão extrema, e como as forças das trevas ameaçam separá-los não só fisicamente, mas emocionalmente.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | David Yates |
Roteirista | Steve Kloves |
Produtores | David Heyman, J.K. Rowling, David Barron |
Elenco Principal | Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Toby Jones, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Ralph Fiennes, Bill Nighy, Simon McBurney, Rhys Ifans |
Gênero | Aventura, Fantasia |
Ano de Lançamento | 2010 |
Produtoras | Warner Bros. Pictures, Heyday Films |
E o elenco secundário? Ah, é um espetáculo à parte, mesmo em participações menores. Ralph Fiennes como Voldemort? Puro terror, um Lorde das Trevas que agora exerce poder de forma quase onipresente, sentindo sua vitória cada vez mais próxima. A loucura de Helena Bonham Carter como Bellatrix Lestrange é palpável, e a dor de Toby Jones na voz de Dobby… bom, quem assistiu sabe o golpe que é. Mesmo personagens como o Rufus Scrimgeour de Bill Nighy, com sua autoridade desgastada, pintam um quadro da corrupção e do desespero que assola o mundo mágico.
“Relíquias da Morte – Parte 1” é um filme que respira uma atmosfera de road movie gótico, pontuado por momentos de magia desesperada, como as transmissões clandestinas do Potterwatch no rádio, pequenos faróis de esperança em um mar de trevas. As sequências de ação são eletrizantes – a fuga dos sete Harrys, a infiltração no Ministério da Magia, a visita assombrosa a Godric’s Hollow no Natal. Mas o que mais me impacta é a quietude, o silêncio pesado que acompanha o trio em sua jornada, a ausência da trilha sonora em momentos cruciais, permitindo que o som da respiração, dos passos na neve, ou o rangido de uma porta velha se torne a própria trilha sonora da tensão.
O filme foi lançado em 2010, no apogeu da saga, e lembro-me da discussão sobre a divisão do último livro em duas partes. Alguns torceram o nariz, vendo uma manobra comercial. Mas, olhando para trás, hoje em 2025, percebo o acerto. “Parte 1” não se apressa; ele respira, permitindo que a profundidade das emoções e a complexidade da missão se desenvolvam. Ele é o lento acúmulo de nuvens de tempestade, a antecipação da batalha final que viria em “Parte 2”. Como o fã ohlalipop expressou, ele satisfaz a expectativa de quem amava o livro, enquanto CinemaSerf encapsula o prazer de acompanhar essa série desde o início, e ver como ela amadureceu.
Não é um filme leve, nem tem a grandiosidade épica de combate o tempo todo. É um filme sobre a fuga, a resiliência e a descoberta. Sobre a bravura não em duelos de varinhas, mas em se manter fiel um ao outro quando o mundo todo parece estar desmoronando. É a história de três amigos que, contra todas as probabilidades, decidem não apenas sobreviver, mas lutar pela luz em um mundo dominado pelas sombras. E, para mim, essa é a verdadeira magia de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1. Ele te prepara, te machuca um pouco, e te deixa ansioso pela resolução, sabendo que, talvez, a esperança ainda possa vencer.