Hawa

Hawa: Uma Comédia Amarga Que Toca o Coração (e Faz Você Questionar Tudo)

Lançado em 2022, Hawa chegou às plataformas digitais em meio a um burburinho que, infelizmente, não se traduziu na repercussão que merecia. Três anos depois, em 16 de setembro de 2025, ainda me pego pensando nessa pequena jóia do cinema africano, dirigida por Maïmouna Doucouré. A sinopse, aparentemente simples, esconde uma complexidade que me cativou e me deixou profundamente comovido: Hawa, uma menina de 13 anos, vive com a avó doente e rejeita todas as potenciais famílias adotivas sugeridas, até que decide que sua única opção é… Michelle Obama.

Uma Direção Audaciosa e um Roteiro Delicadamente Áspero

Doucouré, que também assina o roteiro, demonstra uma maestria notável. A câmera se move com a delicadeza de uma pena, ora observando Hawa com uma ternura quase palpável, ora se aproximando para revelar a força bruta de sua resiliência. A escolha da comédia como contraponto ao drama existencial de Hawa é ousada e, na minha opinião, brilhante. O humor negro, sutil e muitas vezes doloroso, surge organicamente da situação, sem nunca banalizar a tragédia. A mistura de realismo cru com toques surrealistas, como a fixação de Hawa em Michelle Obama, funciona perfeitamente, construindo uma narrativa singular e inesquecível.

Atuações que Transcendem a Tela

Sania Halifa, como Hawa, é simplesmente fenomenal. Seus olhos carregam um peso que poucos atores da sua idade conseguiriam transmitir. A jovem atriz consegue equilibrar a inocência infantil com uma força e maturidade surpreendentes, construindo uma personagem profundamente complexa e cativante. O restante do elenco, incluindo Oumou Sangaré como a avó, Titouan Gerbier, Yseult e até mesmo o próprio Thomas Pesquet (que se interpreta!), oferece atuações sólidas e complementares, enriquecendo a narrativa.

Pontos Fortes e Fracos: Um Balanço Delicado

Um dos pontos altos de Hawa é sua capacidade de abordar temas complexos com sensibilidade e honestidade. A pobreza, a doença, a orfandade e a busca por pertencimento são retratados sem sentimentalismos baratos, mas com uma empatia que toca profundamente o espectador. No entanto, a escolha de Michelle Obama como figura central da fantasia de Hawa, embora criativa, poderia ser interpretada como um tanto superficial para alguns. Talvez uma análise mais profunda do que essa escolha representa para a menina fosse benéfica, explorando melhor as nuances da sua aspiração.

Mensagens e Temas: Uma Reflexão Sobre a Família e a Esperança

Hawa não se limita a contar uma história; ela provoca uma reflexão profunda sobre o que realmente constitui uma família e o significado da esperança em meio à adversidade. A busca de Hawa por um lar, por uma figura materna, transcende o simples desejo de adoção; é uma busca por amor, pertencimento e segurança. A maneira como o filme questiona os padrões tradicionais de família e a abertura para diferentes formas de amor é, a meu ver, uma das suas maiores conquistas.

Conclusão: Uma Obra-Prima para Ser Descoberta

Hawa é mais do que um filme; é uma experiência. É uma obra-prima que merece ser vista, discutida e apreciada, mesmo com as suas pequenas falhas. Recomendo fortemente este longa-metragem para qualquer pessoa que aprecie filmes com roteiros inteligentes, atuações poderosas e uma história capaz de tocar o coração. É uma produção que ficará gravada na memória muito depois dos créditos finais, deixando uma marca duradoura e a necessidade de uma segunda (e terceira!) visualização para capturar todas as nuances da história. Se você procura um filme que te faça rir, chorar e pensar, Hawa é a escolha perfeita. Não deixe de assistir!