Hereditário: Um Legado de Terror que Assombra até Hoje
Sete anos se passaram desde que Ari Aster nos presenteou com Hereditário, e a reverberação desse filme na cultura pop continua intensa. Em 2018, o longa-metragem chegou aos cinemas brasileiros em 21 de junho, e desde então, tenho me deparado com discussões acaloradas sobre sua qualidade – e é exatamente essa polarização que o torna tão fascinante. Afinal, Hereditário não é um filme para todos; ele exige, e recompensa, um mergulho profundo em suas camadas inquietantes.
A sinopse, sem entregar os deliciosos sustos, gira em torno da família Graham, abalada pela morte da matriarca. Annie, a mãe, interpretada por uma majestosa Toni Collette, luta para lidar com o luto e com o comportamento cada vez mais perturbador de sua filha adolescente, Charlie (Milly Shapiro). A tragédia familiar desencadeia uma série de eventos sobrenaturais que mergulham a família em um espiral de terror, revelando segredos obscuros e um passado perturbador. A atmosfera de crescente angústia é palpável, construída cuidadosamente por um roteiro inteligente e uma direção primorosa.
Aster, que assina a direção e o roteiro, demonstra uma maestria impressionante na construção de suspense. A câmera se move com uma elegância nervosa, captando cada gesto sutil, cada olhar carregado de apreensão. A trilha sonora, minimalista porém eficaz, contribui para a atmosfera opressiva, enquanto os efeitos visuais, quase sempre sutis, ampliam a sensação de mal-estar. A escolha de usar uma fotografia fria e pálida, contrastando com a intensidade emocional dos personagens, é uma decisão estética brilhante, que intensifica o horror psicológico.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Ari Aster |
Roteirista | Ari Aster |
Produtores | Buddy Patrick, Kevin Scott Frakes, Lars Knudsen |
Elenco Principal | Toni Collette, Alex Wolff, Gabriel Byrne, Milly Shapiro, Ann Dowd |
Gênero | Terror, Mistério, Thriller |
Ano de Lançamento | 2018 |
Produtoras | PalmStar Media, Pulse Films, Finch Entertainment, Windy Hill Pictures |
O elenco está impecável. Toni Collette entrega uma performance visceral e antológica, transmitindo com precisão a fragilidade e a crescente loucura de Annie. Alex Wolff, como Peter, o filho introspectivo, e Milly Shapiro, com sua interpretação singularmente perturbadora de Charlie, completam um trio de atuação impecável. Até mesmo os papéis de apoio, como o de Ann Dowd como Joan, são memoráveis pela sua complexidade. A química entre os atores é palpável, acrescentando uma camada extra de realismo e verossimilhança ao que, no fim das contas, é uma história de puro horror sobrenatural.
Apesar de suas qualidades indiscutíveis, Hereditário não é isento de críticas. Li comentários, alguns até se assemelhando aos trechos que me foram apresentados, que o consideravam superestimado. Acho que parte dessa reação vem do fato de o filme exigir do espectador um certo nível de paciência, não entregando sustos baratos em nome de um terror lento e psicológico que se desenvolve com precisão cirúrgica. Para quem busca sustos imediatos, pode ser decepcionante. No entanto, para aqueles que apreciam um terror mais reflexivo e inteligente, que explora a fragilidade da psique humana frente ao sobrenatural, Hereditário é uma obra-prima.
A mensagem central do filme é complexa e multifacetada. Explora os temas da perda, do luto mal resolvido, do poder destrutivo dos segredos de família e da herança de traumas. A família disfuncional Graham reflete nossas próprias fragilidades e a maneira como lidamos (ou não lidamos) com nossas dores. O elemento sobrenatural, por sua vez, atua como um catalisador, exacerbando as tensões já existentes. Ele não é uma mera presença maligna, mas um reflexo amplificado da própria maldição interior da família. A exploração do culto satânico e dos rituais, embora presente, nunca se sobrepõe à análise psicológica dos personagens.
Em suma, Hereditário é mais do que um simples filme de terror; é uma exploração profunda da natureza humana e de suas fragilidades, disfarçada num conto de horror visceral e memorável. Apesar de alguns eventualmente o considerarem superestimado, a qualidade de sua direção, roteiro, e atuações, aliada a sua temática rica e complexa, o elevam à categoria de clássico moderno do gênero. Recomendo fortemente a sua visualização, mas adverteço: prepare-se para um mergulho profundo e perturbador em um mundo de sombras e horrores. A experiência será inesquecível, mesmo sete anos depois de seu lançamento.