Hermanoteu na Terra de Godah: Uma Comédia Divina (ou Não?)
Quatro anos se passaram desde que Hermanoteu, o personagem que transcendeu os palcos para conquistar as telas, nos presenteou com suas desventuras no longa-metragem “Hermanoteu na Terra de Godah”. E até hoje, a memória dessa experiência cinematográfica me acompanha, não sem um misto de admiração e certa perplexidade. A sinopse oficial, aliás, consegue ser tão enigmática quanto o próprio Hermanoteu: o Cardeal Gerônimo descobre um segredo milenar da Igreja, guiado pela jornada imprevisível do nosso anti-herói bíblico, que, como sempre, se envolve em confusões épicas ao longo da história.
Uma Direção à Altura da Loucura
Homero Olivetto, na direção, abraça o caos com uma energia contagiante. Ele entende perfeitamente a natureza frenética do material original, e traduz para as telas essa salada deliciosa de referências bíblicas, históricas e, acima de tudo, hilárias. Há momentos de pura genialidade visual, outros de uma construção narrativa um tanto caótica, mas que, no geral, funcionam em prol da comédia. A escolha estética, por vezes ousada, contribui para a atmosfera única do filme. Lembro-me de ficar hipnotizado por certas sequências, enquanto em outras senti uma certa falta de foco. Mas, vamos combinar, um filme sobre Hermanoteu não precisa ser “perfeito” para ser divertido.
Atributos e Deficiências de um Elenco Consagrado
O elenco, formado por nomes já consagrados no humor brasileiro, entrega interpretações que oscilam entre o brilhante e o caricato. Ricardo Pipo, como Hermanoteu, consegue carregar nas costas o peso do filme – e o faz com maestria, imprimindo sua própria marca ao personagem. Adriana Nunes, Welder Rodrigues e Jovane Nunes, nos seus papeis múltiplos, também se destacam, mesmo que alguns momentos de comédia física caiam em armadilhas previsíveis. Victor Leal, como Judas, oferece uma performance memorável, equilibrada entre o malicioso e o trágico. Mas, novamente, a impressão que fica é de uma falta de uniformidade entre as interpretações, algumas bem mais sólidas que outras.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Homero Olivetto |
| Roteiristas | Victor Leal, Pedro Neschling, Jovane Nunes |
| Produtores | Augusto Casé, Carlos Henrique Rocha |
| Elenco Principal | Ricardo Pipo, Adriana Nunes, Welder Rodrigues, Jovane Nunes, Victor Leal |
| Gênero | Comédia |
| Ano de Lançamento | 2021 |
| Produtora | Casé Filmes |
Roteiro: Uma Missa em Louvor ao Absurdo
O roteiro, assinado por Victor Leal, Pedro Neschling e Jovane Nunes, é, sem dúvida, o ponto mais controverso do filme. A ousadia é admirável – a capacidade de misturar comédia pastelão com temas religiosos de forma tão irreverente é algo digno de nota. Mas, em alguns momentos, a trama se perde em sua própria criatividade, sucumbindo a um ritmo frenético que, em vez de envolver, cansa. A vontade de abarcar tudo – desde a história bíblica até a sátira política – acaba por diluir a força do filme. Há um excesso de piadas, nem todas certeiras, e um roteiro que, por vezes, se sente mais preocupado com o “quanto” do que com o “como”.
Mais do Que Risadas: Uma Reflexão Sob o Véu da Comédia
Apesar das suas falhas, “Hermanoteu na Terra de Godah” é mais do que uma simples comédia pastelão. Ele aborda temas profundos, como a fé, a busca pela verdade e a própria natureza humana, tudo embebido em um tom irônico e irreverente. A crítica à religião organizada está presente, mas sem ser gratuita, servindo mais como um ponto de partida para a reflexão do que para o ataque. Essa dualidade, essa capacidade de divertir e provocar, é talvez o grande trunfo do filme.
Conclusão: Uma Experiência Única (Mesmo Com Suas Imperfeições)
Recomendo “Hermanoteu na Terra de Godah”? Sim, sem hesitar, especialmente para aqueles que apreciam um humor nonsense, irreverente e sem papas na língua. Não se trata de um filme perfeito, longe disso. Mas é um filme único, que arrisca, diverte e te deixa pensando mesmo depois dos créditos finais. Se você procura uma comédia sofisticada e politicamente correta, talvez este não seja o seu filme. Mas se você está disposto a se entregar ao caos criativo e ao humor debochado, prepare-se para uma experiência memorável – mesmo que ligeiramente desorganizada. É um filme que, apesar de suas imperfeições, merece ser visto e discutido, e certamente ficará gravado na memória do público por sua ousadia e originalidade.




