Heróis da Galáxia: Ratchet e Clank

Ratchet & Clank: Uma Aventura Espacial que Decola (ou Não?)

Nove anos se passaram desde que Ratchet e Clank chegaram aos cinemas em 2016, e, olhando para trás, sinto uma certa nostalgia por essa animação que, apesar de suas falhas, me conquistou de um jeito peculiar. O filme, baseado na popular franquia de games do PlayStation, apresenta Ratchet, um jovem lombax mecânico sonhador, e Clank, um robô com um coração de ouro (literalmente, no caso dele). Juntos, eles embarcam em uma aventura para impedir o megalomaníaco Drek de destruir planetas e criar um novo lar para si. Simples, funcional, mas sem a complexidade que os jogos da série demonstram.

A direção de Jericca Cleland e Kevin Munroe é eficiente em criar uma estética vibrante e colorida, que captura a essência do universo dos games. A animação, embora não seja revolucionária para os padrões atuais (lembremos que estamos em 2025), é competente e serve bem à história. Entretanto, a narrativa, escrita por T.J. Fixman, Kevin Munroe e Gerry Swallow, é onde o filme peca. A trama é previsível, carecendo da profundidade e da complexidade narrativa que fãs da série esperariam. A redução do universo rico e detalhado dos jogos para um roteiro de filme infantil acaba simplificando demais as motivações dos personagens e a riqueza da trama original, perdendo boa parte do que tornava a experiência única.

As atuações de voz, lideradas por James Arnold Taylor (Ratchet) e David Kaye (Clank), são, no geral, boas. A dupla traz uma química convincente que consegue dar vida aos personagens com sua energia. Paul Giamatti como Drek e Jim Ward como o Capitão Qwark, por sua vez, se destacam ao dar um tom divertido e caricato aos vilões. Armin Shimerman, com sua experiência em atuações, entrega um Dr. Nefarious ameaçador e interessante, mesmo com seu tempo de tela limitado. No entanto, ainda assim, a atuação não consegue salvar a falta de profundidade do roteiro.

O grande trunfo do longa-metragem reside na sua capacidade de entreter o público infantil. A ação é frenética, os personagens são carismáticos, e o humor, embora muitas vezes bobo, é eficaz em arrancar risos. Mas o filme não se aventura em explorar temas mais complexos, ficando na zona de conforto de uma aventura espacial leve e familiar. Para os fãs da franquia de jogos, a sensação pode ser de decepção, ao ver que a vasta mitologia e os personagens secundários tão queridos foram quase totalmente deixados de lado, sacrificando profundidade por uma narrativa mais simplificada.

Outro aspecto que considero pertinente é a participação de uma mulher na direção, Jericca Cleland, em um ramo ainda dominado pelos homens. Embora não tenha sido o principal foco da produção, é algo que, olhando em retrospecto em 2025, vale ser mencionado como um pequeno passo positivo na indústria.

Em suma, Ratchet & Clank é um filme divertido e inofensivo, ideal para uma tarde em família. No entanto, falta a ele a complexidade e a profundidade que os jogos originais oferecem. A simplificação excessiva da história pode decepcionar os fãs mais assíduos, enquanto outros espectadores podem achar o filme um tanto genérico. Recomendo-o, portanto, para crianças e para aqueles que buscam uma diversão leve e despretensiosa, mas para os aficionados da saga, a experiência pode não ser tão satisfatória. Aquele gostinho de “poderia ter sido melhor” paira sobre a aventura do simpático Lombax e seu amigo robô, apesar dos momentos de brilho e do carisma dos personagens centrais. A recepção mista, inclusive, na época do lançamento, corroborou essa minha percepção. No fim das contas, fica a lembrança de uma aventura espacial agradável, mas que poderia ter se lançado a voos muito mais altos.