Três anos. Três anos se passaram desde que HollyBlood fez sua estreia silenciosa em 2022, e aqui estou eu, revirando na memória as sensações de uma comédia romântica adolescente que, de alguma forma, conseguiu fincar suas presas – ou melhor, suas charmosas imperfeições – na minha mente. Sabe aquele filme que você assiste sem muitas expectativas, talvez numa tarde chuvosa ou em busca de algo leve, e que, de repente, te entrega mais do que prometeu? Pois é, HollyBlood foi um pouco isso para mim. É por isso que sinto a necessidade de revisitar essa pequena joia, uma ode à estranheza da adolescência e ao poder, por vezes cômico, do amor.
A gente cresce ouvindo que a escola é o palco dos nossos primeiros grandes dramas, né? Das paixões platônicas aos micos inesquecíveis. E HollyBlood mergulha de cabeça nesse universo. Temos Javi (interpretado por um Óscar Casas que transborda uma timidez quase palpável), um típico garoto do ensino médio: desajeitado, de poucas palavras, com a cabeça mais nas nuvens do que nos livros. O problema dele? O de sempre: como chamar a atenção da garota dos seus sonhos. Mas Sara (a Isa Montalbán, com uma intensidade adorável) não é uma garota qualquer. Ela é uma nerd assumida, daquelas que respira e exala uma saga literária sobre vampiros, e não qualquer vampiro, mas aqueles vampiros, cheios de drama, romance e, claro, um quê de perigo gótico.
A sacada aqui, e o que me fisgou logo de cara, é a forma como o roteiro de José Pérez Quintero brinca com a ideia do `film in film` e a obsessão de Sara. A saga vampiresca não é apenas um pano de fundo; ela se torna o espelho distorcido através do qual Javi tenta se transformar. Ele não vai para a academia, nem compra roupas novas. Ele se propõe a ser o vampiro que Sara tanto admira nos livros. E, ah, a comédia que isso gera! Ver Javi tentando imitar o olhar sombrio, os movimentos calculados, enquanto tropeça nos próprios pés é hilário. É o tipo de desespero juvenil que a gente entende, que a gente talvez até já tenha vivido – essa ânsia de ser algo que não somos para caber no mundo de alguém que amamos. Quem nunca tentou mudar um pouquinho, mesmo que só para agradar?
Mas o filme não para por aí. As `palavras-chave` que me vêm à cabeça – `high school`, `vampire`, `boy girl relationship` – são apenas a superfície. Há algo mais profundo, e por vezes agridoce, se espreitando. A figura de Diego (Carlos Suárez), o “rival” ou talvez apenas o garoto mais confiante da escola, adiciona uma camada interessante à dinâmica do `school bullying`. Não é apenas sobre Javi ser tímido, é sobre como essa timidez o torna um alvo, e como ele tenta, a seu modo desastrado, se proteger.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Jesús Font |
Roteirista | José Pérez Quintero |
Produtores | Miguel González Familiar, Beatriz Bodegas, Rafa Molés |
Elenco Principal | Óscar Casas, Isa Montalbán, Carlos Suárez, Ferrán Gadea, Lara Boedo |
Gênero | Comédia, Fantasia, Romance |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | La Canica Films, Quexito Films, Suica Films, TVE |
E tem a relação com o pai. Ah, a `father son relationship` aqui é um achado. Ferrán Gadea, como o Padre Ángel (sim, um padre!), não é o estereótipo do pai ausente ou superprotetor. Ele é, de certa forma, o oposto de Javi – ou talvez o que Javi poderia se tornar se relaxasse um pouco. As interações entre eles, cheias de um humor seco e um carinho sutil, são momentos de respiro no caos adolescente. A gente vê o pai tentando guiar o filho por um caminho que ele mesmo, talvez, não compreenda totalmente, mas com a melhor das intenções. É uma dinâmica familiar que traz um equilíbrio, uma ancoragem na realidade, enquanto Javi flutua em suas fantasias vampíricas.
Jesus Font, na direção, consegue um equilíbrio delicado entre a comédia escrachada e o romance doce. Ele não tem medo de deixar Javi ser patético, mas nunca o ridiculariza a ponto de perder a nossa empatia. Há uma sensibilidade em como ele filma os olhares entre Javi e Sara, as hesitações, os pequenos gestos que falam mais do que mil palavras. A fotografia, os cenários do ensino médio, tudo contribui para nos transportar de volta àquele tempo de corredores barulhentos, cadernos cheios de rabiscos e corações palpitantes.
Será que HollyBlood é uma obra-prima que vai mudar o cinema para sempre? Não, não é essa a sua ambição, e nem a minha expectativa. Mas é um filme que cumpre o que promete e vai além, com um charme inegável. É uma história sobre encontrar sua própria voz, mesmo que essa voz comece com um sotaque vampírico forçado. É sobre a coragem de ser vulnerável, de mergulhar na fantasia para (re)descobrir a realidade, e de aprender que o amor, o amor de verdade, não precisa de presas ou capas esvoaçantes, mas sim de autenticidade e um toque de comédia para adoçar a vida.
Quando penso em HollyBlood hoje, em 2025, o que fica não são os clichês vampirescos, mas a humanidade dos seus personagens. A maneira como Javi e Sara, cada um à sua maneira, tentam navegar o turbilhão da adolescência, buscando conexão e compreensão. É um lembrete divertido de que o amor, mesmo o mais desajeitado, tem um poder transformador, e que, às vezes, a melhor forma de se encontrar é se perder um pouco na fantasia. E, para mim, isso já é mais do que suficiente.