Huesera: The Bone Woman

Ah, ‘Huesera: A Mulher Quebrada’. Se há um filme que, nos últimos anos, me fez pensar, sentir e, francamente, me contorcer na cadeira de maneiras que eu não esperava, é este. Desde 2023, quando Michelle Garza Cervera nos presenteou com essa pérola, meu cérebro de crítico – e, mais importante, meu coração de espectador – tem revisitado suas imagens e dilemas com uma frequência surpreendente. Sabe por quê? Porque não é apenas um filme de terror; é um grito, um sussurro assustador e um espelho para medos que muitos de nós, especialmente as mulheres, carregamos em silêncio.

Para mim, escrever sobre ‘Huesera’ não é apenas uma tarefa, é uma necessidade. É como se a narrativa de Valéria, tão intrinsecamente ligada à sua gravidez e ao terror que a acompanha, ressoasse com algo primal, algo que transcende a tela. Você já se sentiu dividido entre quem você era e quem a sociedade esperava que você fosse? Já sentiu o peso das expectativas, especialmente aquelas que se transformam em um monstro palpável? Pois bem, “Huesera” pega essa sensação e a transforma em carne e osso… ou melhor, em ossos estalando e rangendo.

A Canção Siniestra da Maternidade e do Medo

A história de Valéria, interpretada com uma fragilidade perturbadora por Natalia Solián, começa num ponto da vida em que muitas mulheres se veem: a descoberta da gravidez. Mas aqui, a alegria inicial é rapidamente corroída por uma entidade sinistra. Não é o típico fantasma que te assusta com sustos baratos. Não, o horror de ‘Huesera’ é visceral, é a invasão de um ser que se manifesta nos pequenos ruídos, nos movimentos inquietantes, na sensação de que algo dentro e fora de você está te desmantelando.

Atributo Detalhe
Diretora Michelle Garza Cervera
Roteiristas Michelle Garza Cervera, Abia Castillo
Produtores Paulina Villavicencio, Edher Campos
Elenco Principal Natalia Solián, Alfonso Dosal, Mayra Batalla, Mercedes Hernández, Sonia Couoh
Gênero Terror, Mistério, Drama
Ano de Lançamento 2023
Produtoras Disruptiva Films, Machete Producciones, Maligno Gorehouse, Terminal, Eficine, Fondo para la Producción Cinematográfica de Calidad, Instituto Mexicano de Cinematografía

Imagine, por um instante, sentir seu próprio corpo se virar contra você. Ver a vida que você está criando se tornar um chamariz para algo maligno, algo que se alimenta da sua ansiedade, da sua dúvida, da sua culpa. As mãos de Valéria não tremem apenas de frio, mas de um terror profundo que se enraíza nos seus ossos. Ela tenta se adaptar ao papel de futura mãe, mas a sombra de seu passado punk, de sua liberdade despreocupada, paira sobre ela como um espectro, quase tanto quanto a entidade que a persegue.

Michelle Garza Cervera e Abia Castillo, na sua brilhante coautoria do roteiro, não se contentam em nos dar um filme de horror superficial. Eles mergulham fundo na psique feminina, na transição muitas vezes turbulenta para a maternidade. Valeria é dilacerada entre o que se espera dela – a imagem da mãe perfeita e abnegada – e a mulher que ela realmente é, com suas tatuagens, sua rebeldia interior e sua história. Essa dicotomia é o verdadeiro motor do drama e a fundação do terror. O que é mais assustador: o monstro que te persegue ou o medo de perder a si mesma?

Um Eco de Ossos e Identidade Quebrada

O filme nos leva a um submundo de bruxas urbanas, um refúgio para Valéria. É aí que encontramos Octavia (Mayra Batalla) e Isabel (Mercedes Hernández), figuras que representam um caminho alternativo, uma ressonância com a Valéria “antiga”. Elas não oferecem soluções fáceis, mas um caminho para a autodescoberta e a confrontação. A jornada de Valéria para enfrentar La Huesera não é apenas sobre exorcizar um demônio, é sobre rearticular sua própria identidade, sobre encontrar a força para se reconstruir osso por osso.

A direção de Garza Cervera é um espetáculo à parte. Como uma mulher diretora abordando um tema tão intrinsecamente feminino, ela traz uma sensibilidade e uma compreensão que são palpáveis. Não há aqui um olhar distante ou simplificado; há uma imersão na experiência. A câmera se demora nos detalhes – as mãos de Valéria se apertando, o olhar perdido de Raúl (Alfonso Dosal), a tensão em seus ombros. Ela nos mostra, não apenas nos conta, o peso da situação. Os sons de estalos e rangidos se infiltram sob a pele, evocando a sensação de que algo está se quebrando, lenta e dolorosamente.

E esse é o brilho de ‘Huesera’. Não se trata apenas de sustos – embora haja momentos de arrepio genuíno. É o horror da despersonalização, da perda de controle sobre o próprio corpo e mente. É a metáfora de um sistema que, por vezes, nos quebra em pedaços e nos exige que nos remontemos de uma forma que não nos reconhecemos. Valéria, com sua coragem relutante, se torna um avatar para todos nós que já nos sentimos desarticulados.

Ao final, ‘Huesera: A Mulher Quebrada’ não é um filme que se esquece facilmente. Ele ressoa, ecoando em nossos próprios ossos, nos lembrando da fragilidade da identidade, da complexidade da maternidade e da força que reside em nós para enfrentar nossos próprios demônios, sejam eles sobrenaturais ou as expectativas impostas pelo mundo. É um filme que me fez questionar, refletir e, sim, dormir com as luzes acesas algumas noites. E, para mim, isso é a marca de uma obra de arte verdadeiramente impactante. Um brinde à Michelle Garza Cervera e sua equipe por nos darem algo tão belamente aterrorizante e profundamente humano.

Trailer

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