Olha, eu sempre tive uma relação meio… complicada com as comédias românticas. Sabe aquela sensação de já ter visto tudo, de prever cada virada de roteiro antes mesmo do trailer acabar? É um fardo, eu te digo. Mas, de vez em quando, surge um filme que te puxa de volta para o jogo, que te faz acreditar de novo que o amor e o riso podem, sim, dançar juntos na tela sem tropeçar nos próprios clichês. E foi exatamente isso que In the Sub for Love fez comigo. Chegou discreto, lançado em 2024, e agora, um ano depois, ainda ressoa na minha cabeça com a doçura de uma canção de amor despretensiosa e o timing cômico de um bom amigo.
A primeira coisa que me fisgou, pra ser bem sincero, foi o título. In the Sub for Love. Me fez pensar imediatamente: “Substituto para o amor? O que raios isso significa?”. É um convite à especulação, um pequeno mistério embrulhado em celofane de comédia. E Lucas Bernard, o diretor e roteirista, brinca com essa ambiguidade de um jeito que você nem percebe. O filme é um banho de delicadeza e humor que se desenrola com a naturalidade de um primeiro encontro desajeitado, onde cada sorriso e cada tropeço acabam construindo algo real. Não temos aqui a sinopse mastigada, e talvez essa seja a beleza: o filme se revela aos poucos, como um segredo sussurrado entre amigos.
Marco, interpretado com uma vulnerabilidade encantadora por Pio Marmaï, é o tipo de personagem que a gente encontra por aí, meio perdido, meio tentando se encontrar, mas com um coração que bate na manga. Pio tem essa capacidade de transitar entre a comédia física e a emoção mais crua com uma facilidade que é quase injusta. Você ri com ele, e não dele, e isso faz toda a diferença. Lembro de uma cena – ou melhor, de uma série de micro-expressões – onde Marco está tentando impressionar Marianne (Eye Haïdara), e o desespero e a genuinidade em seu olhar são tão palpáveis que quase senti o cheiro de café derramado e a vergonha alheia no ar.
E falando em Eye Haïdara, Marianne é um raio de sol com ares de tempestade. Ela é inteligente, complexa, e não é a mocinha que espera ser salva. Eye traz uma força silenciosa e uma inteligência sagaz para a personagem que a impede de cair no estereótipo da “mulher dos sonhos”. A química entre ela e Pio é daquelas que você quase pode sentir o ar crepitar. Não é um amor à primeira vista explosivo, mas sim algo que se constrói, tijolo por tijolo, piada por piada, olhar por olhar. É como ver duas partículas se atraindo, irresistivelmente, mesmo que a física diga o contrário, ou como um dueto de jazz onde cada um sabe improvisar sem pisar no pé do outro, criando uma melodia que é só deles.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Lucas Bernard |
Roteirista | Lucas Bernard |
Produtores | Guillaume Colboc, Sidonie Dumas, Florian Mole |
Elenco Principal | Pio Marmaï, Eye Haïdara, José Garcia, Victor Pontecorvo, Frédéric Maranber |
Gênero | Comédia, Romance |
Ano de Lançamento | 2024 |
Produtoras | Gaumont, Les grands espaces, uMedia, France 2 Cinéma |
José Garcia, no papel de Benazech, é o contraponto perfeito. Com sua presença cênica inconfundível, ele consegue ser ao mesmo tempo o alívio cômico e a pedra no sapato, adicionando camadas de humor e, por vezes, um toque de humanidade inesperada. Fred (Victor Pontecorvo) e Gueguen (Frédéric Maranber) completam o elenco de apoio com performances que, embora menores, são cruciais para a tapeçaria da história, cada um trazendo sua própria dose de excentricidade e charme.
Lucas Bernard, sendo o cérebro por trás do roteiro e da direção, demonstra um domínio admirável do gênero. As piadas escorregam pela tela com a leveza de um malabarista experiente, jogando bolas no ar sem nunca deixar uma cair. Não são risadas forçadas, daquelas que te fazem sentir que deveria rir, mas sim umas gargalhadas que brotam do estômago, como quando um segredo bobo finalmente escapa e todo mundo desabafa junto. O ritmo é orgânico, alternando momentos de pura comédia com instantes de uma doçura quase melancólica, sem nunca perder o fio da meada.
E o que dizer da produção? Gaumont, Les grands espaces, uMedia, France 2 Cinéma… a gente sente o cuidado. Não é um filme que grita ostentação, mas sim um que respira autenticidade. Os cenários são familiares, as luzes são aconchegantes, e tudo contribui para criar um universo onde você se sente bem-vindo. É o tipo de filme que te faz pensar que a vida real, apesar de todos os seus perrengues, pode ser um tanto quanto charmosa, não é?
In the Sub for Love é um respiro. É a prova de que ainda há espaço para a originalidade dentro de um gênero tão saturado. Não é sobre reinventar a roda, mas sobre girá-la com um carinho e uma precisão que fazem toda a diferença. É um filme que te faz rir, sim, mas também te faz pensar sobre as pequenas substituições que fazemos na vida, os caminhos inesperados que o amor encontra, e a beleza de se deixar levar. Se você, como eu, estava quase desistindo de comédias românticas, dê uma chance a este. Garanto que ele vai te lembrar porque, afinal, a gente insiste em filmes que nos fazem acreditar no amor. E, talvez, em substitutos inesperados para ele.