Influencer de Mentira

Sabe, tem filmes que a gente assiste e eles grudam na mente, não por serem revolucionários ou perfeitos, mas porque cutucam uma ferida aberta na nossa sociedade. Influencer de Mentira, ou ‘Not Okay’ no original, que chegou por aqui em 2022, é um desses filmes que, mesmo passados alguns anos – estamos em outubro de 2025, afinal –, ainda ecoa com uma potência quase assustadora. É por isso que sinto uma urgência em revisitá-lo, em desempacotar o que ele nos diz sobre a busca incessante por validação na era digital.

Eu me lembro de ter saído da sala de cinema (ou da frente da TV, para ser sincero) com um misto de desconforto e uma estranha admiração. Desconforto porque ele nos joga na cara a nossa própria cumplicidade com o circo das redes sociais. Admiração pela coragem de Quinn Shephard, a diretora e roteirista, em não adoçar a pílula, em nos mostrar o lado mais feio da ambição e da falsidade, tudo isso embalado numa sátira que de tão cringey, chega a ser dolorosa.

A trama central é simples e, ao mesmo tempo, um labirinto moral. Danni Sanders (Zoey Deutch), uma jovem que se sente invisível em Nova York, anseia desesperadamente por um lugar ao sol. E quando digo desesperadamente, é com a ponta dos dedos coçando para ver as notificações saltarem na tela, sabe? Ela não quer ser apenas mais uma. Ela quer ser alguém. E, para isso, inventa uma mentira colossal: finge ter sobrevivido a um ataque terrorista em Paris, postando fotos editadas e criando uma narrativa de trauma para lá de falsa.

O que se segue é uma ascensão meteórica no mundo digital, um frenesi de atenção, seguidores e a doce, porém venenosa, sensação de pertencimento que Danni tanto almejava. Zoey Deutch entrega uma Danni que é ao mesmo tempo patética e, de certa forma, compreensível em sua vulnerabilidade inicial. Seus olhos, que antes expressavam um vazio existencial, agora brilham com a luz fria da tela do celular, sedentos por mais um like, mais um comentário. Ela é a personificação daquela amiga que você vê fazendo de tudo por atenção, e você ri, mas no fundo, uma parte de você se questiona se já não fez algo parecido.

Atributo Detalhe
Diretora Quinn Shephard
Roteirista Quinn Shephard
Produtores Brad Weston, Caroline Jaczko
Elenco Principal Zoey Deutch, Mia Isaac, Dylan O'Brien, Nadia Alexander, Tia Dionne Hodge
Gênero Comédia, Drama
Ano de Lançamento 2022
Produtoras Makeready, Searchlight Pictures

Mas, como todo castelo de areia, a fantasia de Danni começa a desmoronar. A genialidade do filme reside em como ele explora não apenas a fabricação da fama, mas também o preço terrível que ela cobra. E não estamos falando só da inevitável queda, da cultura do cancelamento que espera apenas um deslize para devorar suas vítimas. Estamos falando do custo humano, da desintegração da alma.

O contraponto perfeito para a superficialidade de Danni é Rowan, interpretada brilhantemente por Mia Isaac. Rowan é uma verdadeira sobrevivente, uma ativista forjada na dor e na injustiça. A dinâmica entre as duas é o coração pulsante do filme. Enquanto Danni vive na superfície do digital, Rowan existe na profundidade da experiência real. Mia Isaac traz uma intensidade tão palpável, uma raiva tão justificável, que cada cena com ela é um soco no estômago, um lembrete do que é real e do que é fabricado. É através dela que o filme ganha uma dimensão dramática crucial, saindo da comédia de constrangimento para nos fazer sentir o peso das mentiras.

E como não falar de Dylan O’Brien como Colin? Uau. Ele é o arquétipo do “influencer de nicotina e testosterona”, aquele cara que Danni idolatra e que a leva ainda mais para o abismo da superficialidade. Colin é um show de horror narcisista, um personagem que, apesar de ser um coadjuvante, deixa uma marca indelével sobre o vazio da cultura de celebridades online. O’Brien o interpreta com uma dedicação tão grande que ele se torna genuinamente repulsivo, mas de um jeito que você não consegue desviar o olhar.

Quinn Shephard, como mulher e diretora, traz uma perspectiva afiada e sem rodeios para este universo. Ela não apenas critica, ela dissecou a anatomia da fama instantânea e da hipocrisia digital. O filme tem um ritmo que flui entre o hilário e o angustiante, com piadas que te fazem rir e, no segundo seguinte, se encolher de vergonha pela humanidade. Não há vilões unidimensionais, nem mocinhos perfeitos. Há apenas pessoas, falhas e desesperadas, num cenário onde a tela é o palco e o público, muitas vezes, é tão superficial quanto o artista.

Influencer de Mentira não é só um filme sobre uma garota que mente. É um espelho. É uma conversa desconfortável sobre o nosso próprio desejo de ser vistos, de ser validados, de pertencer a algo – mesmo que esse algo seja um grupo de desconhecidos no outro lado da internet. Três anos depois, a mensagem continua relevante: antes de clicar em “publicar”, de curtir uma foto aparentemente perfeita ou de compartilhar uma história chocante, talvez valha a pena fazer uma pausa. Respirar. E se perguntar: o que é real aqui? E qual é o verdadeiro preço de tanta exposição? Porque, como Danni descobriu da pior forma possível, às vezes, o que você mais deseja pode ser a sua própria ruína. E isso, meu caro leitor, é algo que a gente não esquece tão cedo.

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