Você sabe, tem filmes que a gente assiste e eles simplesmente grudam na gente. Não apenas pela história, mas pela forma como cutucam lá no fundo, naquelas perguntas incômodas sobre o que significa ser humano quando tudo desmorona. E, honestamente, em um mundo onde filmes de zumbis pipocam a cada Halloween – e já estamos quase lá em 2025, né? – é raro encontrar um que realmente se destaque. Mas permita-me dizer, meu caro leitor, que Invasão Zumbi (ou “Train to Busan”, como é conhecido lá fora), dirigido pelo mestre Yeon Sang-ho, não é só mais um filme de mortos-vivos. É uma pancada.
Lembro-me bem da primeira vez que o vi, lá em 2016, quando chegou por aqui no fim de dezembro. Eu já tinha visto minha cota de filmes de zumbis, alguns bons, muitos esquecíveis. Aquele clima de “survival horror” já era batido, mas a premissa de Invasão Zumbi me chamou a atenção: um trem-bala, repleto de desconhecidos, correndo contra o tempo para a única cidade supostamente segura na Coreia do Sul, Busan, enquanto uma pandemia ghoulish se espalha por todo o país. Parecia simples, quase um clichê de “correr ou morrer”. Mas ah, como o filme subverteu minhas expectativas!
A beleza, e o terror, de Invasão Zumbi não está apenas nos zumbis velozes e vorazes – que, por sinal, são um espetáculo à parte, com movimentos que parecem convulsões elétricas de pura crueldade e fome. O que realmente me pegou foi a forma como ele dissecou a humanidade sob extrema pressão. No centro da trama, temos Seok-woo, interpretado com uma nuance fantástica por Gong Yoo. Ele é um homem de negócios, divorciado, focado em si mesmo e em sua filha, Soo-ahn (a pequena e impressionante Kim Su-an), que só quer ver a mãe em Busan. No início, você o vê tentando proteger apenas a si e a Soo-ahn, empurrando os outros para longe, fechando os olhos para a desgraça alheia. É um retrato de um egoísmo frio, quase palpável.
Mas o trem-bala se torna um palco. Um palco apertado, claustrofóbico, para a verdadeira natureza das pessoas. E aqui, o roteiro de Park Joo-suk brilha ao mostrar, não contar. Você vê o Seok-woo endurecido começando a se importar, não por imposição, mas pela inocência e bondade persistente de sua filha, e pelo contraponto vibrante de Sang-hwa, um tipo durão, mas de coração gigante, brilhantemente interpretado por Ma Dong-seok. Sang-hwa, ao lado de sua esposa grávida, Sung-gyeong (Jung Yu-mi, que transmite uma calma serena em meio ao caos), é a personificação da altruísmo. Ele se recusa a abandonar qualquer um. As suas mãos não tremiam de medo, mas de força e determinação para manter a todos a salvo, mesmo que custasse tudo.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | 연상호 |
| Roteirista | Park Joo-suk |
| Produtor | Kim Yeon-ho |
| Elenco Principal | Gong Yoo, 김수안, 정유미, 마동석, Woo-sik Choi |
| Gênero | Terror, Thriller, Ação, Aventura |
| Ano de Lançamento | 2016 |
| Produtoras | Next Entertainment World, RedPeter Films, Contents Panda, Union Investment Partners, KTB Network |
E é aí que o filme, sob a batuta precisa de Yeon Sang-ho, se eleva de um simples “terror” para um “thriller” de ação e aventura com um profundo coração dramático. Não é só sobre fugir dos zumbis. É sobre quem você se torna no processo. Quem você decide salvar. Quem você sacrifica. Os corredores estreitos do trem, a constante tensão de não saber quem está infectado ou quem cederá ao pânico, transformam cada vagão em um campo de batalha moral. O som dos dentes estalando, os corpos se contorcendo e a velocidade implacável do trem criam uma sensação de desesperança e urgência que raramente vi igual.
A produção, com Next Entertainment World e RedPeter Films à frente, merece todos os elogios. A coreografia das hordas zumbis é algo de outro mundo – uma massa contorcida e implacável que surge como um tsunami biológico. E o elenco? Ah, o elenco! Gong Yoo e Kim Su-an têm uma química pai-filha que é o verdadeiro motor emocional do filme. A cada vez que ele falha em ser o pai ideal e ela o repreende com uma pureza desarmante, a gente sente o peso da expectativa, da falha, do amor. E a contribuição de personagens como o jovem Yeong-gook (Woo-sik Choi), que representa a lealdade e a esperança juvenil, adiciona camadas a esse mosaico de humanidade.
Invasão Zumbi não é apenas um filme sobre zumbis. É uma alegoria crua sobre a sociedade, sobre a frieza do capitalismo versus a resiliência do espírito humano. É sobre como, diante de uma pandemia, o verdadeiro horror muitas vezes reside na forma como nós reagimos uns aos outros, e não apenas nas criaturas famintas. Nove anos se passaram desde seu lançamento, e o filme continua tão potente e relevante quanto antes. É um lembrete contundente e emocionante de que, mesmo em meio ao caos mais absoluto, a bondade ainda pode encontrar um vagão para embarcar. E, acredite, quando os créditos sobem, você não estará apenas aliviado que os zumbis se foram. Você estará se perguntando o que você faria. E essa, meu amigo, é a marca de um grande filme.




