Sabe, há filmes que a gente assiste e, por algum motivo que nem sempre conseguimos articular, eles se instalam num cantinho da nossa memória. Não me refiro aos blockbusters que nos bombardeiam com marketing e expectativas estratosféricas, mas àqueles que, muitas vezes, chegam discretamente, vindos diretamente para o mercado de vídeo – um nicho que, para mim, sempre guardou surpresas. E é nesse espírito de revisitar o passado com uma lupa no presente que eu me pego pensando em Jogo de Morte, lançado lá em 2011, e agora, em 2025, parece um pequeno artefato de uma era que, embora recente, já se transformou bastante.
Por que revisitar um filme assim? É simples: a vida, assim como o cinema, é feita de camadas. E em uma época em que a figura de Wesley Snipes, o Agente Marcus neste thriller, já estava numa fase mais madura de sua carreira, e o gênero de ação passava por suas próprias metamorfoses, mergulhar em Jogo de Morte não é apenas assistir a um filme, é entender um momento. É ver como as engrenagens da indústria giravam, como os talentos se adaptavam. E para um fã do cinema de ação como eu, é quase um estudo antropológico.
A premissa, você vai ver, é clássica. Marcus, um agente da CIA que, vamos combinar, carrega o peso do mundo nos ombros (e Snipes consegue transmitir isso com um olhar cansado, mas ainda letal), é enviado para a fria Detroit, Michigan. A missão? Contratar um traficante de armas e desmantelar a rede de financiamento que o sustenta, liderada por um chefe de fundo de hedge. Parece direto, não é? Pois bem, a ironia dramática é que o perigo maior não vem de quem se espera. Quando seu próprio backup da CIA decide virar o jogo, a caçada se inverte e o caçador se torna a presa. E aqui, meus amigos, é onde a adrenalina, às vezes, te pega desprevenido.
A narrativa nos joga em um inferno pessoal e confinado: primeiro, um hospital, onde cada corredor e cada porta se tornam potenciais armadilhas; depois, o cofre de segurança máxima do fundo de hedge. É uma coreografia claustrofóbica de luta pela sobrevivência, onde a engenhosidade e a resiliência são as únicas moedas de troca. Giorgio Serafini, o diretor, não reinventa a roda, mas ele entende o valor de um bom cenário para um jogo de gato e rato. Os roteiristas, Jim Agnew e Megan Brown, focam na simplicidade brutal da traição e da retaliação, e, para este tipo de filme, essa abordagem “sem frescuras” é frequentemente mais eficaz do que reviravoltas mirabolantes.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Giorgio Serafini |
Roteiristas | Jim Agnew, Megan Brown |
Produtores | Billy Dietrich, Philippe Martinez, Rafael Primorac |
Elenco Principal | Wesley Snipes, Gary Daniels, Robert Davi, Zoë Bell, Aunjanue Ellis-Taylor |
Gênero | Aventura, Ação, Thriller |
Ano de Lançamento | 2011 |
Produtoras | Philippe Martinez Productions, Perpetual Media Capital, Arramis Films, Alchemedia Films, Voltage Pictures |
O elenco, ah, o elenco. Wesley Snipes, como Marcus, traz aquela presença magnética que o tornou um ícone. Ele não precisa de muitas palavras; seus movimentos, seu físico ainda impressionante, mesmo que mais pesado, e a maneira como ele ocupa o espaço, tudo fala por si. É o tipo de ator que, com um simples levantar de sobrancelha, consegue comunicar uma camada de exaustão e determinação. Ao seu lado, temos Gary Daniels como Zander, um rosto conhecido do cinema de ação, cuja fisicalidade complementa Snipes, oferecendo embates críveis. Robert Davi, como Smith, empresta sua habitual gravidade e um toque de ameaça sutil. Mas um dos pontos que me chamou a atenção ao revisitar foi a presença de Zoë Bell, interpretando Floria. Ela, uma lendária dublê que se aventurou na atuação, traz uma autenticidade às cenas de combate que poucos conseguem, uma agilidade e uma ferocidade que são um deleite para quem aprecia uma boa briga coreografada. E Aunjanue Ellis-Taylor como Rachel, mesmo que com um papel que talvez não explore toda a sua profundidade usual, ainda adiciona um contraponto humano ao caos.
O que me pega nesse tipo de filme, e em Jogo de Morte em particular, é a honestidade da sua proposta. Ele não promete ser um épico filosófico, nem tenta disfarçar suas raízes na ação direta ao vídeo. É um filme sobre um homem contra o mundo, com algumas reviravoltas previsíveis, sim, mas executadas com uma competência que muitas vezes é subestimada. A produção, com nomes como Philippe Martinez Productions e Voltage Pictures por trás, sabia o que estava fazendo: entregar um produto de gênero que satisfizesse a sede por explosões, lutas e perseguições. Não é a “tapeçaria de emoções” que tantos prometem, mas uma eficiente “corrida de obstáculos” para a sobrevivência, onde cada soco e cada tiro tem uma consequência.
Detroit, com seu cenário urbano e por vezes melancólico, serve como um pano de fundo interessante. Não é um cartão-postal, mas um lugar real, com suas sombras e suas luzes, adicionando um toque de crueza à narrativa. Você quase pode sentir o frio de Michigan, o cheiro de metal e desespero nos corredores do hospital, o eco dos tiros no cofre. São esses detalhes sensoriais, mesmo que sutis, que nos transportam para dentro da história, nos fazendo sentir um pouco da claustrofobia e do desespero de Marcus.
Então, sim, em 2025, uma década e meia depois de seu lançamento, Jogo de Morte pode não ser o filme que você coloca em todas as listas de “melhores de todos os tempos”. Mas ele é um exemplar fiel de seu gênero, de sua era, e da resiliência de um ator como Wesley Snipes. É uma lembrança de que, mesmo nas produções mais contidas, há um esforço, uma paixão e um talento que merecem ser notados. E, para mim, isso já é motivo suficiente para ligar a tela e deixar a aventura me levar, mais uma vez, pelos corredores da sobrevivência. Afinal, a humanidade do cinema está justamente nessa capacidade de nos conectar, seja através de grandes dramas ou de intensas sequências de ação.