Jogos Letais

Jogos Letais: Uma Dança Mortal de Talentos Desperdiçados

Quatorze anos depois de sua estreia em 2011, revisitar Jogos Letais é como encontrar uma velha caixa de brinquedos na garagem: há alguns tesouros brilhantes, mas também muita poeira acumulada. O filme, que une Jean-Claude Van Damme e Scott Adkins, dois pesos pesados das artes marciais, prometia uma explosão de ação brutal e visceral. E, em partes, cumpre. Mas a promessa de um clássico cult se perde em um roteiro previsível e personagens pouco desenvolvidos.

A história gira em torno de dois assassinos de elite, desconhecidos um do outro, que se unem para derrubar um poderoso chefe de cartel de drogas, um inimigo também visado pela DEA. Van Damme interpreta Vincent Brazil, um mestre em combate corpo a corpo e manejo de facas, enquanto Adkins encarna Roland Flint, um atirador de elite implacável. A sinopse é simples, direta, mas suficiente para prever uma avalanche de pancadaria. E há pancadaria, sim! Só que, infelizmente, a violência física, mesmo com a maestria dos atores, não sustenta o filme por completo.

A direção de Ernie Barbarash, embora competente na execução das cenas de ação, não consegue elevar o material além de um nível mediano. As coreografias de luta são, de fato, impressionantes. Van Damme, mesmo em 2011, demonstrava ainda a sua destreza, enquanto Adkins, com seu estilo de luta preciso e brutal, se apresenta como uma força da natureza. Mas a narrativa se arrasta em momentos-chave, deixando o espectador à mercê de diálogos cansativos e previsíveis. O roteiro de Aaron Rahsaan Thomas carece de profundidade, os personagens são caricaturas rasas e a trama, francamente, sofre de falta de originalidade.

A atuação de Ivan Kaye como o vilão Polo Yakur é um destaque, imprimindo uma ameaça palpável e convincente ao filme. Já Kevin Chapman e Marija Karan, apesar do seu esforço, são subaproveitados em seus respectivos papéis. A química entre Van Damme e Adkins, ponto crucial para o sucesso do filme, é tênue, não gerando o carisma esperado para uma dupla tão poderosa. A falta de interação aprofundada entre os personagens é um dos principais fracassos do longa. A relação entre ambos se limita à necessidade de cooperação para o objetivo comum, impedindo que o público se conecte verdadeiramente com a dinâmica entre eles.

Os pontos fortes são, inegavelmente, as cenas de luta. A combinação de karate, kickboxing e knife fights de tirar o fôlego é o que justifica a entrada no streaming. Há uma criatividade perceptível nas coreografias, explorando diferentes estilos e ambientes. O uso estratégico de armas, como o silenciador e o trabalho impecável com facas, também adiciona um toque de realismo às sequências de ação. Infelizmente, essa excelência é ofuscada pela fragilidade do roteiro e pela falta de desenvolvimento dos personagens.

Jogos Letais, no fim das contas, é um filme de ação que apresenta um elenco de peso, mas que não consegue se livrar das armadilhas de um roteiro previsível e de uma narrativa superficial. A ausência de substância narrativa prejudica a experiência como um todo. A obra se apoia quase que exclusivamente em suas cenas de ação, deixando a desejar em termos de desenvolvimento de personagens e impacto emocional.

Recomendo Jogos Letais apenas para fãs incondicionais de Van Damme e Adkins, ávidos por mais uma dose de ação desenfreada. Para o espectador que busca algo além de explosões e pancadaria, existem opções bem mais interessantes nas plataformas digitais. A promessa de uma dança mortal de talentos é, infelizmente, apenas parcialmente cumprida. A obra permanece como um exemplo de potencial desperdiçado, um produto que poderia ter sido muito melhor com um roteiro mais consistente e uma direção mais ousada.