Sabe, de vez em quando, a gente esbarra com aquelas séries que a princípio parecem um desvio, uma nota de rodapé no grande livro do nosso imaginário geek, mas que, com o tempo, revelam ser muito mais do que esperávamos. Para mim, essa foi a jornada de reencontro com Jornada nas Estrelas: A Nova Missão, ou como a chamamos carinhosamente, Deep Space Nine. E sim, estou falando dela aqui em 2025, quase três décadas depois de sua estreia original em 1993, porque, olha, o tempo só fez bem a ela.
Minha história com Star Trek começou, como a de muitos da minha geração, com a USS Enterprise zarpando para o desconhecido. “A Nova Geração” era a bússola, o mapa, o próprio Éden televisivo. Então, quando surgiu a ideia de uma Star Trek numa estação espacial, a sete anos de idade, aquilo simplesmente não fazia sentido. Uma estação? A gente não ia pra lugar nenhum! A nave era o coração da aventura, certo? Era a promessa de “audaciosamente ir”. A estação parecia… parada. E é aí que mora a primeira e maior de todas as ambiguidades que essa série me ensinou a amar.
A gente tende a pintar o universo Star Trek com tons utópicos, aquele futuro brilhante onde a humanidade superou a ganância e a guerra. Mas “A Nova Missão” chegou pra balançar esse barco. Imagina só: a ocupação Cardassiana de Bajor, um povo martirizado, finalmente termina em 2369. Eles deixam para trás a Terok Nor, uma estação mineradora desmantelada, um esqueleto flutuante no espaço. E a Frota Estelar, a pedido do governo Bajorano provisório, entra em cena para supervisionar a reconstrução e rebatizá-la de Deep Space Nine. Não é uma missão de “primeiro contato” no sentido tradicional. É uma missão de cura, de diplomacia, de reconstrução. E logo, um wormhole estável surge, ligando a DS9 ao Quadrante Gama, inexplorado. De repente, a estação não é mais só um posto avançado; vira um ponto nevrálgico, um centro de comércio, viagens e, inevitavelmente, de conflitos. É um faroeste espacial, mas com mais política e menos tiroteios, se é que me entende.
E é nessa estação, nesse caldeirão de culturas e agendas, que o coração da série realmente pulsa. Esqueça o clichê de “elenco estelar”. Aqui, a gente não tem meros personagens; temos pessoas. O Comandante Benjamin Sisko, interpretado por um Avery Brooks que te prende na tela com cada olhar intenso, não é só um oficial da Frota Estelar. Ele é um viúvo, um pai solteiro, um líder que precisa equilibrar a lógica da Federação com a fé profunda e, por vezes, irracional, dos Bajoranos, que o veem como um emissário. Não tem como não sentir o peso da responsabilidade dele, a linha tênue que ele precisa caminhar entre seus deveres e as profecias.
Atributo | Detalhe |
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Criadores | Rick Berman, Gene Roddenberry, Michael Piller |
Roteiristas | Gene Roddenberry, Michael Piller, Rick Berman |
Produtores | Peter Allan Fields, Ira Steven Behr, Rick Berman, Robert Hewitt Wolfe, Michael Piller |
Elenco Principal | Avery Brooks, Nana Visitor, Colm Meaney, Michael Dorn, Alexander Siddig |
Gênero | Ficção Científica e Fantasia, Action & Adventure, Drama |
Ano de Lançamento | 1993 |
Produtoras | Paramount Television, CBS Studios |
Ao seu lado, temos a Major Kira Nerys (Nana Visitor), uma ex-guerrilheira Bajorana que traz consigo as cicatrizes de anos de resistência. Ela não é polida como um oficial da Frota. Ela é visceral, teimosa, uma leoa defendendo seu povo, e cada uma de suas decisões reflete um passado de luta e sacrifício. A química entre ela e Sisko, essa tensão respeitosa, é algo que poucas séries conseguem replicar.
E quem não ama o Chefe Miles O’Brien (Colm Meaney)? Ele é o cara que a gente encontra em qualquer trabalho, sabe? O engenheiro sobrecarregado, o pai de família que só quer paz, mas que vive se metendo nas piores enrascadas morais. O’Brien é a humanidade em seu estado mais cru, com suas falhas, seus medos, e sua resiliência inabalável. Ele não é um herói glamouroso, mas um herói cotidiano, e é exatamente por isso que a gente se importa tanto.
Depois, claro, tem a adição de Michael Dorn como Worf, que já vinha de “A Nova Geração”. Ver Worf se adaptar a uma vida sempre na estação, a essa dinâmica diferente, adicionou uma camada extra de humor e de conflito cultural que só a DS9 poderia explorar tão bem. E o Dr. Julian Bashir (Alexander Siddig)? O idealista jovem médico que, ao longo das temporadas, se transforma, revelando camadas de complexidade e segredos que o tornam um dos personagens mais fascinantes.
Os criadores, Rick Berman, Gene Roddenberry e Michael Piller, junto com a equipe de roteiristas e produtores como Ira Steven Behr e Robert Hewitt Wolfe, ousaram. Eles ousaram ir contra o dogma de Roddenberry em alguns pontos, explorando a guerra em larga escala com a Dominion War, as consequências da ocupação, o terrorismo, a fé e até mesmo a biotecnologia de formas que “Jornada nas Estrelas” nunca havia feito antes. Não é à toa que os gêneros se expandem para Ficção Científica, Fantasia, Ação e Aventura, mas é no Drama que ela realmente se destaca. É um drama que se desenrola no espaço, mas que poderia muito bem ser sobre qualquer conflito terrestre, sabe? A gente vê as mãos tremendo, a voz embargada, as decisões difíceis sendo tomadas sem uma resposta fácil ou um final feliz garantido.
“A Nova Missão” não te dá a resposta de cara. Ela te faz pensar, te provoca, te coloca em situações eticamente complexas. E isso, em 2025, ressoa ainda mais forte. Num mundo tão polarizado, onde as linhas entre o “certo” e o “errado” parecem cada vez mais borradas, ver personagens que a gente ama tendo que fazer escolhas impossíveis, quebrando regras da Federação para salvar um povo, é um lembrete de que a vida real, e um bom drama, são cheios de cinza.
Essa série foi produzida pela Paramount Television e CBS Studios, e eles permitiram que a equipe de produção, incluindo Peter Allan Fields e Ira Steven Behr, mergulhasse fundo na narrativa serializada, algo que não era tão comum assim nos anos 90 para a televisão aberta. As tramas não eram resolvidas em um único episódio. Os arcos dos personagens se estendiam por temporadas, e os eventos de um episódio tinham consequências reais nos próximos. Isso é algo que a televisão de hoje faz com maestria, mas “A Nova Missão” foi uma das pioneiras em pavimentar esse caminho.
Então, por que revisitar Jornada nas Estrelas: A Nova Missão agora? Porque ela é mais do que uma série de ficção científica. É um estudo de caráter, um comentário sobre a condição humana, sobre o que significa reconstruir, curar e sobreviver em meio ao caos. É sobre encontrar um lar onde você menos espera, e sobre a coragem de olhar para as estrelas, mesmo quando os seus pés estão firmemente plantados no chão de uma estação espacial. Ela me ensinou que, às vezes, a maior aventura não é ir para onde ninguém jamais foi, mas permanecer e lutar pelo que é certo, mesmo quando o certo não é nada fácil. E isso, meu caro, é uma lição que carrego comigo até hoje.