José e Maria: Uma Visão Pessoal, Nove Anos Depois
Lançado em 2016, José e Maria chegou às plataformas digitais como um sussurro em meio ao estrondo dos blockbusters hollywoodianos. Nove anos depois, em setembro de 2025, volto a ele não com o olhar crítico de lançamento, mas com a perspectiva do tempo, e com uma surpresa: uma apreciação mais profunda do que inicialmente imaginei. A sinopse resume bem a trama: em 30 a.C., a ameaça de Herodes e o nascimento do Messias se cruzam nas vidas de Maria e José, um casal escolhido para uma missão de proporções divinas.
A direção de Roger Christian, um veterano de Guerra nas Estrelas, é, no mínimo, peculiar. Não espere uma estética hollywoodiana pulida. Há uma certa rusticidade deliberada na fotografia, que, embora possa incomodar alguns, contribui para uma sensação de autenticidade, quase documental. A câmera se aproxima dos personagens, nos permitindo sentir a intimidade dos seus medos e esperanças. Christian utiliza a paisagem desértica com maestria, transformando-a num personagem silencioso, porém eloquente, que espelha a jornada espiritual dos protagonistas.
O roteiro, assinado por Julie Kim e Kariné Marwood, peca por vezes em diálogos um tanto didáticos. O peso da mensagem teológica, por mais nobre que seja, às vezes sufoca a sutileza narrativa. Mas, novamente, há um valor inegável no enfoque mais contido do filme. Ao se concentrar na dimensão humana da fé, e não apenas em seus milagres espetaculares, o roteiro nos presenteia com momentos de comovente vulnerabilidade.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Roger Christian |
Roteiristas | Julie Kim, Kariné Marwood |
Elenco Principal | Lawrence Bayne, Lara Jean Chorostecki, Steven McCarthy, Joseph Mesiano, Kevin Sorbo |
Gênero | Drama |
Ano de Lançamento | 2016 |
As atuações são irregulares. Lara Jean Chorostecki, como Maria, transmite uma quietude poderosa, uma fé inabalável que transcende as palavras. Kevin Sorbo, como José, entrega uma performance mais contida, um retrato de um homem em conflito entre sua dúvida humana e a fé inabalável em sua amada. Lawrence Bayne, no papel de Herodes, é convincente na construção de um tirano inseguro, dominado pelo medo e pela paranoia. O restante do elenco cumpre o seu papel adequadamente.
A maior força de José e Maria reside na sua simplicidade. Ele não tenta competir com os grandes espetáculos bíblicos; em vez disso, opta por uma abordagem introspectiva, voltada para os dilemas éticos e emocionais de seus personagens. A fraqueza, em contrapartida, é a previsibilidade, que pode desapontar aqueles que esperam reviravoltas dramáticas.
O filme, ao explorar a fé, a obediência, o medo e a esperança, nos apresenta uma reflexão profundamente humana sobre a confiança em algo maior que nós mesmos. Ele não é um filme que te atordoará com efeitos especiais, mas um que te tocará no coração, se você permitir que o faça.
Em conclusão, José e Maria não é um filme para todos. Sua simplicidade e ritmo mais lento podem afastar aqueles que buscam ação desenfreada. No entanto, para aqueles que apreciam um drama introspectivo, com atuações sólidas e uma visão humanizada da narrativa bíblica, recomendo vivamente sua exibição. A experiência, acredito, é bastante recompensadora, mesmo nove anos após o lançamento. É um filme que, com o tempo, ganhou mais espaço na minha memória afetiva e crítica. Ele não é uma obra-prima, mas sim uma contemplação sincera e, por isso mesmo, muito comovente.