Kaamelott: Parte 1

Ah, Kaamelott! Aquele nome, por si só, já evoca uma mistura tão particular de risadas soltas e um nó na garganta que é difícil de explicar para quem não se deixou envolver pela saga do Rei Arthur de Alexandre Astier. E é exatamente com essa bagagem emocional, carregada de anos de episódios vistos e revistos, de frases que viraram bordões na vida real, que eu me sentei para assistir a Kaamelott: Parte 1. A expectativa, meus amigos, era colossal – afinal, o fim da série de TV nos deixou em um precipício, com Arthur em fuga e Lancelot no trono, e a promessa de um retorno aos cinemas era quase um bálsamo para as feridas de fã.

Sabe, eu sempre achei que Kaamelott era muito mais do que uma comédia medieval. Por baixo da camada de humor absurdo, dos diálogos afiados e dos anacronismos hilários, batia um coração profundamente humano. Acompanhamos Arthur se desgastando, vendo seus ideais ruírem, lidando com a incompetência de seus cavaleiros e com o peso esmagador de uma coroa que ele nem sabia se queria mais. A série terminou com ele em Roma, quebrado, e o reino em mãos erradas. Agora, com Kaamelott: Parte 1, a promessa era uma guinada. A comédia estaria lá, claro, porque é o DNA de Astier, mas a urgência de uma guerra, a melancolia de um rei destronado, tudo isso me deixava com a respiração suspensa.

Alexandre Astier é um caso à parte no cinema francês, e talvez mundial. Ele não apenas dirige e escreve, mas encarna o próprio Arthur Pendragon, o que lhe dá uma intimidade visceral com a história e seus personagens. A transição da tela pequena para a grande, ele provou, é menos um salto e mais uma evolução natural. O filme não abandona a essência do que conhecemos; pelo contrário, ele a expande. As piadas continuam lá, muitas vezes surgindo em momentos inesperados, como um alívio cômico necessário em meio ao caos iminente. Mas, ao mesmo tempo, a escala é outra. Os planos abertos, a fotografia que abraça a aspereza da paisagem e a grandiosidade dos exércitos… é uma experiência que te puxa para dentro, mostrando que a Aventura e a Fantasia sempre estiveram lá, esperando o momento certo para se manifestar plenamente.

A sinopse já nos entrega o ponto central: Arthur contra Lancelot. Mas, como em Kaamelott, nada é tão simples. O Lancelot de Thomas Cousseau, que na série já mostrava traços de uma mente perturbada pela honra distorcida, aqui se torna um tirano cruel, mas também trágico. Não é uma caricatura de vilão, e Cousseau entrega uma performance que nos faz sentir o peso de sua loucura e a solidão do poder. E Arthur, o Arthur de Astier, ah, esse é um espetáculo à parte. Ele volta mais velho, mais cansado, mas com uma faísca de dignidade e a determinação de quem perdeu tudo e agora não tem mais nada a perder. Você vê nas suas mãos, que antes seguravam apenas cálice de vinho ou pergaminhos, a aspereza de quem está pronto para uma luta real. Há uma cena em particular, de Arthur em silêncio, apenas observando o que restou de seu reino, que vale mais do que mil linhas de diálogo sobre seu sofrimento. É o “mostrar, não contar” em sua melhor forma.

AtributoDetalhe
DiretorAlexandre Astier
RoteiristaAlexandre Astier
ProdutoresAgathe Sofer, Alexandre Astier, Henri Deneubourg
Elenco PrincipalAlexandre Astier, Lionnel Astier, Anne Girouard, Thomas Cousseau, Franck Pitiot, Jean-Christophe Hembert, Audrey Fleurot, Jacques Chambon, Antoine de Caunes, Alain Chabat
GêneroAventura, Fantasia, Comédia
Ano de Lançamento2021
ProdutorasSND, CNC, Sacem, M6 Films, Calt Production, Dies Irae, Belga Productions, Auvergne-Rhône-Alpes Cinéma, Région Auvergne-Rhône-Alpes, Regular Production

E os velhos conhecidos? Ah, eles estão lá, e de quebra! Léodagan de Carmélide (Lionnel Astier, pai de Alexandre na vida real e uma figura paterna e militar impecável na tela) com seu pragmatismo brutal, a Guenièvre de Anne Girouard, que sempre foi um poço de sarcasmo passivo-agressivo, e, claro, a dupla improvável de Perceval e Karadoc. Franck Pitiot e Jean-Christophe Hembert são a alma cômica, os alívios que nos lembram que, mesmo na guerra, a absurdidade do cotidiano persiste. Eles trazem a leveza necessária, mas até mesmo suas piadas parecem ter um peso diferente agora, como se a gravidade da situação os atingisse de um jeito peculiar. E a Dama do Lago de Audrey Fleurot, o Merlin de Jacques Chambon, o Dagonet de Antoine de Caunes… cada um, com sua idiossincrasia, se encaixa perfeitamente nesse novo (e antigo) tabuleiro de xadrez.

O ritmo do filme é algo que me pegou. Ele oscila. Há momentos de silêncio contemplativo, de tensão palpável, que são interrompidos por explosões de diálogo rápido e engraçado, ou por cenas de ação que parecem sair de uma ópera épica. Astier manipula a cadência como um maestro, garantindo que o público nunca se acomode. As transições entre os parágrafos narrativos são fluidas, quase como se o próprio filme respirasse entre os momentos de drama e comédia. E a trilha sonora, que sempre foi um ponto forte da série, aqui ganha uma dimensão cinematográfica, amplificando as emoções e os perigos.

Lançado originalmente em 2021, Kaamelott: Parte 1 é mais do que um filme para os fãs. É uma obra que mostra como uma história, mesmo já contada mil vezes, pode ser reimaginada com originalidade e paixão. É uma reflexão sobre a liderança, a lealdade e o preço da ambição. E sim, ainda que por aqui, no Brasil, a gente ainda esteja esperando para poder vivenciar essa jornada nas telonas, a esperança não morre. Porque a lenda do Rei Arthur, especialmente a versão tão singular que Alexandre Astier nos presenteou, é daquelas que ecoa através do tempo, e ver esse retorno triunfal, ainda que à distância, é a prova de que algumas histórias merecem ser contadas até o fim, com toda a sua glória, sua tragédia e sua inigualável dose de humor. E essa é apenas a parte um. Meu coração de fã já está em contagem regressiva pelos próximos capítulos.

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