Sabe, de vez em quando a gente esbarra em uma obra que parece sussurrar direto no nosso ouvido, convidando a uma reflexão que vai além do entretenimento puro. Para mim, “Kakushigoto Theatrical Edition” é exatamente isso. Não se trata apenas de mais um filme de animação; é um mergulho em um universo familiar com uma premissa tão boba quanto tocante, que me fez pensar sobre as pequenas mentiras que contamos por amor e os grandes segredos que guardamos para proteger quem amamos.
A história central de Kakushi Gotou, um mangaká de sucesso que ilustra obras um tanto… digamos, “peculiares”, e sua filha Hime, uma menina pura e inocente, é um labirinto de comédia e ternura. O grande segredo de Kakushi? Ele precisa esconder a todo custo sua profissão da Hime, temendo que ela seja alvo de bullying ou que sua visão de mundo seja manchada pela natureza do seu trabalho. É uma corrida contra o tempo cheia de armadilhas, disfarces hilários e situações que beiram o absurdo, mas que, no fundo, revelam uma verdade universal: o amor de um pai.
A beleza de ‘Kakushigoto’ reside justamente nessa dualidade. Você tá ali, rindo das trapalhadas do Kakushi, de suas tentativas desastradas de manter as aparências, de como ele transforma sua vida em um elaborado teatro para a filha. Mas, entre uma risada e outra, a gente sente o peso dessa decisão. Dá pra sentir a ansiedade dele, o desejo genuíno de proteger a inocência da Hime, mesmo que isso signifique viver uma vida dupla. E é aí que a magia do “slice of life” japonês se manifesta, tecendo essa teia de momentos cotidianos que são, ao mesmo tempo, triviais e profundamente significativos.
Agora, precisamos conversar sobre o formato. “Kakushigoto Theatrical Edition” não é uma história totalmente nova, mas uma versão editada e compilada da série de TV original. E aqui reside uma das nuances mais interessantes. Pensa comigo: é como pegar um álbum de fotos de família, mas em vez de folhear cada página com calma, alguém escolheu os momentos mais brilhantes, os sorrisos mais largos e os abraços mais apertados para criar um vídeo curto e emocionante. Para quem já conhece a série, pode ser um reencontro bem-vindo, uma chance de revisitar os pontos altos e o desfecho de uma forma condensada. Mas e para quem chega de paraquedas? O roteiro de あおしまたかし, sob a direção de 村野佑太, faz um trabalho admirável em costurar esses momentos, tentando manter a fluidez e o impacto emocional. É como se eles tivessem destilado a essência da história, entregando o riso e a lágrima de forma mais concentrada. Não é sempre que uma compilação acerta o tom, mas aqui, os arcos principais e a evolução da relação pai e filha são preservados com uma sensibilidade notável.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | 村野佑太 |
Roteirista | あおしまたかし |
Elenco Principal | Hiroshi Kamiya, Rie Takahashi, Taku Yashiro, 安野希世乃, Ayane Sakura, Ayumu Murase, Natsuki Hanae, 小山力也, 沼倉愛美, 小澤亜李 |
Gênero | Animação, Comédia |
Ano de Lançamento | 2021 |
Produtora | Ajiado |
E a voz por trás da voz! Hiroshi Kamiya, como Kakushi Gotou, é um espetáculo à parte. Sua interpretação não é apenas de um pai superprotetor, mas de um artista genuíno, com todos os seus tiques e excentricidades. Ele entrega as linhas cômicas com uma precisão que arranca gargalhadas, mas também injeta uma melancolia sutil nos momentos em que a solidão ou o peso de seu segredo se tornam visíveis. Você quase pode ver os fios de cabelo de Kakushi se arrepiando a cada quase-descoberta. Do outro lado da balança, Rie Takahashi dá vida à Hime com uma doçura e uma curiosidade que tornam impossível não se apaixonar por ela. É essa alquimia vocal, essa entrega que dá corpo e alma aos personagens, que faz a gente se importar tanto com o destino dessa família. Ajiado, na produção, entrega uma animação que complementa perfeitamente o tom da história: cores vibrantes para a comédia, tons mais suaves para os momentos de ternura, e um design de personagens que é imediatamente carismático.
A jornada de “Kakushigoto” vai além da simples comédia de enganos. Ela fala sobre o amadurecimento, sobre a necessidade de se abrir e de confiar. Hime, crescendo e amadurecendo, inevitavelmente começará a enxergar as entrelinhas, e é nesses momentos que o filme encontra sua verdadeira profundidade. O desfecho, para quem acompanha a história, é agridoce, uma celebração do amor familiar que transcende os segredos, mostrando que, no final das contas, o que importa é a conexão.
Como um crítico que adora uma boa história, especialmente aquelas que nos pegam de surpresa com sua sinceridade, Kakushigoto Theatrical Edition me deixou com um nó na garganta e um sorriso no rosto. É um lembrete de que as famílias são complexas, cheias de imperfeições, mas que o amor é a cola que as mantém unidas. E, poxa, como eu queria que esse filme tivesse chegado por aqui no Brasil. É o tipo de animação que merece ser vista, ser sentida, ser compartilhada. Quem sabe, um dia, né? Enquanto isso, fica a recomendação para quem conseguir botar as mãos nessa joia: prepare-se para rir, para sentir, e para se lembrar que, às vezes, os maiores atos de amor vêm disfarçados de segredos bobos.