Kantara

O que faz um filme ressoar? O que o tira da tela e o planta diretamente na nossa alma, fazendo com que a história continue a desenrolar-se na mente muito depois de os créditos rolarem? Para mim, e arrisco dizer que para muitos de vocês, Kantara é um desses filmes. Quando ouvi falar dele pela primeira vez em 2022, confesso que minha curiosidade foi atiçada, mas não sabia que estava prestes a ser arrastado para um turbilhão cultural tão visceral e inesquecível. Escrevo sobre Kantara hoje, em 2025, porque a sua energia ainda pulsa, e sua mensagem, tão profundamente enraizada em tradições ancestrais, é mais relevante do que nunca. É uma daquelas experiências cinematográficas que nos lembra que o cinema, em sua essência mais pura, pode ser um portal para outras culturas, outros mundos, mas também um espelho para as nossas próprias lutas e medos mais primitivos.

Imagine-se num vilarejo onde a poeira encontra a floresta densa, e o sussurro do vento carrega lendas de deuses e espíritos. É nesse cenário que somos apresentados a Shiva, interpretado por um impressionante Rishab Shetty. Ele é um homem à flor da idade, com a força bruta de um javali e a alma errante de quem fugiu de um destino. A sinopse nos fala de um “vagabundo que mora com sua mãe”, e isso já pinta um quadro. Mas Shiva é muito mais. Ele é o coração indomável daquele lugar, um homem que virou as costas para o legado de Daivaradhane e Bhoota Kola – rituais que, para quem não conhece, são performáticos, quase teatrais, onde divindades ou espíritos ancestrais são invocados. Um incidente na infância o marcou, e ele preferiu a liberdade de vagar com os amigos e a obediência cega ao seu senhorio, Devendra Suttooru, um papel perfeitamente ambíguo nas mãos de Achyuth Kumar.

E é aí que a complexidade começa a borbulhar. A vida de Shiva, aparentemente simples, é a ponta de um iceberg gigantesco. A floresta, a terra, a comunidade e a fé ancestral estão em jogo. Quando o oficial florestal Murali, interpretado com uma intensidade fria por Kishore, entra em cena, o que parecia ser uma luta contra os elementos, uma simples questão de “homem-contra-natureza”, ganha uma dimensão muito mais sombria e multifacetada. Murali não é um vilão caricato; ele é a lei, a racionalidade, a modernidade tentando impor ordem a um mundo regido por crenças e pactos antigos. As suas mãos, muitas vezes, estão atadas pela burocracia e pela corrupção que o cercam.

A pergunta que ecoa na tela é: Shiva pode salvar a floresta de Murali? Ou Murali é apenas uma ilusão, um mero peão, lançado por peixes maiores que espreitam nas sombras? Ah, essa é a beleza do roteiro, também assinado por Rishab Shetty. Ele nos convida a questionar quem realmente detém o poder, quem se beneficia e quem paga o preço. Devendra Suttooru, com sua postura calma e calculista, e Sudhakar (Pramod Shetty), o lacaio oportunista, são peças essenciais nesse quebra-cabeça de intrigas. Não é apenas sobre terra; é sobre identidade, legado e o sacrifício que se faz para proteger aquilo que é sagrado.

AtributoDetalhe
DiretorRishab Shetty
RoteiristaRishab Shetty
ProdutorVijay Kiragandur
Elenco PrincipalRishab Shetty, Sapthami Gowda, Kishore, Achyuth Kumar, Pramod Shetty
GêneroAção, Aventura, Thriller
Ano de Lançamento2022
ProdutoraHombale Films

Rishab Shetty, como diretor, roteirista e ator principal, é a força gravitacional de Kantara. Seu Shiva é uma explosão de virilidade e vulnerabilidade. Vemos suas cicatrizes emocionais nas rugas em seu rosto e em seu temperamento explosivo. Quando ele se transforma – e aqui estou falando daquela metamorfose final que eleva o filme a um patamar mítico –, é como se o próprio espírito ancestral tomasse conta da tela. Não é apenas uma atuação; é uma possessão. A sua performance no Bhoota Kola é uma experiência quase transcendental, onde a linha entre o ator e a divindade se dissolve. É a arte imitando a vida, e a vida sendo vivida através da arte. É um eco da mitologia hindu, onde o divino se manifesta no mundano, e o mortal pode ser tocado pelo imortal.

A Sapthami Gowda, no papel de Leela, é o contraponto necessário à selvageria de Shiva. Ela é a ponte entre ele e a humanidade, o amor que tenta ancorá-lo, mas também a testemunha da sua fúria. A química entre os dois é palpável, adicionando uma camada de calor e emoção a uma narrativa que, de outra forma, poderia ser excessivamente austera.

A Hombale Films, sob a batuta do produtor Vijay Kiragandur, entrega uma produção que é um soco no estômago e um abraço na alma. A cinematografia é crua e bela, capturando tanto a exuberância da floresta quanto a dureza da vida no vilarejo. As sequências de ação são viscerais, sem serem gratuitas, e a trilha sonora, com seus ritmos tribais e cantos guturais, é um personagem por si só, amplificando cada batida do coração da história.

Kantara é um filme de ação e aventura, sim, mas é o seu lado “thriller” que realmente nos prende. A tensão construída é constante, a cada olhar desconfiado, a cada diálogo carregado de subtexto. E, acima de tudo, é uma celebração e um questionamento do folklore. Ele não apenas apresenta o Daivaradhane e o Bhoota Kola, ele os incorpora, ele nos faz sentir a sua importância, o seu poder, a sua ameaça. É um lembrete de que, mesmo em tempos de telas digitais e algoritmos, há histórias que são contadas há milênios, e que elas ainda têm a capacidade de nos chocar, nos inspirar e nos fazer pensar.

Em uma paisagem cinematográfica que muitas vezes prioriza o espetáculo vazio, Kantara oferece uma experiência profunda e significativa. É um grito da terra, um aviso sobre a ganância humana e um testemunho da força inquebrantável da fé e da tradição. Um filme que, para mim, em 2025, ainda reverbera com a mesma intensidade do dia em que o vi pela primeira vez.

E você, qual cena de Kantara mais te marcou? Deixe sua opinião nos comentários!

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