Kóblic: O Peso Insuportável da História na Argentina
Nove anos depois de sua estreia no Brasil em 13 de outubro de 2016, volto a pensar em Kóblic. Não é uma tarefa fácil resenhar um filme que se debruça sobre a brutalidade da ditadura argentina com tamanha sutileza e poder, um filme que, apesar do tempo, continua a ressoar com uma inquietante atualidade. A trama acompanha Tomás Kóblic, um ex-capitão da Força Aérea Argentina, assombrado pelas atrocidades dos “voos da morte”, operações que envolviam o lançamento de dissidentes no mar. A sinopse não revela muito mais do que isso, mas acreditem, a jornada de Kóblic é tão desconcertante quanto perturbadora.
A Dança Mortífera entre Memória e Esquecimento
Sebastián Borensztein, diretor e um dos roteiristas, juntamente com Alejandro Ocón, tece uma narrativa magistral. A câmera acompanha Kóblic em seu isolamento, numa espécie de purgatório auto-imposto na imensidão da Pampa argentina. A escolha dos cenários, a fotografia quase onírica, contribuem para um clima de opressão constante, transmitindo a sensação de sufocamento que cerca o personagem principal. Não é um filme que se entrega a cenas de violência explícita, mas a violência implícita, o terror psicológico que permeia cada enquadramento, é ainda mais devastador. A atuação de Ricardo Darín, como sempre impecável, é o pilar central do longa. Ele transmite, com olhar e gestos contidos, a fragilidade e a culpa profunda que consomem Kóblic. O elenco de apoio, incluindo Oscar Martínez e Inma Cuesta, completa o quadro com performances igualmente convincentes, criando personagens críveis e multifacetados que se inserem perfeitamente na atmosfera densa do filme.
Pontos Fortes e Fracos: O Equilíbrio Delicado
Um dos maiores trunfos de Kóblic reside na sua capacidade de humanizar o personagem principal, sem jamais minimizar os horrores de que ele participou. É um estudo de personagem complexo, que nos força a questionar a natureza do arrependimento, a possibilidade de redenção. Por outro lado, alguns podem achar o ritmo lento e a narrativa um pouco contida, algo que, a meu ver, contribui para a atmosfera opressiva e introspectiva do filme. A falta de um arco narrativo mais tradicional, com grandes reviravoltas, pode ser interpretado como um ponto fraco por alguns. Mas, nesse caso, acredito que a força do filme reside precisamente na sua recusa em apresentar respostas fáceis.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Sebastián Borensztein |
| Roteiristas | Sebastián Borensztein, Alejandro Ocón |
| Produtores | Mikel Lejarza, Axel Kuschevatzky, Pablo E. Bossi, Sebastián Borensztein, José Ibáñez, Juan Pablo Buscarini |
| Elenco Principal | Ricardo Darín, Oscar Martínez, Inma Cuesta, Marcos Cartoy Díaz, Miriam Odorico |
| Gênero | Drama, Thriller |
| Ano de Lançamento | 2016 |
| Produtoras | Pampa Films, Gloriamundi Producciones, Telefe, DirecTV, Palermo Films, Atresmedia |
A Argentina que Não se Cala: Temas e Mensagens
Kóblic não é apenas um filme sobre um homem assombrado pelo passado; ele é um filme sobre a Argentina, sobre as feridas abertas de sua história recente. É um retrato pungente da Ditadura Militar, que explora o peso da culpa coletiva, a dificuldade de lidar com o trauma nacional, e a busca por justiça e memória. A escolha de se focar em um agente do estado, um executor das atrocidades, em vez das vítimas, talvez seja o aspecto mais ousado e, ao mesmo tempo, mais eficaz do filme, pois nos confronta com a complexidade moral do regime.
Um Legado que Perdura: Recomendações Finais
Kóblic, lançado em 2016, consolidou-se como um filme importante, um marco na cinematografia argentina. A produção, com um excelente elenco e equipe de criação, recebeu uma boa recepção da crítica na época, e acredito que merece ser revisto, sobretudo no contexto atual, onde a luta contra o negacionismo e a defesa da memória continuam cruciais. Se você busca um filme que o faça pensar, que o perturbe, que o deixe com perguntas sem respostas, mas com uma profunda reflexão sobre a responsabilidade individual e coletiva diante da história, então Kóblic é uma experiência cinematográfica que você não pode perder. Recomendado para aqueles que apreciam dramas históricos densos, reflexivos, e com uma atuação impecável de Ricardo Darín. Encontre-o em plataformas digitais e permita-se mergulhar nesse mar de sombras e memórias.




