Krull: Uma Ópera Espacial de 1983 que Envelheceu Como um Bom Vinho (ou Não?)
Olha, vamos ser francos. Em 23 de setembro de 2025, assistir a Krull é uma experiência peculiar. É um daqueles filmes que se equilibra precariamente entre o grandioso e o tosco, o memorável e o esquecível. Uma ópera espacial de baixo orçamento que, em retrospectiva, parece ter se esforçado demais em criar algo épico, resultando em uma mistura bizarra, mas não sem seu charme peculiar.
A sinopse é simples: no planeta Krull, uma besta alienígena, de design memoravelmente grotesco, ataca e sequestra a Princesa Lyssa. Seu amado, o príncipe Colwyn, reúne um grupo de guerreiros improváveis para resgatá-la de sua fortaleza. Essa jornada os leva por paisagens desoladas, encontros com criaturas bizarras e muita, muita luta de espadas. Até um “doppelgänger” surge na trama, e convenhamos, a mera ideia disso, em 1983, já era algo ousado. Mas a trama, embora simples, funciona como um excelente trampolim para o espetáculo visual.
Peter Yates, o diretor, merece crédito pelo esforço. Ele tenta, com os recursos limitados disponíveis, criar um mundo alienígena visualmente distinto. As paisagens são memoráveis, embora em alguns momentos aparentes seus recursos limitados. A fotografia, em alguns momentos, surpreende, criando uma atmosfera sombria que se encaixa bem no tom de “dark fantasy” da produção. O problema é que a direção não consegue sempre equilibrar o tom entre a grandiosidade pretendida e a execução, muitas vezes resultando em cenas que são meio-a-meio. A trilha sonora de James Horner, como alguns apontaram, lembra um pouco Star Trek em alguns momentos, o que, confesso, achei uma interessante e inusitada influência.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Peter Yates |
Roteirista | Stanford Sherman |
Produtores | Geoffrey Helman, Ron Silverman |
Elenco Principal | Ken Marshall, Lysette Anthony, Freddie Jones, Francesca Annis, Alun Armstrong |
Gênero | Ação, Aventura, Fantasia, Ficção científica |
Ano de Lançamento | 1983 |
Produtoras | Barclays Mercantile Industrial Finance, Columbia Pictures |
O roteiro de Stanford Sherman, no entanto, é onde Krull realmente vacila. Ele apresenta boas ideias, personagens carismáticos e uma premissa intrigante, mas a execução é… problemática. O ritmo é irregular, algumas subtramas são deixadas de lado abruptamente e, em alguns momentos, a lógica da narrativa se esvai. As atuações são um misto de bom e ruim. Ken Marshall como Colwyn é competente, mas não chega a ser memorável; o elenco de apoio consegue arrancar alguns sorrisos com suas reações exageradas aos eventos do filme.
A força de Krull reside em sua ambição. Este é um filme que tentou fazer algo grandioso com um orçamento provavelmente apertado. As criaturas de design único (lembra-se da Besta e dos Ciclópes?), as armas inusitadas e o próprio planeta Krull são elementos memoráveis que resistem ao teste do tempo. Entretanto, a fraqueza reside na execução desigual. As batalhas, apesar de bem coreografadas em partes, parecem truncadas. A combinação de fantasia, ficção científica e espada e feitiçaria, que era a proposta do filme, acaba soando um tanto desorganizada.
Krull aborda temas clássicos como o bem contra o mal e a luta pela sobrevivência, mas não os explora profundamente. A mensagem é bem superficial, focada na ação e aventura mais do que em desenvolvimento de personagens ou questões filosóficas.
Lançado em 1983 e chegando aos cinemas brasileiros em 6 de fevereiro de 1984, Krull foi, segundo relatos, um fracasso de bilheteria. E pensando em sua recepção crítica, acredito que os comentários que o definiam como um filme caro que envelheceu mal carregam uma ponta de verdade. Ele é um produto de seu tempo, com os defeitos e as virtudes características da década de 1980.
Recomendo Krull? Depende. Se você é um fã de filmes de fantasia e ficção científica B de orçamento baixo dos anos 80, com seus exageros e peculiaridades, então sim, Krull pode ser uma experiência divertida e nostálgica, principalmente disponível em plataformas de streaming. No entanto, se você espera um filme polido e sem falhas narrativas, procure outro. Krull é um filme que você ama ou odeia – e eu, particularmente, tenho um carinho peculiar por sua bizarra beleza. É um filme que se tornou mais interessante justamente por suas falhas e ousadia. É um filme que, apesar de tudo, continua a me fascinar.