Las nubes

Ah, Las nubes… fazia um tempo que eu queria sentar para escrever sobre ele, mas, honestamente, a experiência que o filme de Eduardo Pinto me deixou reverberou por tanto tempo que precisei de um respiro antes de tentar traduzir tudo isso em palavras. Lançado no ano passado, em 2024, ele não é daqueles thrillers que você assiste e esquece no dia seguinte; não, ele se agarra a você, como uma névoa densa que distorce as formas e esconde perigos onde antes havia clareza. E é exatamente essa sensação de incerteza e iminência que me puxou de volta para a tela, mesmo sabendo o que me esperava.

É curioso como um título tão etéreo, tão poético como “As Nuvens”, pode esconder uma trama tão visceral e sufocante. Pensei muito nisso. Nuvens, afinal, podem ser paisagens de sonhos, mas também carregam tempestades, escuridão. E é nesse limiar que Pinto, junto com os roteiristas Gabriel Macias, Diego Ramos Otero e Natalia Torres, constrói sua narrativa. Não espere um suspense que te entrega migalhas de pão para seguir a trilha; aqui, a floresta é densa, e cada passo pode ser para o lado errado.

O que me prendeu, desde os primeiros minutos, foi a construção de uma atmosfera que mais parecia um personagem em si. Não é sobre os sustos fáceis, sabe? É sobre a sensação de que algo está fundamentalmente errado, que a qualquer momento a normalidade vai se desintegrar. É como ver uma rachadura fina e imperceptível na parede que você sabe que vai ceder, mas não faz ideia de quando. A direção de Pinto tem uma mão firme para o desconforto, para a sombra que se alonga e distorce o familiar. Os cenários parecem respirar uma tensão própria, e a iluminação, ou a falta dela, é uma orquestração para a paranoia.

E nesse palco de desassossego, o elenco se entrega de corpo e alma. Guillermo Zapata, como Pablo, não interpreta apenas um homem; ele encarna a fragilidade e a resiliência de alguém sendo empurrado para o limite. Seus olhos, muitas vezes, contam mais do que qualquer diálogo, transmitindo uma exaustão que é quase palpável. Ao lado dele, Andrea Rincón como Tamara é um furacão contido, uma força que pode ser tanto proteção quanto destruição. Você consegue sentir a complexidade da personagem em cada olhar de soslaio, em cada resposta lacônica. E não podemos esquecer de Diego Cremonesi (Germán), Luciano Cáceres (Lucas) e Matías Desiderio (Dani), que completam esse tabuleiro de xadrez humano, cada um com suas nuances, suas motivações ocultas, suas próprias nuvens particulares. As interações entre eles não são apenas trocas de falas; são duelos de olhares, embates de vontades que revelam camadas e mais camadas de um enredo que é tudo, menos linear.

A genialidade de Las nubes reside na sua capacidade de nos fazer questionar a natureza da verdade. No mundo que Pinto nos apresenta, a linha entre a vítima e o algoz é borrada, os motivos são complexos, e a inocência, ah, a inocência é um luxo que poucos podem se dar. O filme não nos oferece respostas fáceis; ele nos obriga a encarar as ambiguidades morais, os pactos silenciosos e as escolhas desesperadas que as pessoas fazem quando encurraladas. E é nesse território cinzento que o thriller realmente floresce. Não é só quem fez o quê, mas por que e como isso nos transforma.

Quando os créditos subiram e o silêncio preencheu a sala, percebi que Las nubes não é um filme para ser digerido rapidamente. Ele é daqueles que fermentam na mente, que te fazem revisitar cenas, repensar diálogos, e até mesmo reavaliar suas próprias percepções sobre justiça e redenção. É um soco no estômago, sim, mas um soco que te deixa mais atento, mais sensível às sombras que nos cercam. E é por essa coragem em explorar o lado mais sombrio da psique humana, com uma execução técnica e atuações tão primorosas, que Las nubes se solidifica como uma obra que vale cada minuto de angústia.

E você, qual cena ou personagem de Las nubes te deixou pensando depois que o filme terminou? Compartilhe sua experiência nos comentários!