Existe aquele tipo de filme que a gente assiste, se distrai por algumas horas, e depois segue em frente, com as memórias dele desbotando como uma fotografia antiga na gaveta. E aí, tem Late Bloomer. Meses se passaram desde seu lançamento em 2024, e eu ainda me pego pensando nas nuances, nos silêncios e, sim, na explosão de sentimentos que ele me trouxe. Por que essa persistência na minha mente? Acho que é porque ele toca em algo tão profundamente humano: o tempo. Ou melhor, a falta dele.
Sabe, a gente vive numa sociedade que nos empurra para sermos produtivos, para alcançarmos marcos em idades específicas. Casar aos 30, ter filhos antes dos 35, a carreira consolidada aos 40. E quando se trata de amor e, mais ainda, de autodescoberta, essa pressão pode ser sufocante. É exatamente aí que a metáfora do “late bloomer” – a flor que desabrocha tarde – se torna tão poderosa. O filme de Rodante Pajemna Jr. é um delicado, mas incisivo, lembrete de que a beleza e a verdade podem surgir em qualquer estação da vida, muitas vezes quando menos esperamos.
O drama se desenrola como um balé de hesitações e coragens, tendo no centro a Therese de Robb Guinto e a Maddie de Erika Balagtas. Não é uma história de amor que surge de um relâmpago clichê. É algo que se constrói, tijolo por tijolo, olhar por olhar. Eu me lembro de uma cena em particular onde Therese, com os olhos marejados, quase se encolhe em si mesma antes de dar um pequeno, quase imperceptível, passo em direção a Maddie. Aquele tremor nas mãos, a respiração presa, a forma como Guinto transmitiu essa vulnerabilidade sem precisar de uma única palavra dita em voz alta, foi de uma autenticidade que te fisga pela garganta. E Maddie? Erika Balagtas a interpreta com uma serenidade que é, ao mesmo tempo, porto seguro e um convite silencioso para a entrega. A química entre elas não é sobre fogos de artifício constantes, mas sobre a delicadeza de um toque que fala volumes, sobre a intensidade de um olhar que promete mundos. Sim, existe um elemento “sexy” explorado, mas ele não é gratuito; ele é a expressão física de uma intimidade profunda, de uma atração que amadureceu e finalmente pode ser vivida sem amarras.
Rodante Pajemna Jr., junto aos roteiristas John Carlo Pacala e Nigel Santos, tece essa narrativa sem pressa, permitindo que a complexidade das emoções respire. O roteiro não busca respostas fáceis ou viradas mirabolantes. Ele se deleita nas pequenas vitórias e nos tropeços inevitáveis de um amor que desafia as convenções. É quase como observar um rio que, depois de anos em um curso predefinido, descobre um novo caminho, mais sinuoso, talvez mais demorado, mas infinitamente mais seu. Os diálogos são afiados, cheios de subtextos, e mostram a maestria em revelar o caráter dos personagens através de suas falas e, mais importante, de seus silêncios.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Rodante Pajemna Jr. |
Roteiristas | John Carlo Pacala, Nigel Santos |
Elenco Principal | Robb Guinto, Erika Balagtas, Ardy Raymundo, Mikhael Padua, Jasper Torres |
Gênero | Drama |
Ano de Lançamento | 2024 |
Produtoras | Vivamax, Viva Films |
E o elenco de apoio? Ardy Raymundo, Mikhael Padua e Jasper Torres, como Aries, Arthur e Luigi, respectivamente, trazem à tona a rede social em que Therese e Maddie estão inseridas. Eles não são meros figurantes; são espelhos, obstáculos ou catalisadores para o desenvolvimento das protagonistas, adicionando camadas à trama e mostrando que essa jornada de autodescoberta afeta e é afetada por todos ao redor. Essa é a vida, não é? Ninguém existe em um vácuo.
A Vivamax e a Viva Films, ao apostarem em Late Bloomer, reforçam a importância de dar espaço para histórias como esta, especialmente no universo girls’ love (GL). Não é apenas sobre representatividade, é sobre a universalidade da experiência humana de encontrar o amor e a si mesmo, em qualquer forma e em qualquer fase. É um filme que, apesar de ser um drama, não te deixa um gosto amargo. Pelo contrário, ele te deixa com uma sensação de esperança e uma profunda admiração pela coragem de ser quem se é, independentemente do tempo que isso leve.
No final das contas, Late Bloomer é um abraço quente na alma, um lembrete de que a beleza da vida e do amor não tem prazo de validade. É um grito silencioso de que vale a pena esperar, vale a pena se arriscar, vale a pena florescer no seu próprio tempo.
E você, já teve alguma “florada tardia” na sua vida que mudou tudo? Conte para nós nos comentários!