Ah, o cinema de terror… uma paixão que, de tempos em tempos, me arrasta de volta para os cantos mais escuros e, por que não dizer, mais divertidos da sétima arte. E, no final das contas, é exatamente essa paixão que me traz aqui hoje, em 16 de outubro de 2025, para revisitar um filme que, talvez, não esteja no panteão dos clássicos, mas que guarda um lugar especial na memória de quem cresceu com a onda slasher pós-Pânico: estou falando de Lenda Urbana 2.
Se você, como eu, navegou pelos corredores do terror adolescente no início dos anos 2000, provavelmente se deparou com este título. É uma dessas sequências que tentam pegar carona no sucesso do original, mas que, no processo, acabam encontrando uma voz própria, ainda que um tanto estridente e cheia de ecos. E é por essa voz, por essa tentativa, que Lenda Urbana 2 me intriga até hoje. Não é um filme perfeito, longe disso, mas tem uma inteligência astuta (às vezes subutilizada, é verdade) que merece ser dissecada.
Quando a Arte Imita a Morte (e a Morte Imita a Arte)
A premissa de Lenda Urbana 2 é, por si só, um banquete para quem gosta de metalinguagem no cinema. Imagine a Universidade Alpine, um caldeirão de ambições cinematográficas e egos inflados. Nosso ponto focal é Amy Mayfield (interpretada por uma jovem Jennifer Morrison, antes de se tornar a Dra. Cameron em House), uma estudante de cinema que, para seu projeto final, decide mergulhar de cabeça no universo das lendas urbanas, criando um filme sobre um serial killer que as utiliza como inspiração para suas vítimas. O que poderia dar errado, certo?
Pois bem, o que dá errado é a vida imitando a arte – ou seria a arte imitando a vida, que por sua vez imita a arte? Antes que Amy possa sequer gritar “ação!”, um assassino real começa a eliminar seus colegas e a equipe de filmagem, usando exatamente os mesmos métodos das lendas urbanas. É um jogo cruel de gato e rato, onde todos são suspeitos, e a linha entre a ficção da tela e a realidade sangrenta do campus se dissolve numa névoa de medo. Quem está por trás dessa carnificina? Seria algum competidor invejoso pelo prêmio de melhor filme? Um professor frustrado? Um ex-namorado rancoroso? As opções são muitas e, para um bom fã de mistério, isso já aguça a curiosidade.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | John Ottman |
| Roteiristas | Paul Harris Boardman, Scott Derrickson |
| Produtores | Neal H. Moritz, Gina Matthews, Richard Luke Rothschild |
| Elenco Principal | Jennifer Morrison, Matthew Davis, Hart Bochner, Loretta Devine, Joey Lawrence |
| Gênero | Terror, Mistério |
| Ano de Lançamento | 2000 |
| Produtoras | Original Film, Phoenix Pictures, Canal+ Droits Audiovisuels, Columbia Pictures |
O roteiro de Paul Harris Boardman e Scott Derrickson (este último que viria a nos presentear com filmes como Sinistro e Doutor Estranho) abraça essa ideia com uma energia quase febril. Eles nos jogam em um cenário onde o “movie business” se torna um campo de batalha literal, e a obsessão pela perfeição artística pode custar a vida. É uma sátira velada ao mundo do cinema, aos diretores novatos que fariam de tudo por um Oscar estudantil, e à própria natureza predatória da competição. E essa é, para mim, uma das maiores forças do filme: ele sabe que é uma sequência de um slasher, e tenta se divertir com isso.
Um Elenco Que Tenta Equilibrar o Horror e o Hype
Um filme de terror universitário vive e morre por seu elenco jovem, e Lenda Urbana 2 nos entrega uma mistura interessante. Jennifer Morrison, no papel de Amy, carrega o filme com uma mistura de vulnerabilidade e determinação. Vemos a tensão em seus olhos, a forma como suas mãos se apertam quando a próxima vítima é anunciada, e é fácil torcer para que ela desvende o mistério antes que seja tarde demais. Ao seu lado, temos Matthew Davis (que mais tarde veríamos em The Vampire Diaries) em um papel crucial, e ele entrega uma performance que oscila entre o charmoso e o sutilmente perturbador, mantendo o espectador em dúvida.
Hart Bochner, como o Professor Solomon, adiciona uma camada de cinismo e autoridade que serve bem ao gênero, enquanto Joey Lawrence como Graham nos lembra que, mesmo em um filme de terror, a comédia (ou o alívio cômico) pode encontrar seu espaço. Mas, vamos ser sinceros, o coração pulsante de Lenda Urbana 2 é o retorno de Loretta Devine como Reese. Sua personagem, a única a retornar do filme original, é a voz da experiência, a bússola moral (e irônica) em meio ao caos. Ela é o elo que nos conecta ao universo estabelecido e, a cada aparição, um sorriso surge em meu rosto. É como rever uma velha amiga que sobreviveu ao inferno e ainda tem o melhor sarcasmo à flor da pele.
A direção de John Ottman, conhecido por seu trabalho como compositor e editor (inclusive em filmes do Bryan Singer), mostra uma compreensão do ritmo e da atmosfera necessários para um bom slasher. Ele sabe como construir a tensão, como usar as sombras e os corredores escuros da universidade para criar uma sensação de claustrofobia. As mortes, muitas delas inspiradas nas lendas urbanas que o filme de Amy retrata, são executadas com um certo estilo, variando entre o brutal e o engenhoso, e sempre com aquele toque de mistério que nos faz pensar: como o assassino conseguiu isso?
A Morte da Inocência e o Charme dos Anos 2000
Olhando para Lenda Urbana 2 hoje, vejo um filme que é um produto de seu tempo, mas que ainda assim consegue provocar algumas reflexões. O subgênero slasher, pós-Pânico, estava em um momento de autoconsciência e experimentação. Tentava ser mais esperto, mais “meta”, do que seus antecessores. Lenda Urbana 2 é um exemplo disso, tentando elevar o jogo ao colocar a própria criação cinematográfica no centro do palco de mortes. É uma exploração do medo que vem não apenas do que se esconde nas sombras, mas também da ambição desmedida e da natureza competitiva do ser humano.
Será que o filme se aprofunda tanto quanto poderia nessa metalinguagem? Talvez não. Às vezes, ele cai em armadilhas de roteiro e convenções de gênero que esperávamos que ele subvertesse. Mas há um charme nisso também, não há? É como um amigo que tenta ser supercool e profundo, mas que no fundo ainda gosta de piadas bobas e sustos previsíveis. E, falando em sustos, o filme não se furta de alguns bons jump scares, porque, sejamos francos, um slasher sem um bom jump scare é como café sem açúcar para alguns.
E, claro, não podemos esquecer da famosa cena pós-créditos – um “aftercreditsstinger” que se tornou quase obrigatório em sequências de terror. Em Lenda Urbana 2, ela serve para dar um último arrepio e, talvez, deixar uma porta entreaberta para mais lendas, mais mortes.
No final das contas, Lenda Urbana 2 é mais do que apenas uma sequência esquecível. É um artefato do seu tempo, um pedaço da história do terror que tentou ser esperto, que tentou ser diferente, mesmo que nem sempre atingisse todas as suas ambições. É um filme que me faz pensar sobre a natureza das histórias que contamos, sobre a forma como o terror se reflete na nossa própria realidade, e sobre o eterno fascínio pelas lendas urbanas que se recusam a morrer.
Se você gosta de um slasher com um toque de inteligência, um elenco carismático e a nostalgia dos anos 2000, dê uma chance a Lenda Urbana 2. Quem sabe você não encontra uma nova lenda a adicionar à sua própria coleção cinematográfica? Afinal, no mundo do terror, as surpresas vêm de onde menos esperamos. E isso, meu caro leitor, é o que me faz voltar sempre.




