Chegou a um ponto da minha vida em que a simples menção de “seguir um sonho” já me causa um leve arrepio. Não me entenda mal, admiro quem tem essa bravura, mas convenhamos, nem todo mundo nasce com a fibra de um protagonista de shonen. E é exatamente por isso que, quando a sinopse de Let This Grieving Soul Retire cruzou meu caminho, uma risada nervosa escapou, seguida por uma curiosidade incontrolável. Quem nunca, afinal, se viu numa situação em que o “sonho” dos outros se transformou no seu próprio pesadelo pessoal?
No frenético ano de 2024, quando este anime fez sua estreia original, a tela nos transportou para uma era de ouro onde caçadores de tesouros, com seus olhos fixos na riqueza e na glória, arriscavam suas vidas em câmaras esquecidas. É um cenário vibrante, cheio de possibilidades infinitas, com um toque de ficção científica e a magia da fantasia. Mas no meio de toda essa efervescência, encontramos Krai Andrey, o nosso “grieving soul” titular.
A promessa de infância, feita entre amigos, de se tornarem os maiores caçadores de tesouros, paira sobre Krai como uma espada de Dâmocles. Ele, ah, ele já percebeu que não nasceu para isso. O idealismo juvenil se chocou brutalmente com a dura realidade da sua própria inadequação e, mais importante, com o pavor genuíno de perder a vida em alguma armadilha medieval ou em uma batalha contra uma criatura fantástica. Seus amigos, como Tino Shade e os irmãos Smart, Liz e Sitri, ou mesmo o enérgico Luke Sykol, seguem firmes, quase cegos em sua determinação e expectativa. Enquanto eles correm em direção ao ápice do seu sonho, Krai só tem um desejo profundo e desesperado: juntar suas trouxas, talvez comprar um sítio e plantar alface, e se aposentar de toda essa loucura antes que seja tarde demais.
É nessa dicotomia que Let This Grieving Soul Retire encontra sua alma, e é aí que a série me fisgou de verdade. A genialidade reside em subverter o arquétipo do herói. Krai não é um covarde que precisa “encontrar a coragem”, nem um prodígio que não sabe o próprio valor. Ele é um ser humano profundamente realista, que reconhece seus limites e, em vez de superá-los com um grito de guerra, quer apenas fugir deles. O humor negro e a comédia da série vêm da tensão entre a ambição incessante do mundo ao redor e o desejo simples de Krai por paz e segurança. Vemos suas mãos suarem, seus olhos se arregalarem a cada nova “oportunidade” de aventura, enquanto ele, com uma sinceridade quase dolorosa, apenas quer um plano de saúde e um churrasquinho no fim de semana.
Atributo | Detalhe |
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Produtores | 倉島洋一, 成田明浩, 関戸公人, 和田卓治, 先川幸矢, 高井秀幸 |
Elenco Principal | Kensho Ono, Miyu Kubota, Fairouz Ai, Konomi Kohara, Kohei Amasaki |
Gênero | Animação, Comédia, Ficção Científica e Fantasia |
Ano de Lançamento | 2024 |
Produtoras | Zero-G, GREE Entertainment, avex pictures, MICRO MAGAZINE, Saber Links, BS Nippon Corporation, Tokyo MX |
A escolha de Kensho Ono para dar voz a Krai Andrey foi uma sacada de mestre por parte da equipe de produção – 倉島洋一, 成田明浩, 関戸公人, e tantos outros que se uniram para trazer essa história à vida em estúdios como a Zero-G. Ono tem a habilidade ímpar de infundir em seus personagens uma mistura de vulnerabilidade e ironia. O seu Krai não é apenas medroso; ele é exausto, sardônico em sua autoconsciência. Dá para sentir o peso do mundo em cada suspiro, em cada hesitação, e ao mesmo tempo, a comédia intrínseca de alguém que se vê preso em uma situação tão absurda. Miyu Kubota, Fairouz Ai, Konomi Kohara e Kohei Amasaki, como os amigos de Krai, formam um contraste perfeito, cada um trazendo uma energia que só ressalta a angústia do protagonista. A euforia deles com as aventuras serve como um espelho para o desespero crescente de Krai, criando momentos que são hilários e, ao mesmo tempo, ligeiramente tristes.
A animação, cortesia da Zero-G, consegue capturar tanto o esplendor dos cenários de fantasia e ficção científica quanto as expressões de pânico e desânimo de Krai com uma precisão impecável. Os detalhes visuais dos tesouros, das ruínas e dos monstros criam um pano de fundo magnífico para o sofrimento existencial do nosso herói relutante. E é essa justaposição, entre o grandioso e o patético (no melhor sentido da palavra), que eleva a série. Não é apenas uma comédia boba; é uma exploração das expectativas sociais, da pressão de “ser alguém” e do quão validado é o desejo de simplesmente “ser”.
Let This Grieving Soul Retire é uma brisa fresca no panorama das séries de aventura. Lançada em 2024, e agora, em meados de 2025, já tem seu lugar garantido entre as produções que ousam rir das próprias convenções. É uma série que me fez refletir sobre os meus próprios “sonhos” abandonados e as vezes em que, assim como Krai, tudo o que eu queria era um bom chá e uma tarde de folga. Se você busca uma história que mistura ação empolgante, cenários fantásticos e um humor que vem de um lugar de genuína (e relatable) exaustão, então eu diria que Let This Grieving Soul Retire é uma aposta segura. Só não espere que o Krai vá te motivar a escalar montanhas; ele provavelmente estará sonhando em rolar ladeira abaixo. E tá tudo bem. Na verdade, tá mais do que bem.