Ah, a eterna busca por algo que nos tire do lugar-comum, não é? No meu caso, como alguém que já devorou mais histórias de vampiros do que sangue na vida (e olha que não sou uma criatura da noite, juro!), a novidade é sempre um bálsamo. Sabe aquela sensação de que já viu de tudo? Pois é, eu tava lá, navegando pelas estreias de 2025, um tanto cético, esperando mais uma variante de “vampiro bad boy que se apaixona por humana” ou “sociedade secreta de vampiros blá blá blá”. E então, o título brilhou na minha tela: Li’l Miss Vampire Can’t Suck Right.
Olha, de cara, a ironia já me fisgou. “Não consegue sugar direito”? Em um universo saturado de vampiros que são a epítome da sedução mortal ou da violência gótica, a promessa de uma protagonista que mal cumpre o requisito básico da sua própria espécie é, no mínimo, refrescante. E é exatamente isso que a série entrega, e de um jeito que a gente mal percebe que se rendeu ao charme meio torto de Luna Ishikawa.
Luna, a nossa vampira-título, é uma masterclass em contradições. Ela quer ser a figura sombria e misteriosa que a lenda espera. Você vê isso no jeito que ela tenta se portar, nos olhares que ela ensaia, mas, convenhamos, ela tá mais para um filhote de corvo que acabou de cair do ninho do que para um predador noturno. É baixinha, desajeitada, tropeça no próprio manto (se tivesse um!), e a cereja do bolo: não consegue, de jeito nenhum, realizar o ato mais fundamental de sua existência vampírica. É como ver um chef renomado que não consegue fazer um ovo frito sem queimar a frigideira, ou um músico prodígio que desafina na primeira nota. A gente ri, sim, mas também sente aquela pontinha de empatia pela pobre alma que só quer ser boa naquilo que nasceu pra ser.
O que me prendeu de verdade não foi só a premissa cômica, mas a forma como ela se desdobra. A animação, cortesia do estúdio feel., com uma paleta de cores que alterna entre os tons mais góticos que Luna gostaria de associar a si mesma e a luminosidade quase pastel do cotidiano escolar, é um deleite visual. Os detalhes da expressão facial de Luna, a frustração sutil nos seus olhos quando mais uma tentativa de “sugar” falha miseravelmente, tudo isso é mostrado com uma delicadeza que dispensa longas explicações.
Atributo | Detalhe |
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Produtores | 川浪彩奈, 湯浅隆明, 臼倉竜太郎, 井上秀也, 松井優子, 飯塚彩, 藤野麻耶, 金子広孝, 菊池美穂, 塩谷尚史 |
Elenco Principal | Minami Tanaka, Kensho Ono, M・A・O, Ikumi Hasegawa, 福原かつみ |
Gênero | Animação, Comédia, Ficção Científica e Fantasia |
Ano de Lançamento | 2025 |
Produtoras | feel., Happinet Media Marketing, KADOKAWA, Bandai Namco Music Live, Kansai Television, BS Asahi, AT-X, U-NEXT, Tokyo MX, THE KLOCKWORX, armabianca |
E aí entra o nosso herói, Tatsuta Ootori. Ele é o tipo de personagem que você não espera encontrar em uma trama de vampiros: um colega de classe, aparentemente normal, que, ao descobrir o “pequeno problema de ingestão” de Luna, não corre gritando ou a teme. Pelo contrário, ele se engaja. Ele decide ajudar. É uma dinâmica que inverte a lógica do caçador e da presa, ou do mortal e do imortal. Aqui, temos um ser humano comum tentando ensinar uma vampira a ser, bem, uma vampira. É hilário e surprisingly tocante. Kensho Ono, na voz de Tatsuta, entrega um tom que mistura paciência, curiosidade e uma pitada de diversão, criando um contraponto perfeito para a ansiedade adorável de Luna, magistralmente interpretada por Minami Tanaka. A voz de Tanaka consegue capturar tanto a pretensão gótica quanto a vulnerabilidade e a frustração da personagem de um jeito que você só quer abraçá-la (e talvez dar um tutorial de como usar canudos).
A série, categorizada como Animação, Comédia, Ficção Científica e Fantasia, navega por esses gêneros com uma naturalidade impressionante. A fantasia e a ficção científica se encontram na própria existência dos vampiros e nas peculiaridades de suas habilidades (ou falta delas, no caso de Luna), enquanto a comédia é o motor que impulsiona a narrativa. É um humor leve, mas inteligente, que se apoia na quebra de expectativas e na humanidade (ou “vampiricidade” atrapalhada) de seus personagens. Não é apenas uma sequência de piadas; é a comédia que surge das situações, dos diálogos e da própria essência dos protagonistas.
Os produtores, uma verdadeira constelação de nomes como 川浪彩奈, 湯浅隆明 e 臼倉竜太郎, em colaboração com gigantes como KADOKAWA e Bandai Namco Music Live, montaram uma equipe que soube valorizar a singularidade da ideia. Eles não tentaram transformar Luna em algo que ela não é; eles abraçaram a esquisitice dela e a transformaram na estrela do show. Isso nos faz pensar: quantas vezes na nossa própria vida a gente tenta se encaixar em um molde, quando a nossa maior força está justamente naquilo que nos torna únicos, mesmo que seja a nossa inabilidade de “sugar direito”?
Então, sim, Li’l Miss Vampire Can’t Suck Right não é apenas mais uma série de vampiros. É uma ode aos desajustados, aos que tentam, falham e tentam de novo. É uma história sobre encontrar um amigo onde menos se espera e, quem sabe, descobrir que a sua “fraqueza” pode ser, na verdade, o seu maior charme. E eu, que comecei essa jornada cético, terminei sorrindo, torcendo por Luna, esperando que ela, finalmente, consiga morder alguma coisa… ou pelo menos aprender a usar uma agulha hipodérmica com estilo. Porque, vamos ser sinceros, se ela não consegue sugar direito, ela ainda pode ser uma vampira formidável à sua própria maneira, não é? E essa é a beleza da coisa.