Ah, Lurker. Que filme, meus amigos. Sabe, de vez em quando, a gente se depara com uma história que, de tão incômoda e atual, gruda na nossa pele como uma segunda camada. E foi exatamente essa a sensação que me invadiu ao sair da sala escura, depois de assistir à obra-prima de Alex Russell. Eu preciso escrever sobre isso, preciso compartilhar o turbilhão que esse filme me provocou, porque ele não é só um thriller; é um espelho desconfortável para a nossa era de consumo e voyeurismo digital.
Pensa comigo: a linha entre admiração e obsessão, entre fã e predador, tá cada vez mais tênue, né? Em um mundo onde a vida de celebridades é dissecada em pixels e curtidas, onde a distância parece diminuir com um clique, o que acontece quando alguém decide apagar essa distância de vez? Lurker explora essa pergunta com uma maestria que me deixou arrepiado. Estreou por aqui no dia 16, e já me peguei pensando nele desde então.
A trama, à primeira vista, pode soar familiar: um fã obcecado, Matthew, interpretado por um Théodore Pellerin que transborda uma quietude perturbadora, se infiltra no círculo íntimo de Oliver (Archie Madekwe), uma pop star em ascensão em Los Angeles. Mas a genialidade de Russell está em como ele desdobra essa premissa. Não é só sobre um maluco perseguindo uma estrela; é sobre a construção meticulosa de uma persona, a erosão da privacidade e o pavor gélido de perceber que a muralha que você achava que te protegia não é nada além de um castelo de cartas.
Théodore Pellerin, gente, o que dizer? Ele não interpreta Matthew, ele é Matthew. O olhar dele, aquela mistura de devoção e calculismo, é um estudo de caso em si. Você vê nas suas mãos, que às vezes tremem apenas o suficiente para você questionar se é nervosismo ou antecipação, a fragilidade de uma mente que se desliga da realidade. Pellerin nos mostra um Matthew que não se vê como vilão, mas como alguém que finalmente encontrou seu lugar. Ele não está apenas “lá dentro”; ele pertence lá, na sua cabeça doentia. E essa é a parte que mais me gelou a espinha: a convicção.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Alex Russell |
| Roteirista | Alex Russell |
| Produtores | Olmo Schnabel, Archie Madekwe, Charlie McDowell, Francesco Melzi d'Eril, Duncan Montgomery, Galen Core, Marc Marrie, Alex Orlovsky, Jack Selby |
| Elenco Principal | Théodore Pellerin, Archie Madekwe, Havana Rose Liu, Sunny Suljic, Daniel Zolghadri |
| Gênero | Drama, Thriller, Crime |
| Ano de Lançamento | 2025 |
| Produtoras | High Frequency Entertainment, MeMo Films, Twin Productions, Arts & Sciences, Adler Entertainment, Case Study Films, Wise Pictures, Va Bene Productions |
Do outro lado da moeda, temos Archie Madekwe como Oliver, e ele carrega o peso da fama com uma vulnerabilidade palpável. A gente vê o brilho nos olhos do pop star, o carisma magnético que o faz vender milhões de discos, mas também percebemos as rachaduras na fachada. A vida em Los Angeles, cercada por um entourage que inclui a leal mas sobrecarregada Shai (Havana Rose Liu) e os amigos de longa data Jamie (Sunny Suljic) e Noah (Daniel Zolghadri), parece um sonho. No entanto, é um sonho que rapidamente se transforma em pesadelo quando a presença de Matthew se torna mais do que um devoto anônimo. Madekwe consegue nos transmitir o sufoco de Oliver, a sensação de que o ar está rarefeito, mesmo sob os holofotes mais brilhantes. A performance dele não é só sobre o glamour, é sobre o custo – a perda gradual da sua própria essência, da sua segurança.
O que me prendeu em Lurker foi a forma como Alex Russell, tanto na direção quanto no roteiro, se recusa a entregar respostas fáceis. Não há heróis ou vilões absolutos (embora, claro, a ameaça de Matthew seja inegável). Há apenas uma teia intrincada de relações humanas, expectativas e a ilusão de conexão que a cultura pop nos vende. O filme usa o cenário de Los Angeles, essa cidade que é ao mesmo tempo um paraíso e um deserto, para amplificar essa dualidade. O sol que brilha forte nas piscinas e mansões de Hollywood é o mesmo que ilumina as sombras onde Matthew espreita. A fotografia é linda, mas com um quê de melancolia e ameaça latente.
A produção, com nomes como Olmo Schnabel e Archie Madekwe entre os produtores, além de várias casas como High Frequency Entertainment e MeMo Films, é impecável. Cada detalhe, desde o design de som que acentua a solidão de Oliver até a paleta de cores que oscila entre o vibrante e o opressor, contribui para a imersão. Você sente o calor do asfalto de LA, o murmúrio da multidão e, acima de tudo, o silêncio ensurdecedor que precede um desastre.
E é aqui que o filme realmente me pegou: a forma como ele nos força a refletir sobre a nossa própria relação com a fama. Quantos de nós já não “lurkeramos” um pouco, deslizando pelas redes sociais de alguém que admiramos, sentindo uma conexão que, na verdade, não existe? Lurker pega essa pequena faísca de comportamento humano e a incendeia, mostrando o que acontece quando a admiração se distorce em posse. É um drama de arrepiar, um thriller psicológico que não alivia a tensão e um crime que se desenrola nos corredores da psique.
Alex Russell nos entrega um filme que é um soco no estômago, mas um soco necessário. Ele não apenas entretém; ele provoca, questiona e, talvez o mais importante, nos deixa com uma sensação persistente de desconforto. Lurker é mais do que um filme; é um aviso, um espelho e uma experiência cinematográfica que, garanto, você não vai esquecer tão cedo. Vemos muitos filmes por aí, mas poucos têm essa capacidade de ecoar por dias na mente. Esse é um deles. Saia do cinema e respire fundo. Você vai precisar.




