Mademoiselle Vingança: Uma Elegia em Tons de Borgonha
Emmanuel Mouret, cineasta que vem se consolidando como um mestre do drama romântico francês contemporâneo, presenteou-nos em 2018 com Mademoiselle Vingança. Sete anos depois, a obra continua a ecoar em minha memória, não como um grito estridente, mas como um sussurro persistente, carregado de elegância e amargura. O filme, baseado em uma novela (embora não seja especificado qual), narra o romance tumultuado entre uma viúva rica e um Marquês cínico e manipulador, culminando em uma busca por vingança elaborada e sutilmente cruel. Uma trama clássica, sim, mas nas mãos de Mouret, ela transcende a previsibilidade, oferecendo um estudo de personagem profundo e visualmente deslumbrante.
Uma Dança de Sentimentos Dolorosos
A direção de Mouret é impecável. Ele constrói a narrativa com uma paciência quase monástica, deixando que os diálogos carregados de subtexto e os olhares furtivos revelem as emoções complexas de seus personagens. A fotografia, em tons de Borgonha e dourado, contribui para uma atmosfera opulenta e melancólica, que contrasta com a frieza calculada das ações dos protagonistas. A escolha dos cenários é tão crucial quanto a escolha do figurino, ambos contribuindo para uma imersão completa no período e na atmosfera de opulência e decadência.
O roteiro, também assinado por Mouret, é um primor. Não se trata de um roteiro cheio de reviravoltas chocantes, mas sim de uma construção lenta e gradual da tensão dramática, pontuada por momentos de sarcasmo cortante e diálogos brilhantes que refletem a inteligência e o cinismo de seus personagens. A maneira como Mouret conduz a narrativa, expondo gradualmente as motivações de cada personagem, é um deleite para qualquer cinéfilo que aprecia a arte da construção narrativa.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Emmanuel Mouret |
| Roteirista | Emmanuel Mouret |
| Produtor | Frédéric Niedermayer |
| Elenco Principal | Cécile de France, Édouard Baer, Laure Calamy, Alice Isaaz, Natalia Dontcheva |
| Gênero | Drama, Romance |
| Ano de Lançamento | 2018 |
| Produtoras | Moby Dick Films, ARTE France Cinéma |
E que elenco! Cécile de France, como Madame de La Pommeraye, é simplesmente deslumbrante. Ela retrata a fragilidade e a força de sua personagem com uma sutileza e uma precisão impressionantes. Édouard Baer é o contraponto perfeito, interpretando o Marquês com um charme perigoso e um egoísmo quase patológico. A química entre eles é palpável, eletrizante, e alimenta a tensão central do filme. A atuação de Laure Calamy também merece destaque, assim como a de Alice Isaaz, que interpreta Mademoiselle de Joncquières com uma vulnerabilidade que contrasta com a frieza calculada da personagem principal.
Pontos Fortes e Fracos: Um Balanço Delicado
O maior ponto forte de Mademoiselle Vingança reside em sua atmosfera densa e envolvente. A combinação de direção impecável, roteiro inteligente e atuações magistrais cria uma experiência cinematográfica única e memorável. A exploração dos temas da vingança, da manipulação e das relações de poder é feita com sutileza e profundidade, sem jamais recorrer a soluções fáceis ou moralismos baratos. A beleza visual do filme também merece destaque, resultando em uma experiência estética prazerosa.
Entretanto, o ritmo lento e deliberado pode não agradar a todos os espectadores. Alguns podem achar a narrativa um tanto arrastada, faltando a ação explosiva que esperam de um filme sobre vingança. Para mim, este ritmo lento é parte integral da obra, representando a complexidade das relações humanas e a natureza elaborada da vingança planejada por Madame de La Pommeraye.
Mais do que Vingança: Uma Reflexão Sobre a Natureza Humana
Mademoiselle Vingança não se limita a uma história de vingança. Ele nos oferece um olhar perspicaz sobre a natureza humana, explorando temas como a manipulação, a sede de poder e a fragilidade das relações interpessoais. O filme questiona a natureza da justiça e a eficácia da vingança como forma de resolução de conflitos. É uma reflexão melancólica, porém elegante, sobre as complexidades do amor, ódio e a busca por justiça.
Veredicto: Uma Obra-Prima para Ser Saboreada
Ao revisitar Mademoiselle Vingança em 2025, posso afirmar com convicção que se trata de um filme extraordinário. Embora o ritmo lento possa afastar alguns, a sua elegância, a profundidade de sua narrativa e as atuações excepcionais compensam qualquer possível deficiência. Recomendo fortemente este filme a todos que apreciam dramas românticos complexos e visualmente deslumbrantes. É um filme que precisa ser saboreado, apreciado em cada detalhe, como um bom vinho de Borgonha. Se você busca uma experiência cinematográfica que transcenda o entretenimento superficial, Mademoiselle Vingança é uma escolha perfeita. Prepare-se para ser cativado por sua beleza e perturbado por sua complexidade. A obra ocupa um lugar especial em minha lista de filmes favoritos e certamente deixará sua marca na sua memória também.




