Confesso que cheguei a Marriage Unplugged com um certo ceticismo. Curta-metragem de ficção científica com robôs sexuais? Parecia receita para um filme trash, daqueles que você assiste com os amigos e depois passa a tarde inteira rindo das atuações desastrosas. Mas, para minha grata surpresa, o filme das irmãs Nüesch transcende os clichês do gênero e oferece uma experiência muito mais rica e complexa do que eu poderia imaginar. Lançado em 2024, Marriage Unplugged continua a gerar debates um ano depois de seu lançamento.
A sinopse, sem spoilers, gira em torno de Suzanna e Andrew, um casal aparentemente feliz que se vê confrontado por uma nova realidade com a chegada de um robô sexual à vida deles. A dinâmica do relacionamento, porém, é muito mais do que o simples “troca de parceiro” que o enredo inicial poderia sugerir. Através de um humor ácido e momentos de sensibilidade surpreendentes, o filme explora os desafios da intimidade, a fragilidade do casamento e a busca incessante pela conexão humana num mundo cada vez mais tecnológico.
A direção de Florine e Kim Nüesch é impecável. A fotografia é elegante, e a escolha de enquadramentos reforça a atmosfera de estranhamento e desconforto que permeia a narrativa. A edição é precisa, construindo uma tensão crescente que nos mantém grudados na tela até o final. O roteiro, também escrito pelas irmãs, é inteligente e sutil, evitando a tentação do moralismo fácil e preferindo explorar a complexidade dos personagens.
As atuações são, sem dúvida, o ponto alto do filme. Nikki Amuka-Bird entrega uma performance excepcional como Suzanna, explorando as nuances de uma mulher dividida entre a tradição e a inovação, a fidelidade e a própria autodescoberta. Nicholas Gleaves, como Andrew, também está ótimo, conseguindo transmitir com naturalidade a angústia de um homem confrontando suas inseguranças e a fragilidade de sua própria masculinidade. Os outros atores, embora com papéis menores, cumprem seus objetivos de forma eficiente, sem jamais roubar a cena dos protagonistas.
Atributo | Detalhe |
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Diretoras | Florine Nüesch, Kim Nüesch |
Roteiristas | Florine Nüesch, Kim Nüesch |
Produtores | Florine Nüesch, Kim Nüesch, Johanna Von Salmuth |
Elenco Principal | Nikki Amuka-Bird, Nicholas Gleaves, Sven Ironside, Julia Pilkington |
Gênero | Ficção científica, Comédia, Drama |
Ano de Lançamento | 2024 |
Produtoras | Jeva Films, Nüesch Sisters Productions |
Um dos pontos fortes de Marriage Unplugged é sua capacidade de equilibrar comédia e drama sem jamais cair no melodrama. O humor é inteligente, mordaz, e surge de situações inusitadas que refletem os paradoxos do relacionamento moderno. O filme também não se esquiva de abordar temas delicados, como a infidelidade, a solidão e a busca por significado na vida. Porém, a curta duração do filme – e esta é uma das suas fraquezas – limita um pouco o desenvolvimento dos personagens e da trama. Algumas questões são levantadas, mas não exploradas com a profundidade que elas merecem. Poderia ter sido um longa-metragem? Talvez.
Apesar dessa pequena falha, Marriage Unplugged é um curta-metragem memorável que merece ser visto. A mensagem, apesar de não ser explícita, se instala na mente como uma semente a ser cultivada: a tecnologia pode auxiliar, mas nunca substituirá a genuína conexão humana, o diálogo e a vulnerabilidade que compõem um relacionamento autêntico. O filme se tornou um marco, especialmente ao lidar com questões tão modernas com tanta sutileza e criatividade. Embora não tenha ganhado prêmios de peso, foi amplamente elogiado pela crítica independente por sua abordagem inovadora e ousada.
Recomendo Marriage Unplugged a todos aqueles que apreciam filmes inteligentes, com atuações impecáveis e uma narrativa que te deixa pensando muito depois dos créditos finais. É uma experiência cinematográfica singular e, por sua originalidade e abordagem diferenciada, vale muito a pena. É um filme que nos convida a refletir sobre o futuro da intimidade e do casamento em um mundo cada vez mais moldado pela tecnologia – um futuro que, no entanto, ainda precisa daquela velha dose de humanidade para se tornar, de fato, significativo.