Matar Jesus: Uma Vingança Amarga e Necessária
Laura Mora, cineasta colombiana que vem conquistando espaço no cenário internacional, nos presenteia em 2017 com Matar Jesus, um filme que, apesar de lançado há oito anos (em 15/09/2025), continua ressoando com uma força brutal e desconcertante. O longa acompanha Paula, uma jovem que presencia o assassinato do pai e, meses depois, durante o Natal, se depara com Jesús, o responsável pelo crime. A partir desse encontro explosivo, a vingança se torna o fio condutor de uma narrativa que não se limita ao ato em si, mas mergulha nas profundezas da dor, da culpa e da busca por justiça num sistema falido.
A sinopse acima não revela muito, e é justamente aí que reside parte do gênio de Mora. Ela não se apressa em entregar a trama, construindo a tensão de maneira meticulosa e magistral. O roteiro, escrito em parceria com Alonso Torres, evita os clichês do gênero, optando por uma abordagem crua e realista. Não há aqui heróis ou vilões caricatos; apenas pessoas reais, marcadas pela violência e pela impossibilidade de escapar de suas consequências.
A direção de Mora é impecável. A fotografia, frequentemente sombria e carregada de simbolismo, reforça a atmosfera opressiva que permeia o filme. A escolha de cenas longas e silenciosas, intercaladas com momentos de intensa ação, demonstra um domínio narrativo admirável. A câmera se move com precisão, observando os personagens com uma frieza que os distancia e aproxima ao mesmo tempo, nos forçando a confrontar a complexidade de suas ações e motivações.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretora | Laura Mora |
| Roteiristas | Alonso Torres, Laura Mora |
| Elenco Principal | Natasha Jaramillo, Giovanny Rodríguez, Camilo Escobar, Carmenza Cossio, Juan Pablo Trujillo |
| Gênero | Crime, Drama |
| Ano de Lançamento | 2017 |
| Produtoras | 64A Films, Dago García Producciones |
O elenco está impecável. Natasha Jaramillo, no papel de Paula, entrega uma performance visceral, carregada de uma raiva contida que explode em momentos cruciais. Giovanny Rodríguez, como Jesús, consegue transmitir tanto a fragilidade quanto a periculosidade do personagem com uma sutileza admirável. O restante do elenco, incluindo Camilo Escobar, Carmenza Cossio e Juan Pablo Trujillo, oferece suporte sólido, construindo personagens ricos e complexos.
Um dos pontos fortes do filme é a sua capacidade de nos deixar desconfortáveis. Não há respostas fáceis, nem soluções mágicas. Matar Jesus nos força a encarar a brutalidade da realidade, a falência dos sistemas de justiça e a dificuldade de lidar com a dor e a perda. No entanto, isso não significa que o filme seja sem esperança. A busca por justiça de Paula, embora carregada de violência e raiva, também é uma busca por significado e por um mínimo de paz.
Por outro lado, a lentidão da narrativa pode ser um ponto de atrito para alguns espectadores. A ausência de ação explosiva contínua exige paciência e atenção do público, e a trama pode parecer arrastada em alguns momentos. Mas acredito que essa lentidão é intencional, parte de uma estratégia para nos imersos na angústia dos personagens e na atmosfera opressora do filme.
Em Matar Jesus, Laura Mora nos entrega um estudo profundo sobre vingança, justiça e as consequências da violência, sem cair em moralismos fáceis. O filme é uma experiência visceral, que perturba e permanece na mente muito depois dos créditos finais. Apesar de sua lentidão em momentos específicos, a potência da direção, a força das atuações e a complexidade da narrativa fazem de Matar Jesus um filme essencial para os amantes de cinema que buscam algo além do entretenimento superficial. Recomendo fortemente sua visualização, principalmente em plataformas de streaming, para aqueles que apreciam dramas densos e com uma abordagem realista sobre temas complexos. Afinal, oito anos após seu lançamento, Matar Jesus ainda continua a incomodar e questionar, exatamente como uma grande obra-prima deve fazer.
