Matrix Resurrections: Um retorno melancólico à realidade simulada
Quatro anos se passaram desde que Neo, ou melhor, Thomas Anderson, voltou a nos confrontar com a natureza da realidade em Matrix Resurrections. Confesso, a expectativa era imensa, quase palpável, em 2021. Afinal, quem não sentiu aquele frio na espinha ao ver novamente Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss encarnando os icônicos Neo e Trinity? O filme, dirigido por Lana Wachowski – única sobrevivente da dupla original – nos apresenta novamente a uma realidade fragmentada, um mundo onde a linha entre o real e o simulado se esvai com a mesma elegância e brutalidade que marcam a franquia.
Sem entregar spoilers, a sinopse se resume a isso: Thomas Anderson, um programador de games de sucesso, vive uma vida aparentemente normal até ser confrontado com estranhas coincidências, vislumbres do passado e um reencontro com velhos fantasmas. O coelho branco volta a bater à sua porta, e com ele a escolha de mais uma vez se confrontar com a Matrix, agora mais poderosa e insidiosa do que nunca.
Lana Wachowski, sozinha na direção desta quarta parte, faz uma escolha corajosa. Resurrections é uma carta de amor e ao mesmo tempo um olhar crítico sobre a própria obra original. Não é uma simples sequência, mas uma profunda reflexão meta sobre o legado de Matrix e a sua própria jornada enquanto cineasta. A diretora utiliza-se de uma lente que é simultaneamente nostálgica e desconcertante. A estética familiar da Matrix está presente, porém reimaginada, mais sofisticada, mais sombria.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Lana Wachowski |
Roteiristas | Lana Wachowski, David Mitchell, Aleksandar Hemon |
Produtores | James McTeigue, Lana Wachowski, Grant Hill |
Elenco Principal | Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jonathan Groff, Jessica Henwick |
Gênero | Ficção científica, Ação, Aventura |
Ano de Lançamento | 2021 |
Produtoras | Warner Bros. Pictures, Village Roadshow Pictures, Venus Castina Productions |
O roteiro, escrito por Lana Wachowski em parceria com David Mitchell e Aleksandar Hemon, é, no entanto, o ponto mais controverso. Enquanto alguns críticos o acham brilhantemente meta, uma análise inteligente e autoconsciente da própria natureza da narrativa, outros o consideram excessivamente pretensioso e desconexo. Eu me coloco num ponto intermediário. A ousadia de mergulhar tão fundo na metaficção, de trazer a própria produção e a recepção crítica para dentro da trama, é admirável. No entanto, essa ousadia, por vezes, se torna uma armadilha, resultando em momentos confusos e na diluição de momentos de ação que a franquia sempre ofereceu com maestria.
As atuações, no entanto, são impecáveis. Reeves e Moss demonstram uma química incrível, ainda mais poderosa após todos esses anos. A construção dos personagens, especialmente a da Trinity (ou Tiffany), é comovente e delicada, adicionando camadas de profundidade que enriquecem a já complexa mitologia de Matrix. Yahya Abdul-Mateen II e Jonathan Groff entregam performances convincentes como novas versões de Morpheus e Smith, embora alguns possam sentir falta do carisma original de Laurence Fishburne e Hugo Weaving.
Os pontos fortes de Matrix Resurrections são indiscutivelmente sua ousadia estética, a performance de seus atores principais, e a capacidade de refletir sobre temas complexos, como realidade, livre-arbítrio e a natureza da arte. Entretanto, o roteiro, em sua ambição meta, acaba por prejudicar a clareza narrativa em certos momentos, deixando algumas pontas soltas e uma sensação de incompletude para alguns. A recepção pela crítica, em 2021, foi bastante dividida, exatamente pela natureza controversa da abordagem de Lana Wachowski.
Em termos de temas, a mensagem de “Resurrections” é bem ambígua, girando em torno da importância da escolha individual, da luta contra o controle e a busca pela autenticidade em um mundo cada vez mais mediado pela tecnologia. As referências à filosofia e ao gnosticismo também estão presentes, mas de maneira mais sutil que em filmes anteriores da franquia.
Concluindo, Matrix Resurrections é um filme desafiador e divisivo. Não é uma obra perfeita, e provavelmente não agradará os que procuram uma sequência de ação pura e simples como os anteriores. No entanto, sua ousadia, sua melancolia e sua profunda reflexão sobre o legado de Matrix o tornam uma experiência cinematográfica singular e memorável. É uma obra para ser apreciada e debatida, e se você for capaz de abraçar sua peculiaridade e metaficção, certamente encontrará um retorno gratificante – mesmo que não seja tão satisfatório ou espetacular – ao mundo da Matrix. Recomendo-o para fãs da franquia dispostos a um mergulho em águas mais profundas e mais reflexivas, mas aviso: não espere uma explosão de ação frenética como nas entregas anteriores. A experiência, em sua complexidade, vale o esforço.