Menashe: Uma Luta Pessoal em Preto e Branco
Oito anos se passaram desde que vi pela primeira vez Menashe, e a lembrança daquela experiência ainda me assombra, de forma positiva e inquietante. Este longa-metragem de Joshua Z Weinstein, lançado em 2017, não é um filme fácil. Ele não se entrega à facilidade de respostas fáceis ou narrativas convenientes. Em vez disso, nos mergulha na complexa realidade de Menashe, um viúvo ultra-ortodoxo do Brooklyn lutando pela custódia de seu filho, Rieven, em meio às rígidas regras de sua comunidade.
Um Drama de Tons Sombrios e Beleza Discreta
A sinopse já entrega a premissa: Menashe enfrenta um dilema desolador. A tradição religiosa impõe a separação entre pai e filho, forçando-o a uma escolha terrível. Mas Menashe transcende o drama social. Ele é um estudo de caráter meticuloso, filmado em preto e branco, o que intensifica a sensação de clausura e a fragilidade emocional do protagonista. A câmera observa Menashe com uma empatia quase silenciosa, revelando a sua luta interna, a sua fragilidade, e a sua inabalável determinação. Não há música triunfante, não há momentos grandiloquentes. Há apenas a realidade crua, filmada com uma beleza austera que me tocou profundamente.
Atuações Naturalistas e Direção Contemplativa
Joshua Z Weinstein não apenas dirige o filme, como também co-escreve o roteiro, juntamente com Alex Lipschultz e Musa Syeed. O que torna Menashe excepcional é a maneira como ele integra atores não-profissionais, principalmente Menashe Lustig no papel principal. A performance de Lustig é verdadeiramente extraordinária. Não é uma atuação no sentido tradicional; é uma exposição da alma. A sua vulnerabilidade, sua dor, sua luta pela dignidade são palpáveis. Os outros atores, como Ruben Niborski e Yoel Weisshaus, também se entregam a essa estética naturalista, reforçando a autenticidade do mundo retratado. A direção de Weinstein é contemplativa, quase documental em sua abordagem. Ele não julga os personagens; ele os observa, os acompanha em sua jornada, deixando que suas ações e reações falem por si.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Joshua Z Weinstein |
Roteiristas | Joshua Z Weinstein, Alex Lipschultz, Musa Syeed |
Produtores | Daniel Finkelman, Yoni Brook, Alex Lipschultz, Traci Carlson, Joshua Z Weinstein |
Elenco Principal | Menashe Lustig, Ruben Niborski, Yoel Weisshaus, Meyer Schwartz, Yoel Falkowitz |
Gênero | Drama |
Ano de Lançamento | 2017 |
Produtoras | Maiden Voyage Pictures, Autumn Productions, Green Productions, Sparks Go |
Pontos Fortes, Fracos e a Dura Realidade
A força de Menashe reside na sua honestidade. Ele não romantiza a fé ou a paternidade. Ele apresenta a realidade nua e crua, sem filtros. A fragilidade de Menashe, sua incapacidade de lidar com a dor e a pressão da comunidade, é perturbadora, mas ao mesmo tempo, profundamente humana. O filme também apresenta uma crítica subtil, mas perspicaz, sobre a rigidez da tradição religiosa e o seu impacto na vida das pessoas.
Entretanto, a crítica que menciona a ausência de respostas a perguntas implícitas não está totalmente errada. Menashe opta por mostrar, não explicar, e essa opção pode deixar alguns espectadores desconfortáveis. A ausência de um arco narrativo clássico, com uma resolução dramática fácil, pode ser interpretada como um ponto fraco por aqueles que buscam conforto em narrativas mais convencionais. Para mim, porém, essa ambiguidade é uma virtude, reflectindo a própria complexidade da vida.
Uma Reflexão Sobre Fé, Paternidade e a Condição Humana
Menashe não é um filme sobre religião, mas sobre a condição humana. É uma história sobre a paternidade, a fé, e o desejo inato de pertencimento. Ele explora a relação complexa entre pai e filho, e como a fé, ao invés de oferecer conforto, pode se tornar uma fonte de sofrimento e isolamento. A luta de Menashe pela custódia de Rieven é, acima de tudo, uma luta pela sua própria identidade e pela sua dignidade.
Conclusão: Uma Obra-Prima Discreta
Em 2025, olhando retrospectivamente, considero Menashe uma obra-prima discreta, uma pérola escondida que merece ser redescoberta. Não é um filme para todos. Ele exige paciência, reflexão e a capacidade de se envolver com a narrativa de forma mais introspectiva. Mas para aqueles dispostos a se entregarem à sua beleza austera e à sua honestidade brutal, Menashe oferece uma experiência cinematográfica inesquecível e profundamente comovente. Eu recomendo fortemente a sua visualização, principalmente para aqueles interessados em cinema independente, dramas realistas e reflexões sobre a condição humana em seus aspectos mais vulneráveis.