Sabe quando a gente topa com um filme que, de repente, vira uma daquelas conversas com os amigos que se estendem pela madrugada? Aqueles que a gente desenterra anos depois e percebe que, olha, ele ainda tem algo a dizer? Pois é, para mim, Meu Namorado Fake (ou “Fake Boyfriend”, no original, que chegou por aqui em meados de 2022) foi exatamente isso. Três anos depois da sua estreia no Brasil, e com a efemeridade do streaming nos inundando de novidades a cada semana, me pego pensando sobre Andrew e seu dilema de um jeito que poucas comédias românticas conseguem. E o porquê? Ah, é mais do que a simples fórmula do “boy meets boy, boy gets fake boy, boy gets real boy”. É sobre a desorganização bonita e dolorosa de tentar arrumar a própria vida amorosa com as ferramentas erradas.
Eu, particularmente, tenho um fraco por comédias românticas. Elas são como um abraço quentinho num dia frio, mas, muitas vezes, pecam pela previsibilidade, né? E quando se trata de narrativas LGBTQIA+, o desafio é ainda maior: como ser autêntico, divertido e, ao mesmo tempo, fugir dos clichês que a gente tanto vê? Meu Namorado Fake, dirigido pela Rose Troche, não reinventa a roda, mas a faz girar com uma leveza e um charme que conquistam. A história central, a gente já conhece: Andrew (Keiynan Lonsdale), preso num relacionamento tóxico com Nico (Marcus Rosner), precisa de um empurrão para seguir em frente. E quem entra em cena? Seus dois amigos adoráveis e meio desastrados, Kelly e Jake (Dylan Sprouse, com aquela energia contagiante que a gente adora). A solução que eles bolam? Criar um namorado fake para Andrew nas redes sociais. Um “catfish” do bem, por assim dizer, para que Nico finalmente o deixe em paz.
Agora, pare e pense comigo: o que poderia dar errado? Quase tudo, claro! E é aí que a gente se joga no sofá, com um sorriso no rosto e um caderninho na mão para anotar as lições. O brilho de Keiynan Lonsdale como Andrew é inegável. Não é só a beleza – que é muita, sejamos honestos –, é a forma como ele nos entrega um personagem que, por trás da fachada de “tudo bem”, esconde uma fragilidade palpável. Você consegue sentir a exaustão de Andrew, a maneira como ele se encolhe ligeiramente ao menor sinal de toxicidade do ex, e a esperança quase infantil quando a ideia do namorado fake surge. É um balé entre o medo de magoar e o desespero por liberdade, tudo isso sem cair no melodrama. É como assistir a uma delicada flor desabrochando lentamente depois de uma tempestade prolongada.
E Jake, interpretado por Dylan Sprouse? Ele é a personificação do caos bem-intencionado. Sprouse tem um timing cômico afiado, e a dinâmica entre ele e Andrew é o coração da amizade que sustenta o filme. Não é o amigo perfeito, mas é o amigo que está lá, com as melhores intenções e, ocasionalmente, as piores ideias. A gente ri com ele, mesmo sabendo que a bola de neve que ele e Kelly estão criando vai virar uma avalanche. E essa é a beleza da atuação: não apenas ele diz as falas, ele as vive, e o nervosismo por trás dos olhos enquanto ele tenta manter a farsa é quase tátil.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretora | Rose Troche |
| Roteiristas | Luke Albright, Joe Wanjai Ross |
| Elenco Principal | Keiynan Lonsdale, Dylan Sprouse, Samer Salem, Marcus Rosner, Karen Robinson |
| Gênero | Comédia, Romance |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | BuzzFeed Studios, CR8IV DNA |
A complicação, o pivô que faz a trama realmente engrenar, é quando Andrew encontra Rafi (Samer Salem). Ai, Rafi! Aquele tipo de pessoa que surge na nossa vida e nos faz questionar tudo que a gente achava que sabia sobre “o certo” e “o seguro”. Salem traz uma serenidade e uma química tão natural com Lonsdale que você torce por eles desde o primeiro olhar. É aquele amor que não te empurra para o precipício, mas te convida a um voo suave, sabe? Mas como Andrew vai se entregar a esse voo se ele está preso na teia da própria mentira, um namorado fake que, de repente, se tornou um obstáculo? A tensão é construída com um bom humor agridoce, e você se pega roendo as unhas, esperando o momento inevitável da revelação.
Os roteiristas Luke Albright e Joe Wanjai Ross, sob a batuta de Rose Troche, souberam equilibrar a leveza da comédia com a seriedade dos temas subjacentes. Não é só sobre um plano maluco; é sobre o processo de cura, de aprender a se valorizar depois de um relacionamento abusivo, de encontrar a coragem para ser honesto – primeiro consigo mesmo, depois com os outros. A produção da BuzzFeed Studios e CR8IV DNA trouxe uma estética limpa, moderna, que serve bem à narrativa.
Meu Namorado Fake não é um filme que tenta mudar o mundo com um discurso grandioso. Ele faz algo mais sutil e, talvez por isso, mais impactante: ele normaliza o amor queer em um cenário de comédia romântica despretensiosa, sem focar no trauma ou na aceitação, mas sim nos dramas universais do coração. A gente vê a gaydar trabalhando, os amigos tentando dar uma de cupidos desajeitados, os flertes que te deixam com borboletas no estômago. É a vida, com suas complicações e suas alegrias, mas sob uma perspectiva que, por muito tempo, foi marginalizada nas telas.
Há três anos, quando ele estreou, eu saí com a sensação de ter visto algo genuíno. E hoje, em 2025, essa sensação só se aprofundou. Meu Namorado Fake é um lembrete de que, muitas vezes, as soluções mais complicadas são as que a gente cria para evitar encarar as verdades mais simples. E que o amor, o amor de verdade, tem uma maneira peculiar de aparecer, mesmo quando a gente está ocupado demais tentando se safar de uma mentira. É um filme para rir, para se identificar com as inseguranças, e para, quem sabe, se inspirar a largar os “namorados fake” da própria vida e abrir espaço para o real. Você já parou para pensar quantos namorados “fake” você tem na sua vida? Às vezes, a gente só precisa de um Jake para bagunçar tudo e nos levar de volta ao que realmente importa. E, honestamente, não há nada de fake nisso.




