Meu Nome é Chihiro

Ah, sabe, existem filmes que nos encontram. Não somos nós que os escolhemos, mas eles, em sua quietude, se aconchegam em nossa alma e nos oferecem um espelho. Meu Nome é Chihiro, o drama japonês que Rikiya Imaizumi nos presenteou em 2023, é exatamente um desses encontros. É uma obra que, sem gritos ou reviravoltas grandiosas, se aninha na gente e nos faz sentir, profundamente, a complexidade da solidão e a beleza intrínseca da conexão humana. E é por essa ressonância tão particular que sinto a necessidade de escrever sobre ele.

A trama nos apresenta Chihiro, interpretada com uma serenidade que desarma por Kasumi Arimura. Chihiro, uma mulher que já trilhou caminhos difíceis, tendo trabalhado como prostituta, encontra um novo capítulo para sua vida em uma pacata cidade litorânea. A mudança veio de um lugar surpreendentemente simples: um bento. Sim, uma marmita bem feita, cheia de sabor e afeto, que ela comeu por acaso e que, de alguma forma, tocou-lhe a alma o suficiente para fazê-la fincar raízes ali e trabalhar na lojinha que os vende.

E é nesse cenário tão cotidiano que a magia de Meu Nome é Chihiro desabrocha. Chihiro não esconde seu passado; ela o carrega com uma dignidade silenciosa, sem vergonha. A cada cliente que entra na loja de bentôs, ela não apenas entrega uma refeição, mas também oferece um ouvido atento, um sorriso sincero e palavras que, mais do que conselhos, são um bálsamo. Ela escuta sobre dilemas de relacionamentos, angústias de um pai solitário, os desencontros de uma garota do high school que se sente invisível. Nessas conversas, vemos a vida, em suas micro-narrativas, desdobrar-se diante de nós, cada uma tão real e palpável que você quase sente o cheiro do arroz e dos legumes frescos.

Mas aqui reside a nuance que tanto me cativou: Chihiro não é uma figura idealizada de perfeição. Longe disso. Ela mesma carrega um peso, uma solidão antiga que se iniciou em sua infância, com a dinâmica familiar que a marcou. Essa dor, no entanto, não a paralisa; ela a impulsiona. Cada nova interação, cada cliente que se abre para ela – seja a jovem Kuniko Seo (Okaji), ou o enigmático Taniguchi, a desorientada Hitomi ou o doce Basil – é uma oportunidade não só para confortar, mas para se confortar. É como se cada pedacinho de solidão que ela absorve dos outros fosse, de alguma forma, um pedaço que ela também consegue curar em si mesma. É um processo lento, um passo de cada vez, mas é um processo de superação genuíno.

AtributoDetalhe
Diretor今泉力哉
Roteiristas今泉力哉, 澤井香織
ProdutorAkira Yamano
Elenco PrincipalKasumi Arimura, 豊嶋花, 若葉竜也, 佐久間由衣, Van
GêneroDrama
Ano de Lançamento2023
ProdutorasAsmik Ace, Digital Frontier, Netflix

Kasumi Arimura, como Chihiro, é o coração pulsante do filme. Sua performance é de uma sutileza arrebatadora. Ela não precisa de grandes discursos para nos transmitir o peso e a leveza de sua personagem. Um olhar, um leve tremor nas mãos enquanto ouve uma história difícil, o modo como ela segura o bento antes de entregá-lo – tudo isso fala volumes. As atuações de 豊嶋花 como a jovem Kuniko, 若葉竜也 como Taniguchi, 佐久間由衣 como Hitomi e Van como Basil, também são essenciais, formando um mosaico de almas que complementam e enriquecem a jornada de Chihiro. Cada um deles traz uma perspectiva diferente sobre a solidão e a busca por conexão, desde as questões da relação pai-filho até as dores do crescimento.

O diretor Rikiya Imaizumi, que também assina o roteiro com 澤井香織 (Kaori Sawai), adapta com maestria o mangá “Chihirosan” de Hiroyuki Yasuda. Ele constrói um filme contemplativo, onde o silêncio e os momentos de introspecção são tão importantes quanto os diálogos. A direção não tem pressa, permite que as emoções se manifestem gradualmente, sem artifícios. As imagens da cidade litorânea são um bálsamo para a alma, e a trilha sonora, tão thoughtful quanto o enredo, pontua a narrativa sem jamais roubar o protagonismo da história humana. É um slice of life no sentido mais puro, que nos convida a observar, a sentir, a refletir sobre a vida como ela é.

Meu Nome é Chihiro é uma jornada introspectiva através de almas solitárias, todas buscando seu lugar no mundo, sua própria forma de amor e compreensão. É um filme que, em 2023, nos ofereceu lições poderosas sobre família, perdão e compaixão. Lembro-me de sair da sessão com uma sensação agridoce, mas profundamente confortante, como aquele primeiro bento da Chihiro. Ele nos lembra que a vida é cheia de contradições, que as pessoas são cheias de camadas e que, muitas vezes, a maior força reside em nossa capacidade de nos conectar, mesmo carregando nossas próprias cicatrizes. E, no fim das contas, quem de nós não precisa de um pouco disso, não é? De uma Chihiro em nossas vidas, ou de ser a Chihiro para alguém. É isso o que essa joia cinematográfica nos convida a ser.

Trailer

Oferta Especial Meli+

Assine o Meli+ e assista a Meu Nome é Chihiro no Netflix (incluso na assinatura).

Você ainda ganha frete grátis no Mercado Livre, Deezer Premium e muito mais. *Benefícios sujeitos aos termos do Meli+.

Assinar Meli+