Milionário: Um Documentário Que Nos Obriga a Olhar para o Abismo da Sorte (e da Desonestidade)
Acabei de assistir a Milionário, o documentário chileno que estreou no Brasil em 28 de agosto de 2025, e ainda estou processando a experiência. Não é um filme que se assiste de forma passiva; é um filme que te agarra pela gola e te força a confrontar questões complexas sobre ganância, honestidade e a ilusão do sonho do enriquecimento rápido. A premissa é simples: um homem chileno tenta resgatar seu prêmio da loteria com um bilhete danificado, desencadeando uma investigação que revela muito mais do que um simples caso de papel rasgado.
A direção de José e Felipe Isla, em parceria com a produtora Gran Montana e a Fundación Kumelén, demonstra uma habilidade ímpar em construir suspense a partir de uma história que, a princípio, parece ter um desenrolar previsível. O roteiro, assinado por Isla, Isla, Quiroz Saavedra e Caro-Valdés, é impecável na sua construção narrativa, alternando momentos de humor negro com outros de profunda tensão. Não se trata de uma simples exposição de fatos; o roteiro tece uma trama que nos deixa na ponta da cadeira, questionando a veracidade das declarações de cada personagem envolvido.
Os protagonistas, todos interpretando a si mesmos – Nicolás Rojas, José Próspero Riveras, Juvenal Rivera, Carlos Reyes e Don Arturo Guíñez – são a alma deste documentário. Sua autenticidade é cativante, e a ausência de uma narrativa hollywoodiana aumenta a força bruta da realidade retratada. São pessoas comuns, com suas contradições e ambiguidades, que nos confrontam com a fragilidade humana diante de uma fortuna repentina. A atuação, se é que podemos chamar assim, é genuína e poderosa; a naturalidade deles torna a experiência ainda mais impactante.
Atributo | Detalhe |
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Roteiristas | Felipe Isla, José Isla, Susana Quiroz Saavedra, Loreto Caro-Valdés |
Produtores | José Isla, Felipe Isla |
Elenco Principal | Nicolás Rojas, José Próspero Riveras, Juvenal Rivera, Carlos Reyes, Don Arturo Guíñez |
Gênero | Documentário |
Ano de Lançamento | 2025 |
Produtoras | Gran Montana, Fundación Kumelén |
Um dos pontos fortes de Milionário reside exatamente na sua capacidade de nos fazer duvidar. A cada depoimento, a cada detalhe revelado, o espectador é instado a questionar não apenas a honestidade dos envolvidos, mas também a própria natureza da verdade. O filme não oferece respostas fáceis, e isso, para mim, é um triunfo. Por outro lado, a narrativa, em alguns momentos, pode se tornar um pouco arrastada, o que poderia ter sido contornado com um ritmo mais ágil na edição.
A mensagem central do filme transcende a simples anedota da loteria. Milionário nos apresenta um retrato cru da sociedade chilena, com suas desigualdades sociais e as tentações que a riqueza inesperada pode desencadear. Ele aborda temas como a corrupção, a amizade, a ganância e a ilusão de uma vida melhor, temas que ressoam profundamente e transcendem fronteiras geográficas. O filme nos questiona: o que faríamos se nos encontrássemos na mesma situação? A resposta, seguramente, não é simples.
Em resumo, Milionário é um documentário indispensável para quem aprecia narrativas autênticas e que instigam reflexão. Apesar de alguns pequenos deslizes de ritmo, a força da sua narrativa, a autenticidade das personagens e a pertinência de seus temas superam em muito quaisquer falhas técnicas. Recomendo fortemente sua visualização, especialmente para aqueles que apreciam documentários que não se esquivam de explorar a complexidade da condição humana. Se você busca um filme de entretenimento leve e descompromissado, talvez Milionário não seja a sua escolha. Mas se busca uma experiência cinematográfica profunda e provocadora, não perca a oportunidade de assisti-lo. A poucos dias de 18 de setembro de 2025, ainda estou pensando sobre ele. E isso, para um crítico de cinema, é o melhor elogio que posso dar.