Missão Pet

Missão Pet: Uma Viagem de Trem que Promete Agitar Nossos Corações (e Estômagos!)

Quando o calendário marca 25 de setembro de 2025, minha agenda de crítico já está repleta, mas há um título que vinha rondando minhas expectativas com uma curiosidade quase infantil: Missão Pet. E digo infantil não por se tratar de uma animação, mas pela audácia de sua premissa e pela fusão de gêneros que prometia. E, veja bem, não é todo dia que nos deparamos com um filme que flerta tão descaradamente com a comédia, a aventura, o drama e, de repente, o thriller num pacote só.

O que se desenrola na tela é uma daquelas histórias que te prendem pela originalidade, mesmo que a cada estação você sinta o cheiro de um perigo iminente. A premissa é simples, mas eficaz: um trem parte inesperadamente, levando consigo apenas animais de estimação. Já aí, a gente pensa: “Ah, que fofinho, uma aventura de bichinhos!”. Mas o charme logo dá lugar à tensão quando descobrimos que por trás dessa viagem sem volta está Hans, um texugo que parece ter um ranço do tamanho do comboio. A coisa aperta mesmo quando o acidente se anuncia como algo quase inevitável. É aí que entra em cena Falcon, um guaxinim, digamos, “travesso” (e essa é uma maneira muito gentil de descrever seu carisma imprevisível), que se vê na posição de herói improvável, disposto a tudo para salvar a bicharada.

A Engrenagem por Trás da Aventura: Direção, Roteiro e Vozes

O grande trunfo de Missão Pet reside na forma como a dupla de diretores, Benoît Daffis e Jean-Christian Tassy, orquestra essa cacofonia de emoções. A direção é ágil, sabe quando acelerar para o frenesi da aventura e quando desacelerar para um momento de comédia mais sutil ou de tensão silenciosa. A animação, um trabalho das produtoras TAT Productions e Apollo Films, entre outras, carrega aquele charme europeu que se afasta do espetáculo megalomaníaco de Hollywood, optando por uma expressividade mais focada nos personagens e em sua narrativa.

No departamento de roteiro, a equipe formada por David Alaux, Eric Tosti, Jean-François Tosti e o próprio Benoît Daffis, merece aplausos por não ter medo de abraçar a complexidade dos gêneros. O texto não subestima a inteligência do público, mesmo que o alvo primário sejam as famílias. Há piadas que funcionam em múltiplos níveis e momentos de suspense que realmente funcionam como um thriller compacto, fazendo você roer as unhas (metaforicamente, claro, se você não for um animal de estimação). A forma como eles desenvolvem a motivação de Hans, o texugo, sem cair no clichê do vilão puramente maléfico, é particularmente interessante. Há uma camada de ressentimento que, embora não justifique suas ações, o torna minimamente compreensível.

E o que dizer do elenco de vozes? Absolutamente fundamental em qualquer animação. Damien Ferrette entrega um Falcon que é pura energia, com a dose certa de malícia e heroísmo. Sua voz dá vida a um personagem carismático que, de fato, carrega o filme nas costas. Frantz Confiac, como Hans, é a personificação da mágoa, e sua performance vocal adiciona camadas de ameaça e, curiosamente, de vulnerabilidade ao vilão. Os coadjuvantes, como Rex de Hervé Jolly e Maguy de Kaycie Chase, além dos versáteis Randy e Jimi de Emmanuel Garijo, completam o quadro com uma galeria de personalidades que são tanto hilárias quanto comoventes.

Pontos Fortes e Fracos: O Equilíbrio da Jornada

Entre os pontos fortes, a mistura de gêneros é, sem dúvida, o mais notável. Missão Pet não é apenas uma aventura divertida; é uma comédia esperta e um thriller surpreendentemente eficaz, tudo embalado numa animação vibrante. O ritmo é um destaque, mantendo o espectador engajado do início ao fim. A originalidade da premissa e a construção dos personagens, especialmente de Falcon e Hans, são o coração pulsante do filme. A animação, com seu estilo distintivo, é um deleite visual.

No entanto, como em toda viagem de trem, nem tudo é paisagem idílica. O principal ponto fraco pode ser, paradoxalmente, a própria ambiciosa mistura de gêneros. Em alguns momentos, a transição entre a comédia leve e o suspense mais intenso pode parecer um pouco abrupta para os muito jovens, exigindo um breve ajuste de tom. Além disso, embora o vilão Hans seja bem construído, o filme poderia ter explorado um pouco mais as nuances de seu passado para justificar sua rancorosidade de forma ainda mais potente, oferecendo um arco emocional mais completo.

Temas e Mensagens: Muito Além dos Pelos e Penas

Por trás da aventura e das risadas, Missão Pet aborda temas universais. A camaradagem e o trabalho em equipe emergem como pilares, mostrando que mesmo os animais mais improváveis podem se unir para superar adversidades. A ideia do herói inesperado, encarnado por Falcon, ressoa com força, provando que a coragem pode vir de onde menos se espera, e muitas vezes de quem mais bagunça. O filme também toca na questão da mágoa e do rancor, representados por Hans, e suas consequências destrutivas, oferecendo uma reflexão, ainda que sutil, sobre o perdão e a superação. E claro, a inegável conexão e o amor incondicional que temos por nossos pets, mesmo que eles estejam metidos em uma confusão sobre trilhos.

Conclusão: Embarque Nessa Aventura!

Missão Pet é uma grata surpresa, um filme que ousa ir além das fórmulas batidas e entrega uma experiência cinematográfica rica e empolgante. É um exemplo brilhante de como a animação pode ser complexa, divertida e emocionante ao mesmo tempo. É o tipo de filme que te faz rir alto, segurar a respiração e, no final, sair do cinema com um sorriso bobo no rosto.

Minha recomendação é clara: embarquem nessa aventura! Se você busca uma animação que não apenas entretém, mas que também te prende com uma história inteligente e personagens cativantes, Missão Pet, que chega hoje aos cinemas brasileiros, é a sua pedida. É um longa-metragem que agrada a todas as idades, com camadas para os pequenos e para os adultos, e que, sem dúvida, deixa uma marca positiva. Prepare-se para uma viagem inesquecível, onde o perigo espreita, mas a diversão e a emoção estão garantidas.