O tempo, ah, o tempo… Ele tem essa mania irritante de nos fazer olhar para trás, não é mesmo? Em meados de outubro de 2025, enquanto a folha de chá do outono já tinge o asfalto, me pego refletindo sobre filmes que, de alguma forma, deixaram uma marca. E um deles, que vem à tona com um miado discreto e um brilho de joia roubada, é Mulher-Gato: A Caçada, lançado lá em 2022. Por que falar dele agora? Talvez seja a nostalgia por uma animação que ousou ser um pouco mais adulta, um pouco mais… felina, ou talvez a eterna busca por um bom thriller de assalto embalado em celuloide digital.
Não sou de ver super-heróis o tempo todo, mas Selina Kyle sempre teve um charme inegável. Ela não é a heroína de capa e espada, nem a vilã de coração sombrio; ela mora naquela zona cinzenta gostosa onde o moral é tão fluido quanto um gato se esgueirando por um beco escuro. E é exatamente essa Selina que Mulher-Gato: A Caçada tenta capturar. A premissa é simples na superfície: uma joia inestimável, um roubo. Mas, como sempre acontece quando a Mulher-Gato entra em cena, o que começa como um “trabalho” transforma-se numa teia de aranha que prende não só um consórcio de vilões de alto calibre, mas também a Interpol e, para complicar de vez, a Batwoman. É um verdadeiro jogo de gato e rato – com vários gatos e, quem diria, até um morcego na mistura.
Quando a Mulher-Gato de Elizabeth Gillies abre a boca, você percebe imediatamente que há algo ali. Há uma elegância, um atrevimento e uma dose de perigo que ressoa com o design da personagem. E, convenhamos, os designs visuais do filme são um dos seus maiores trunfos, especialmente para a própria Mulher-Gato e um certo Máscara Negra, que surge com uma presença tão imponente quanto sua voz, cortesia de Jonathan Banks. Cada dobra de seu traje, cada movimento de seu chicote, parece ter sido desenhado para enfatizar sua agilidade e sua astúcia. Ela não anda; ela flui, quase dança pelo cenário, uma sombra sedutora e imprevisível.
Mas, para cada acerto, há sempre um arranhão, não é? A gente se pega pensando na edição, por vezes um pouco… errática. É como se a narrativa, por vezes, estivesse tentando alcançar a Mulher-Gato em uma de suas fugas e, vez ou outra, perdesse o fôlego. O ritmo, em alguns momentos, parece tropeçar, e isso pode quebrar um pouco a imersão. E se a voz de Gillies para Selina Kyle foi uma lufada de ar fresco, a Batwoman de Stephanie Beatriz, para muitos, incluindo eu, não conseguiu alcançar a mesma ressonância. Não que seja ruim, mas falta aquela faísca que a gente espera de um confronto tão icônico. A tensão entre as duas, que deveria ser um dos pilares do filme, acaba por não vibrar tão intensamente quanto poderia.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | 寺沢伸介 |
| Roteirista | Greg Weisman |
| Produtores | Colin A.B.V. Lewis, Ethan Spaulding |
| Elenco Principal | Elizabeth Gillies, Stephanie Beatriz, Jonathan Banks, Steve Blum, Lauren Cohan |
| Gênero | Animação, Ação, Crime |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Warner Bros. Animation, DC Entertainment |
Dirigido por Shinsuke Terasawa e roteirizado por Greg Weisman, a produção da Warner Bros. Animation e DC Entertainment tentou algo ambicioso. Não é todo dia que vemos uma animação de super-heróis se inclinar tão fortemente para o gênero crime puro, sem medo de explorar as nuances morais dos seus personagens. A violência é mais estilizada, as apostas são mais pessoais, e o ar geral é de uma Gotham (ou melhor, um mundo adjacente a Gotham) mais crua e perigosa. É uma celebração da Mulher-Gato como uma força autônoma, uma ladra mestre que opera em suas próprias regras, e não apenas como um apêndice do Batman.
E essa é a beleza de Mulher-Gato: A Caçada: mesmo com seus pequenos tropeços no caminho, ele nos oferece uma Selina Kyle que é a protagonista de sua própria história, uma caçadora e uma presa em um jogo de xadrez de alto risco. Lauren Cohan como Julia Pennyworth adiciona um toque de humanidade e humor bem-vindo, enquanto a presença de pesos pesados como Solomon Grundy, com a voz gutural de Steve Blum, eleva a sensação de perigo constante. É uma animação adulta que cumpre a promessa de ser mais do que apenas uma aventura infantil de super-heróis, mesmo que a execução não seja sempre perfeita.
Então, ao final dessa reflexão, a pergunta permanece: Mulher-Gato: A Caçada vale o seu tempo, mesmo três anos depois de seu lançamento? Eu diria que sim, se você busca uma história que celebra a astúcia e a ambiguidade moral de Selina Kyle, e se você pode perdoar alguns engasgos na edição. É um lembrete de que, por vezes, as imperfeições são o que tornam uma obra mais interessante, mais humana. Afinal, Selina Kyle não é perfeita, e talvez seja por isso que a amamos tanto. Ela é um convite para o caos, um olhar para o lado mais sombrio, mas também o mais fascinante, do universo DC. E, no fim das contas, quem não gosta de uma boa caçada, mesmo que o prêmio seja apenas a diversão de assistir?




