Natal sem Filtro

Natal Sem Filtro: Uma Comédia Familiar que Cai na Armadilha do Doce

Confesso que cheguei a “Natal Sem Filtro” com certa reserva. Filmes natalinos, especialmente aqueles voltados para a família, muitas vezes caem na mesmice açucarada, sem ousar explorar a complexidade das relações humanas. E sim, em alguns pontos, o longa de Sarah e Zachary Ray Sherman, lançado no Brasil em 1º de dezembro de 2022, se aproxima dessa armadilha, mas felizmente não chega a sucumbir completamente a ela. A premissa é simples: Becky, uma menina que se sente invisível para sua família, faz um pedido de Natal peculiar – ser realmente ouvida. O pedido é atendido de forma literal e inusitada, fazendo com que ela perca o filtro e comece a dizer exatamente o que pensa, gerando um caos hilário e, por vezes, comovente, nas festividades natalinas.

A direção de Sarah e Zachary Sherman, apesar de não reinventar a roda, é competente. Eles conseguem construir uma atmosfera familiar aconchegante, explorando bem os cenários natalinos clássicos, sem cair no excesso kitsch. A fotografia, nada excepcional, cumpre seu papel. Mas é na condução dos momentos de humor e de drama que a direção mostra suas limitações. Há uma certa imprevisibilidade na transição entre esses tons, criando, em alguns momentos, uma sensação de desequilíbrio.

O roteiro de Billie Bates apresenta um bom ponto de partida, mas peca em aprofundar alguns dos personagens secundários. A dinâmica familiar é o centro da trama, com Alison Fernández, como Becky, carregando o peso da narrativa em seus ombros. Fernández entrega uma performance admirável, conseguindo transmitir a frustração, a insegurança e, posteriormente, a libertação da personagem com naturalidade. Judy Reyes, como Carol, a mãe de Becky, também se destaca, imprimindo uma complexidade à personagem que evita a caricatura da “mãe perfeita” tão comum nesses filmes. Os demais atores, Andrew Hunter, David DeLao e Taylor Castro, cumprem seus papéis, mas suas atuações ficam um pouco aquém, principalmente em relação aos momentos dramáticos.

A maior força do filme reside na sua mensagem central sobre a importância da comunicação e da escuta ativa nas relações familiares. A premissa, embora fantástica, funciona como uma metáfora para o quão vital é dar voz aos sentimentos, mesmo que isso signifique enfrentar conflitos e confrontar verdades incômodas. “Natal Sem Filtro” nos lembra que o Natal, para além das luzes e presentes, deve ser um momento de conexão genuína, de empatia e de compreensão.

No entanto, o filme tropeça em alguns momentos de humor forçado, o que acaba por diluir o impacto emocional de algumas cenas. A construção dos conflitos, embora existam momentos genuinamente emocionantes, se mostra previsível em alguns pontos. A resolução dos problemas, por sua vez, é um pouco apressada, como se o roteiro tivesse pressa em chegar ao final feliz. Isso, acredito, tenha sido uma estratégia para manter o filme em um ritmo ágil, mas acabou por prejudicar o desenvolvimento de alguns temas.

Considerando o contexto da produção – uma coprodução da Tycor International Film Company e MarVista Entertainment lançada em 2022 – “Natal Sem Filtro” se encaixa na categoria de filmes natalinos para toda a família, sem grandes pretensões artísticas. Não espere uma obra-prima cinematográfica, mas sim uma opção leve e agradável para uma sessão de cinema caseira em um dia chuvoso de setembro de 2025, ideal para assistir no aconchego do lar através do streaming. Sua recepção pela crítica foi, na minha opinião, razoável – acredito que o filme tenha sido corretamente colocado em seu lugar. Não é um filme memorável, mas cumpre o seu propósito e diverte sem se tomar muito a sério.

Conclusão: Recomendo “Natal Sem Filtro” para famílias com crianças e adolescentes em busca de um filme natalino despretensioso, leve e com uma mensagem positiva, ainda que previsível. Não espere grandes surpresas, mas sim um entretenimento familiar razoavelmente eficaz, especialmente se assistido com uma boa dose de chocolate quente.