No Fio da Navalha

No Fio da Navalha: Uma Faca na Alma da Justiça

Confesso, fui pego de surpresa. Esperei um drama pesado sobre a perda e a luta por justiça, e No Fio da Navalha, lançado originalmente em 2019 e chegando ao Brasil em 12 de agosto de 2021, entregou isso com sobras, mas de uma maneira que me atingiu bem mais fundo do que antecipara. O filme acompanha Ludovít, um homem devastado pela perda do filho, vítima de um ataque neonazista brutal. A tragédia, no entanto, é apenas o ponto de partida para uma jornada ainda mais dolorosa: a luta contra um sistema legal falho que permite a rápida libertação dos assassinos. É uma história sobre luto, sobre a ineficácia da justiça, e sobre a complexa relação pai-filho, tudo isso costurado com uma sensibilidade pungente.

A Direção, o Roteiro e as Faces da Dor

Teodor Kuhn, na direção, opta por uma abordagem quase documental, evitando o melodrama excessivo. A câmera acompanha Ludovít em sua jornada, registrando sua dor com uma frieza calculada que, paradoxalmente, intensifica o impacto emocional. A fotografia, fria e sóbria, reflete o vazio interior do protagonista e a implacável burocracia que ele enfrenta. O roteiro, escrito por Jakub Medvecký e o próprio Kuhn, é primoroso na sua construção. Ele não se perde em digressões desnecessárias, mantendo o foco na jornada emocional de Ludovít e na crítica social implícita. Não é um roteiro fácil; ele força o espectador a encarar a realidade crua, sem concessões ao sentimentalismo barato.

As atuações são excepcionais. Roman Luknár, como Ludovít, entrega uma performance visceral, carregada de dor contida, explosões de raiva e uma profunda fragilidade. Ele transcende o estereótipo do pai em luto, oferecendo uma interpretação complexa e multifacetada. O restante do elenco, incluindo Miroslav Krobot e Marián Mitaš como os investigadores, e Jana Oľhová como a promotora, também se destaca, retratando personagens realistas, mesmo aqueles que personificam a ineficiência do sistema.

AtributoDetalhe
DiretorTeodor Kuhn
RoteiristasJakub Medvecký, Teodor Kuhn
Elenco PrincipalRoman Luknár, Dávid Hartl, Miroslav Krobot, Marián Mitaš, Jana Oľhová
GêneroDrama
Ano de Lançamento2019
Produtorasnutprodukcia s.r.o., RTVS

Forças, Fraquezas e o Peso da Realidade

O ponto forte indiscutível do filme é a sua capacidade de nos fazer sentir a impotência de Ludovít diante da máquina burocrática. A frustração se transforma em raiva, e a raiva em um desespero sufocante. Essa imersão na dor do protagonista é poderosa, brutalmente honesta. No entanto, a ausência de um arco de redenção mais explícito para Ludovít poderia ser apontado como uma fraqueza para alguns. O filme opta por um final mais amargo, mais realista, que pode deixar o espectador com um sentimento de incômodo persistente – e, para mim, essa é sua maior força.

Um Grito Contra a Injustiça, Uma Reflexão sobre a Perda

No Fio da Navalha não é apenas um filme sobre a perda de um filho, é um filme sobre a falência da justiça e a incapacidade do sistema de lidar com crimes de ódio. A perda de Ludovít, além da dor pessoal imensa, se amplia e se torna um símbolo do fracasso social em proteger seus cidadãos. O filme nos força a confrontar nossa própria passividade, a tendência de ignorar a injustiça até que ela nos atinja diretamente. A complexidade da relação pai-filho, explorada com sutileza, adiciona outra camada à narrativa, mostrando como a dor do luto é intensificada pela culpa e pelo arrependimento de um passado que nunca poderá ser reescrito.

Conclusão: Assista, mas Prepare-se

Passados quatro anos da sua estreia no Brasil, No Fio da Navalha continua relevante, e talvez até mais. Não se trata de um filme fácil de assistir. Ele é desconfortável, doloroso, e exige do espectador uma certa capacidade de lidar com a angústia. Mas se você busca um filme que o toque profundamente, que o faça refletir sobre temas cruciais como justiça, perda e a falibilidade humana, então este longa-metragem é imperdível. A performance excepcional de Roman Luknár e a direção segura de Teodor Kuhn constroem uma experiência cinematográfica memorável, apesar do seu pessimismo pungente. Recomendo fortemente, mas prepare-se para sair da sala de cinema profundamente abalado, pensando no fio da navalha que separa a justiça da impunidade.

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