Nosferatu: Um Pesadelo Gótico Tecido na Tela por Robert Eggers
Nosferatu, o nome em si, já evoca um frio na espinha, uma sombra antiga que se arrasta para fora dos pesadelos mais profundos. E quando Robert Eggers, o mestre do horror folclórico e atmosférico, se propõe a revisitar esta lenda, o mínimo que podemos esperar é uma experiência cinematográfica de arrepiar os cabelos. O filme teve seu lançamento original em 2024, mas só chegará aos cinemas brasileiros no longínquo 2 de janeiro de 2025, uma espera que, para os amantes do terror gótico como eu, tem sido quase tão angustiante quanto as visões de Ellen Hutter. E, tendo finalmente tido a chance de testemunhar a visão de Eggers, posso dizer que é um filme que me dividiu, me perturbou e, por vezes, me hipnotizou.
Na sua essência, o longa-metragem de Eggers é um conto gótico de obsessão, ambientado na Alemanha do século XIX, especificamente na Würzburg dos anos 1830, mergulhada numa névoa de superstição e doença. A trama segue a jovem e assombrada Ellen Hutter (Lily-Rose Depp), que se vê inexplicavelmente perseguida pelo antigo vampiro da Transilvânia, o Conde Orlok (Bill Skarsgård). Sua presença nefasta arrasta consigo não apenas um horror incalculável, mas também a sombra da praga, o flagelo que assola a Europa, transformando o conto de vampiro numa metáfora arrepiante para o mal que se alastra e corrompe tudo em seu caminho. É uma história de inocência maculada, de desejo distorcido e de uma escuridão que transcende o sobrenatural, enraizando-se na própria psique humana.
A Poesia Sombria da Direção e do Roteiro
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Robert Eggers |
Roteirista | Robert Eggers |
Produtores | Jeff Robinov, John Graham, Chris Columbus, Eleanor Columbus, Robert Eggers |
Elenco Principal | Lily-Rose Depp, Nicholas Hoult, Bill Skarsgård, Aaron Taylor-Johnson, Willem Dafoe |
Gênero | Terror, Fantasia |
Ano de Lançamento | 2024 |
Produtoras | Focus Features, Studio 8, Maiden Voyage Pictures, Birch Hill Road Entertainment |
Robert Eggers não é um diretor para os fracos de coração ou para aqueles que buscam o susto fácil. Sua assinatura é a imersão total, a construção meticulosa de atmosferas que sufocam, e Nosferatu não é exceção. O que vi na tela é quase como uma poesia gótica pintada, onde cada quadro é uma obra de arte sombria. A cinematografia é sublime, banhando o espectador em tons `cold` e acinzentados, reforçando a sensação de `dread` iminente. Este é um filme que te convida a sentir o frio do ar, a poeira das mansões decrépitas e o cheiro da morte que se aproxima.
O roteiro, também assinado por Eggers, mergulha fundo nas nuances psicológicas de seus personagens, especialmente Ellen. É uma mulher que oscila entre a fragilidade e uma força latente, presa em um pesadelo que parece ser tanto externo quanto interno. A atuação de Lily-Rose Depp como Ellen Hutter é, sem dúvida, um dos pontos mais fortes do filme. Ela consegue transmitir a complexidade da personagem – suas `nightmares`, seu `somnambulism`, sua luta interna – com uma sutileza impressionante, carregando o peso da história nos ombros com uma elegância assombrosa. Como um dos trechos de crítica sugeriu, “Lily-Rose Depp impresses”, e eu não poderia concordar mais.
No entanto, devo admitir que a reinterpretação do Conde Orlok por Bill Skarsgård é onde a minha opinião se torna um tanto `complex`. Skarsgård é um ator fenomenal, capaz de uma transformação física e de uma presença intimidadora que poucos conseguem. Seu Orlok é verdadeiramente monstruoso, com a figura esguia e as garras que evocam o terror original. Há momentos em que ele é pura `supernatural horror`, um ser de pura malevolência. Contudo, e aqui entra o meu ponto de vista único, senti falta de um certo `amused` sadismo, ou talvez de uma dimensão de `eroticism` mais visceral que pudesse tornar a sua obsessão por Ellen ainda mais perturbadora e… `necrophilia`-like em sua implicação. O filme tateia nesses temas, sim, mas talvez com uma frieza que, embora intencional por Eggers, me deixou `a little disappointed with a certain l…`. Para mim, o filme “didn’t quite hook me” na dimensão mais crua do `desire` sombrio que um vampiro milenar poderia despertar ou corromper.
Nicholas Hoult como Thomas Hutter, o marido de Ellen, desempenha seu papel com competência, mas seu personagem é, em grande parte, um peão na teia de aranha do destino, refletindo a impotência humana diante do mal ancestral. Willem Dafoe, como Prof. Albin Eberhart von Franz, oferece uma performance típica de Dafoe – intensa e cheia de trejeitos, um farol de conhecimento (ou loucura) em meio à escuridão. Aaron Taylor-Johnson como Friedrich Harding tem um papel mais contido, mas eficaz na construção do universo da `period piece`.
Temas: Obsessão, Praga e o Pesar do Século XIX
A beleza visual de Nosferatu é inegável, uma `gothic horror` que se manifesta em cada detalhe da reconstrução do `19th century`. É um filme que respira `possession` em múltiplas camadas – a do vampiro sobre Ellen, a da praga sobre a cidade, e a do próprio Eggers sobre o material-fonte, uma `remake` que busca ser fiel ao espírito sem ser uma cópia carbono. Os temas de `drinking blood` e a inevitabilidade da morte são onipresentes, mas Eggers os eleva, usando-os para questionar a natureza da fé, do mal e da própria existência humana. A atmosfera é tão palpável que você se sente transportado para um mundo onde o sobrenatural é uma ameaça tangível, não apenas uma fantasia. “There is a devil in this world and I have met him,” e Eggers nos faz sentir que também o encontramos.
A `cold` paleta de cores e o ritmo deliberadamente lento contribuem para a atmosfera opressora. Este não é um filme que se apressa para entregar seus sustos; ele os cozinha lentamente, permitindo que a sensação de `dread` se infiltre em cada poro. Para alguns, essa lentidão pode ser um ponto fraco, o motivo pelo qual o filme “didn’t quite hook” totalmente. Para mim, é a essência do estilo de Eggers, uma escolha artística que privilegia a imersão e a angústia em detrimento da gratificação instantânea.
Conclusão: Uma Visão Perturbadora e Inesquecível
Nosferatu, de Robert Eggers, é um filme que exige paciência e uma apreciação pela arte do terror atmosférico. Não é perfeito, e `another part of me was a little disappointed` com a forma como certas facetas do vampiro foram exploradas – ou, melhor dizendo, subexploradas para o meu gosto pessoal. No entanto, o filme é, sem dúvida, uma obra visualmente esplêndida e um triunfo do `gothic horror`. Eggers demonstra mais uma vez sua capacidade de mergulhar em lendas antigas e extrair delas algo novo e perturbador.
Para aqueles que buscam um terror visceral, cheio de pulos e sangue jorrando, Nosferatu pode não ser a escolha ideal. Mas para os que apreciam a lentidão hipnótica, a beleza sombria, as performances marcantes (especialmente a de Lily-Rose Depp) e um mergulho profundo nos medos primordiais da humanidade, este é um filme imperdível. É uma experiência cinematográfica que perdura na mente, um pesadelo que, mesmo após o amanhecer, continua a assombrar. Mesmo que não me tenha capturado por completo, “there is enough about it that I can consider it as a good film”. E mais do que bom, é um filme importante, que eleva o gênero e nos lembra da força das sombras que habitam tanto o exterior quanto o interior. Mal posso esperar que o público brasileiro possa conferir essa obra nas telonas a partir de janeiro de 2025.