Olho para o céu noturno, para aquele ponto vermelho tão distante, e a mente voa. É um exercício que faço desde criança, e é uma das razões pelas quais sempre me sinto atraído por histórias que ousam sonhar para além da nossa atmosfera. Por isso, quando ouvi falar de Nossos Sonhos de Marte, lançado lá em 2022, não pude deixar de sentir uma pontada de curiosidade. Um filme que prometia comédia, romance e ficção científica, tudo isso enquanto dois jovens se arriscavam a cruzar o vácuo espacial por amor? Ah, essa é uma melodia que sempre me cativa.
A gente vive num mundo que, muitas vezes, nos empurra para a lógica e a razão, não é? Mas existe uma faísca dentro de nós que anseia pelo grandioso, pelo improvável, pelo ato de paixão pura e, talvez, um pouco insensata. E é exatamente essa faísca que Christopher Winterbauer, na direção, e Max Taxe, no roteiro, parecem ter mirado com precisão. O que Nossos Sonhos de Marte entrega, de forma surpreendentemente charmosa, é uma aventura que, apesar de ambientada em um futuro onde Marte é a nova fronteira da humanidade, é intrinsecamente sobre o aqui e agora dos sentimentos.
A sinopse já te dá o mapa da mina: dois estudantes, Walt (o sempre carismático Cole Sprouse) e Sophie (a adorável Lana Condor), com personalidades que colidem tanto quanto se complementam, decidem embarcar em uma jornada clandestina para o Planeta Vermelho. O motivo? Seus respectivos amores – Calvin Riggins (Mason Gooding) e Ginny (Emily Rudd) – estão lá, no que é para ser a cereja do bolo da colonização marciana. E, meu amigo, que premissa deliciosa! É a versão futurista e interplanetária daquele clichê romântico de atravessar continentes por alguém, mas com a adição de trajes espaciais, gravidade zero e o risco muito real de virar poeira cósmica.
O que me pegou de surpresa, e concordo plenamente com aquele pedacinho de crítica que li por aí, foi a construção de mundo. Não é daquelas superproduções que te sufocam com CGI e explicações científicas intrincadas sobre terraformação. Não. É mais sutil, mais orgânico. A Marte que vemos é um pano de fundo vivo, sim, mas não rouba o foco do drama humano. Há uma sensação de que a humanidade, mesmo com toda a tecnologia, ainda carrega consigo as mesmas bobagens e grandezas de sempre. E, sejamos francos, às vezes, essa realidade, apesar de avançada, pode parecer um pouco… digamos, deprimente em suas nuances, mostrando que, mesmo com outros planetas para morar, os problemas de coração e as decisões impensadas permanecem. A figura de Jan, interpretada com a usual competência de Christine Adams, adiciona uma camada de pragmatismo e autoridade que serve como um contraponto divertido à anarquia dos jovens.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Christopher Winterbauer |
Roteirista | Max Taxe |
Produtores | Sarah Schechter, Jenna Sarkin, Jill McElroy, Greg Berlanti |
Elenco Principal | Cole Sprouse, Lana Condor, Mason Gooding, Emily Rudd, Christine Adams |
Gênero | Comédia, Romance, Ficção científica |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | Entertainment 360, Berlanti Productions, New Line Cinema |
A magia do filme reside, em grande parte, na química palpável entre Cole Sprouse e Lana Condor. Walt, com seu jeito despretensioso e um charme quase desleixado, contrasta perfeitamente com a determinação e o brilho nos olhos de Sophie. Você acredita que esses dois, apesar de suas diferenças, formariam essa dupla improvável. Não é só a piada que funciona; são os olhares, as hesitações, os pequenos gestos que mostram a cada segundo que o vínculo entre eles está se aprofundando, mesmo em meio ao caos da viagem. E é aqui que o roteiro de Max Taxe brilha: os diálogos são ágeis, cheios de réplicas inteligentes e momentos genuinamente engraçados, mas também há espaço para silêncios carregados de significado, onde você vê as emoções dos personagens se desenrolarem sem precisar de uma palavra sequer.
E a aventura em si? Ah, é um deleite. A jornada de clandestinos é repleta de percalços, claro, mas nunca perde o tom leve e otimista. Há momentos de tensão, sim, daquelas em que você se inclina para a frente na cadeira, com um nó na garganta, torcendo para que eles não sejam pegos. Mas a comédia sempre volta, como a gravidade, para nos lembrar que, no fundo, estamos assistindo a uma história de amor um tanto quanto maluca. A produção da Entertainment 360, Berlanti Productions e New Line Cinema, sob a batuta dos produtores Sarah Schechter, Jenna Sarkin, Jill McElroy e Greg Berlanti, soube dosar os efeitos visuais, criando um universo crível sem sobrecarregar a narrativa.
Já se passaram alguns anos desde que Nossos Sonhos de Marte estreou no Brasil em 31 de março de 2022, e ele ainda ressoa comigo. É o tipo de filme que, mesmo não sendo uma obra-prima que revoluciona o gênero, te abraça de uma forma que você não espera. Ele te lembra que o amor, a conexão humana, a coragem de seguir seu coração – mesmo que esse coração te leve para um ônibus espacial ilegalmente – são as verdadeiras forças motrizes da existência, seja você vivendo na Terra ou em uma colônia marciana. No fim das contas, Nossos Sonhos de Marte é um lembrete divertido e caloroso de que, não importa quão longe a humanidade vá, nossos sonhos mais profundos, muitas vezes, são bem próximos: eles moram nas pessoas que amamos e na ousadia de ir atrás delas, custe o que custar. E isso, para mim, é sempre uma viagem que vale a pena fazer.