Nunca é Tarde para Recomeçar

Sabe aquele título que te fisga, que te faz parar e pensar na sua própria vida, naquelas encruzilhadas onde o velho já não serve e o novo ainda não se desenhou? Nunca é Tarde para Recomeçar é um desses. E vou te dizer, raramente um nome de filme ressoou tanto em mim antes mesmo de a primeira cena começar. Por que eu escolhi escrever sobre essa obra lançada em 2020, que talvez tenha passado despercebida por muitos, em meio a tantos blockbusters e produções frenéticas? Porque, às vezes, são essas histórias mais quietas, mais íntimas, que nos tocam a alma de uma forma que poucas outras conseguem. Elas nos lembram que a vida, com suas curvas e descidas íngremes, está sempre disposta a nos dar uma nova chance, se estivermos dispostos a encará-la.

E é exatamente essa a jornada de Hannah Howard (Melissa Anschutz), uma estrela da música que chegou ao topo, viveu sob os holofotes, mas descobriu que nem todo brilho dourado é sinônimo de felicidade. Você já se sentiu assim, no auge de algo, mas com um vazio crescendo por dentro? Hannah, a gente percebe, está exausta. Não é uma exaustão física apenas, mas uma daquelas que pesam a alma, que drenam as cores do mundo ao redor. Melissa Anschutz não nos diz que está cansada; ela mostra isso na maneira como seus ombros caem ligeiramente, no olhar distante que por vezes se perde no vazio, mesmo quando as palavras saem de sua boca com um sorriso profissional e polido. É uma performance que fala debaixo da pele, de uma forma que te faz sentir o peso da carreira dela.

Quando a vida a força a voltar para sua pequena cidade natal no norte do Michigan para o funeral de seu pai, é como se uma parte dela, há muito tempo adormecida, fosse brutalmente acordada. Hannah não está apenas voltando para um enterro; ela está voltando para um cemitério de memórias, para os fantasmas de um passado que ela tentou, por anos, abafar com o volume de suas canções e o aplauso das multidões. O charme gélido e, ao mesmo tempo, acolhedor de Michigan se torna um personagem à parte. Você consegue quase sentir o ar fresco cortando a pele, o cheiro de pinho e talvez, um resquício de lenha queimada, enquanto Hannah navega por ruas familiares, mas que agora parecem assombradas.

A beleza de Nunca é Tarde para Recomeçar, dirigido por Jesse Low e roteirizado por DJ Perry, reside exatamente na sua capacidade de misturar gêneros sem parecer forçado. Comédia, Drama, Mistério? Parece uma salada de frutas, não parece? Mas a verdade é que a vida é essa salada. Há momentos de riso genuíno, de trocas de olhares que aliviam a tensão, especialmente nas interações com o carismático Milo Williams (Don Most, com aquele sorriso que nos lembra a infância, mas aqui com uma sabedoria mais madura), que talvez seja a âncora que Hannah nem sabia que precisava. O drama é o cerne, a dor da perda e da reconciliação com a própria história. E o mistério? Não é um thriller de tirar o fôlego, mas sim a busca por peças perdidas do passado de Hannah, que se desvelam como fotos antigas empoeiradas, cada uma revelando um pouco mais de quem ela foi e quem ela precisa se tornar. É a quietude do desconhecido sobre o próprio eu.

Atributo Detalhe
Diretor Jesse Low
Roteirista DJ Perry
Elenco Principal Melissa Anschutz, Don Most, Victoria Jackson, Christine Marie, Josh Perry
Gênero Comédia, Drama, Mistério
Ano de Lançamento 2020

A família, claro, desempenha um papel crucial. Victoria Jackson, como Alma Howard, e Christine Marie, como Verna Howard, trazem à tona as complexas dinâmicas de irmãs, os ressentimentos guardados e as tentativas de conexão, tudo isso com uma autenticidade que nos lembra nossas próprias relações familiares. Josh Perry, como Chip Howard, completa esse núcleo, oferecendo outra faceta dos laços que Hannah precisa desatar ou reforçar. Os diálogos, muitas vezes pontuados por silêncios significativos, nos revelam mais sobre os personagens do que longos monólogos poderiam. A gente sente a tensão que existe naquelas interações, a bagagem não dita que cada um carrega.

Embora classificado como um “filme cristão”, o que o torna verdadeiramente especial é como ele transcende essa categorização, explorando a fé não como doutrina, mas como a busca humana por significado e a cura de velhas feridas. Não se trata de conversões milagrosas ou discursos explícitos, mas da jornada interna de uma mulher que, no fundo do poço da sua própria existência, começa a vislumbrar uma luz, uma chance de encontrar novamente sua paz e equilíbrio. É a redescoberta de valores, de prioridades, de um propósito que vai além das luzes do palco. Isso, para mim, é o ponto alto do roteiro de DJ Perry: a sutileza com que aborda temas tão profundos, sem pregar, mas convidando à reflexão.

Lançado em 2020, esse filme, agora em 2025, parece ainda mais relevante. Tantos de nós, nestes últimos anos, fomos forçados a parar, a reavaliar nossas vidas, a enfrentar nossos próprios fantasmas. Nunca é Tarde para Recomeçar não oferece respostas fáceis, nem um final de conto de fadas onde todos os problemas simplesmente desaparecem. Não, ele nos presenteia com algo muito mais valioso: a esperança. A esperança de que, não importa o quão longe você tenha ido ou o quão perdida se sinta, a oportunidade de virar a página e escrever um novo capítulo está sempre ali, à sua espera, talvez escondida na quietude de uma pequena cidade do Michigan, talvez no reencontro com um familiar, ou talvez, e mais importante, dentro de você mesma. É um lembrete gentil de que o recomeço não é um destino, mas uma jornada contínua, uma escolha que fazemos todos os dias. E essa é uma mensagem que eu, você, e todos nós precisamos ouvir.

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