O Amanhecer

O ano era 2020, um tempo que, para muitos, já trazia seu próprio terror. E foi nesse cenário peculiar que O Amanhecer emergiu, um filme que, cinco anos depois, ainda ecoa na minha memória com uma sensação de areia sob os dentes e um frio inesperado na espinha. Sabe, quando a gente senta pra assistir a um filme de terror, a expectativa é sempre a mesma: ser assustado, ser desafiado, ou quem sabe, ser surpreendido. Mas com este trabalho de Pablo Macho Maysonet IV, a surpresa veio na forma de uma desestabilização silenciosa.

Eu sempre fui do tipo que aprecia um bom terror que não se apoia só em jump scares baratos. Gosto quando o medo é construído, quando a atmosfera te sufoca e os personagens são mais do que meros sacrifícios esperando na fila. E é exatamente aí que O Amanhecer acerta em cheio. A premissa, por si só, já nos joga num poço de desconforto: uma família, já esgarçada pelas suas próprias feridas internas, viaja pelo país, carregando bagagens que vão muito além das malas no porta-malas. Eles são os “problemáticos” do título, e essa palavra, por si só, já pinta um quadro. Annie, interpretada com uma profundidade cansada por Dee Wallace — um nome que ressoa com os amantes do terror clássico e que aqui prova seu eterno valor —, é a matriarca que tenta manter a fachada enquanto o mundo (e a família) desmorona. Ao lado dela, vemos o adolescente Howard (Josh Server) e a pequena Jamie (Caitlyn Fletcher), cada um com seus próprios demônios e medos já latentes.

A beleza (ou seria a crueldade?) do filme reside na forma como ele inverte as expectativas. A família é sequestrada por um homem desesperado, Stephen (Gregg Christie), e por um momento, a gente pensa: “Ah, ok, mais um suspense de cativeiro”. Mas Maysonet IV, que assina tanto a direção quanto o roteiro, tem outros planos para nós. Ele não quer apenas nos prender; ele quer nos mostrar que o monstro que conhecemos é, na verdade, um cordeiro fugindo de um lobo. A reviravolta de que Stephen está sendo caçado por algo “mais perigoso do que ele” não é apenas um artifício de roteiro; é o oxigênio que a narrativa precisa para se transformar em algo realmente sombrio e original. O desespero de Stephen não é o ponto final, mas um elo numa corrente de terror que se estende para o desconhecido.

A interpretação de Gregg Christie é fundamental aqui. Ele não é o vilão unidimensional que poderíamos esperar. Seus olhos carregam um peso, uma urgência que nos faz questionar suas motivações e, mais importante, o que exatamente ele tanto teme. É o tipo de atuação que te faz sentir uma pontada de empatia por alguém que, em qualquer outra situação, seria apenas o antagonista. E no meio desse caos, entra Courtney Gains como Dr. Hewitt, um personagem que adiciona uma camada extra de mistério e uma figura quase enigmática, nos fazendo perguntar qual é o seu jogo, qual é o seu papel nessa teia de desespero e perseguição.

AtributoDetalhe
DiretorPablo Macho Maysonet IV
RoteiristaPablo Macho Maysonet IV
ProdutoresJoe Gawalis, Pablo Macho Maysonet IV
Elenco PrincipalDee Wallace, Josh Server, Caitlyn Fletcher, Gregg Christie, Courtney Gains
GêneroTerror
Ano de Lançamento2020
ProdutorasTriple G Productions, Shattered Dreams Productions

O trabalho de produção, capitaneado por Joe Gawalis e o próprio Pablo Macho Maysonet IV através da Triple G Productions e Shattered Dreams Productions, se destaca pela maneira como constrói uma atmosfera claustrofóbica mesmo em cenários abertos. A sensação de estar preso, de não haver para onde correr, é palpável. Cada tomada parece sugere que o perigo não está apenas à espreita, mas sim em toda parte. As paisagens desoladas, as estradas vazias; tudo contribui para a sensação de isolamento e vulnerabilidade que a família sente. Não é um terror de monstros saltitantes, mas de uma ameaça que se manifesta mais na ausência do que na presença, um vazio que se preenche com o nosso próprio medo.

O Amanhecer não é um filme que entrega todas as respostas de bandeja. E talvez seja esse o seu maior trunfo. Ele nos convida a preencher as lacunas com nossos próprios medos, com nossas próprias suposições sobre o que poderia ser essa “coisa mais perigosa”. É um terror que se infiltra sob a pele, que brinca com a ideia de que o verdadeiro horror não vem de criaturas fantásticas, mas da perda de controle, da desintegração familiar, e da revelação de que estamos todos fugindo de algo, seja um segredo, uma dor, ou uma ameaça invisível que nos acompanha desde, bem, o amanhecer.

É um filme que, para mim, funciona como um lembrete agridoce de que, às vezes, os piores monstros são aqueles que não conseguimos nomear, aqueles que pairam como uma sombra na periferia da nossa visão, esperando o momento certo para se manifestar e nos levar para uma escuridão sem volta. Se você busca um terror que te faça pensar, que te instigue e que te deixe com uma sensação incômoda muito depois dos créditos rolarem, O Amanhecer é uma joia a ser descoberta (ou redescoberta, para quem já o encontrou em 2020). Ele não grita para ser notado; ele sussurra, e esse sussurro é o que realmente te assusta.

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