Sabe, a gente tá sempre à procura daquelas histórias que nos fazem suspirar, rir alto ou até mesmo nos levam a refletir sobre os caminhos malucos que a vida às vezes nos apresenta. E, por vezes, nos deparamos com uma joia cinematográfica que consegue fazer tudo isso, e de um jeito que ecoa em nossa mente muito depois dos créditos rolarem. É exatamente essa a sensação que O Amor dá Voltas, um filme brasileiro lançado em 2022, continua a me provocar, quase três anos depois da sua estreia. Por que falar dele agora, em 2025? Porque certas narrativas têm um poder atemporal de nos lembrar que o coração humano é um labirinto, e o amor, bem, o amor realmente dá voltas.
Quando me deparei com a premissa, uma carta de amor trocada por engano entre irmãs, admito que pensei: “Ah, lá vem mais um clichê romântico”. Mas aí a gente se senta, a luz diminui, e somos transportados para a vida de André (Igor Angelkorte), um médico que volta ao Brasil depois de meses heroicos cuidando de feridos pela Médicos Sem Fronteiras. O cansaço no rosto dele é quase palpável, os olhos carregam histórias que a gente nem imagina. E a promessa de reencontrar a namorada, Beta (Juliana Didone), parecia ser a luz no fim do túnel. Mas, veja só, a vida adora um bom plot twist, não é? As cartas apaixonadas que o mantiveram firme em meio ao caos não vieram de Beta, mas da irmã dela, Dani (Cleo). Puxa vida, que nó!
A genialidade aqui não está apenas na confusão inicial, mas em como ela se desenrola, revelando camadas de desejo, lealdade e, claro, um timing completamente desastroso. Igor Angelkorte encarna um André que é mais do que o “mocinho” bonitão; ele é a personificação da nobreza de quem ajuda o próximo, mas também daquela ingenuidade que o faz acreditar cegamente nas palavras certas vindas da pessoa “errada”. A gente vê a perplexidade nos olhos dele, o peso de uma situação que ele não pediu, mas que o força a encarar o que seu coração realmente sentia. É uma atuação que te faz sentir a balança interna dele, pendendo entre o dever e um novo, inesperado, anseio.
E Cleo como Dani? Ah, a Dani… Ela é o coração vibrante e vulnerável desse enredo. Por trás da fachada de “irmã da namorada”, descobrimos uma mulher que se permitiu sentir, que se derramou em palavras para alguém que nem sabia quem ela era. Cleo entrega uma Dani cheia de nuances, oscilando entre a culpa avassaladora e a coragem de quem decide arriscar por um amor genuíno, mesmo que nascido de um mal-entendido gigante. A forma como ela segura o olhar de André, a leveza de seu sorriso que esconde tanta insegurança, é um show à parte. E Juliana Didone não deixa Beta ser a vilã caricata. Ela é a namorada, sim, mas também uma mulher que precisa confrontar a realidade de um relacionamento que talvez não fosse tão sólido quanto parecia, e o impacto de um segredo que afeta sua própria família. A dinâmica entre as irmãs é um ponto central: como o amor pode se sobrepor aos laços de sangue e como se navega por essa turbulência sem se perder.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Marcos Bernstein |
| Roteiristas | Marcos Bernstein, Victor Atherino, Marc Bechar |
| Produtores | Nathalie Felippe, Marcos Bernstein |
| Elenco Principal | Cleo, Igor Angelkorte, Juliana Didone, Klebber Toledo, Pablo Sanábio |
| Gênero | Comédia, Romance |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Globo Filmes, Neanderthal MB Cinema, Pontos de Fuga |
A beleza de O Amor dá Voltas se expande para além das atuações. A gente percebe que o filme tem um toque de “road movie” na sua alma, mas não é só uma viagem física. A jornada de André e Dani, pelas paisagens brasileiras que servem de pano de fundo, é, na verdade, uma viagem interna de autodescoberta. Eles precisam, literalmente e metaforicamente, se perder para se encontrar. É nesse caminho, com seus percalços e momentos de respiro, que a verdade dos seus sentimentos se cristaliza. O diretor Marcos Bernstein, junto com os roteiristas Victor Atherino e Marc Bechar, conseguiu tecer uma narrativa que, embora ambientada no calor do Brasil, evoca uma universalidade nos tropeços e acertos do amor.
E não posso deixar de mencionar a leveza que os coadjuvantes trazem. Sérgio (Klebber Toledo) e Marcos (Pablo Sanábio) são como os amigos que a gente precisa nessas horas, oferecendo o contraponto cômico e a dose de realidade que a trama pede, impedindo que o romance caia no melodrama excessivo. A comédia não é forçada; ela brota das situações orgânicas, dos diálogos rápidos e cheios de vida, daquele jeito brasileiro de levar a vida mesmo quando o mundo parece de cabeça pra baixo.
O Amor dá Voltas é um lembrete gentil de que a vida é um emaranhado de caminhos tortuosos, de que o amor pode nos pegar de surpresa e que, às vezes, o maior engano pode nos levar à verdade mais pura. Ele nos faz rir, nos emociona e nos deixa com um quentinho no coração, nos lembrando que vale a pena se arriscar, se despir de preconceitos e, sim, dar umas voltas a mais nessa montanha-russa que é amar. É um filme pra assistir com o coração aberto, pra se identificar com as imperfeições dos personagens e pra celebrar a beleza da imprevisibilidade. Porque, no fim das contas, quem nunca se viu num “enrosco” amoroso que, com o tempo, acabou se revelando o melhor caminho, né? O amor dá voltas, e que bom que é assim.




