O Arquiteto: Uma Comédia Amarga que Resiste ao Tempo
Nove anos se passaram desde que O Arquiteto chegou aos cinemas brasileiros em 2 de agosto de 2017, e ainda hoje me pego pensando neste longa-metragem peculiar. Dirigido por Jonathan Parker e escrito por ele em parceria com Catherine DiNapoli, o filme não foi um estrondo de bilheteria, mas deixou em mim uma marca que poucos filmes conseguem. A trama gira em torno de um casal que contrata um arquiteto excêntrico e descompromissado para construir a casa dos seus sonhos, e como essa empreitada se transforma numa jornada inesperada e hilariante, carregada de um drama sutil mas eficaz.
Uma Casa, Vários Sonhos, e um Arquiteto que Desconstrui Tudo
A sinopse, sem grandes spoilers, é bastante sugestiva: Colin e Drew, um casal com visões distintas sobre o lar ideal, encontram em Miles Moss um arquiteto que talvez represente mais os seus medos e anseios inconscientes do que propriamente suas necessidades práticas. Miles, interpretado magistralmente por James Frain, é um personagem fascinante: um artista brilhante, mas profundamente egoísta e autodestrutivo, que usa o projeto da casa como uma tela para suas próprias neuroses. A dinâmica entre ele, Colin (Eric McCormack, sempre impecável) e Drew (uma Parker Posey em estado de graça, absolutamente convincente na sua fragilidade) é o coração do filme. O roteiro, inteligente e repleto de diálogos mordazes, explora com maestria a tensão entre o sonho e a realidade, a idealização e a decepção, o individualismo e o compromisso.
Direção, Atuações e o Toque de Parker
Jonathan Parker assume a direção com uma mão segura, equilibrando com precisão a comédia e o drama. Não há momentos gratuitos, cada cena contribui para a construção da narrativa e dos personagens. A fotografia, embora discreta, reforça a atmosfera peculiar e às vezes claustrofóbica que permeia o filme. As atuações são impecáveis. A química entre os três atores principais é palpável, e cada um deles contribui com nuances sutis que tornam seus personagens inesquecíveis. John Carroll Lynch, como Conway, e Pamela Reed, como a mãe de Colin, são peças fundamentais nesse quebra-cabeça humano, adicionando camadas de complexidade a uma narrativa já rica. A produção, com nomes como Lars Ulrich envolvidos, sugere um cuidado especial com os detalhes, que se traduz na tela.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Jonathan Parker |
Roteiristas | Jonathan Parker, Catherine DiNapoli |
Produtores | Jonathan Parker, Patrick Peach, Lars Ulrich, Catherine DiNapoli |
Elenco Principal | Parker Posey, Eric McCormack, James Frain, John Carroll Lynch, Pamela Reed |
Gênero | Drama, Comédia |
Ano de Lançamento | 2016 |
Produtora | Parker Film Company |
Pontos Fortes e Fracos: Uma Obra Imperfeita e, Por Isso, Genuína
O principal ponto forte de O Arquiteto é, sem dúvida, a sua originalidade. Em um cenário cinematográfico muitas vezes saturado de fórmulas repetitivas, o filme se destaca pela sua abordagem singular. A personagem de Miles Moss, em especial, é uma criação memorável, um anti-herói que fascina e repele em partes iguais. No entanto, o filme também tem suas fragilidades. O ritmo, por vezes, pode parecer um pouco lento para alguns espectadores. Certos aspectos da trama poderiam ser desenvolvidos com mais profundidade. Mas, para mim, esses “defeitos” são parte do charme do filme. Eles contribuem para sua autenticidade, para a sensação de estarmos diante de algo autêntico e não fabricado para atender às expectativas de um público massificado.
Temas e Mensagens: Uma Reflexão sobre Sonhos e Realidade
O Arquiteto nos convida a refletir sobre a natureza efêmera dos sonhos, sobre a ilusão de controle que buscamos exercer sobre nossas vidas e sobre a importância de aceitarmos a complexidade das relações humanas. A casa, que inicialmente representa a realização de um ideal de lar, acaba se transformando num reflexo das fragilidades e contradições dos seus habitantes. É uma metáfora poderosa e sutilmente elaborada, que transcende a simples narrativa de uma construção.
Conclusão: Uma Recomendação para Aqueles que Gostam de Cinema Singular
O Arquiteto não é um filme para todos. Ele exige um pouco mais de atenção e paciência do espectador, e não oferece respostas fáceis ou soluções mágicas. Mas para aqueles que apreciam cinema com nuances, com personagens complexos e uma narrativa inteligente e incomum, a experiência se revela inesquecível. Em 2025, o filme continua a ser uma grata surpresa. A recomendação é enfática: assistam, principalmente se encontrarem em plataformas digitais. Não se arrependam, pois a experiência, apesar de suas imperfeições, é recompensadora. O filme merece ser lembrado e redescoberto, não só pelos seus méritos técnicos e artísticos, mas, principalmente, pela sua profunda humanidade.