Ah, O Atirador 2! Sabe, quando a gente pensa em sequências, especialmente aquelas que chegam um bom tempo depois do original, sempre bate aquela pulguinha atrás da orelha, né? Será que vale a pena? Será que é só mais uma tentativa de capitalizar em cima de um nome familiar? Eu, sinceramente, abordo cada um desses filmes com uma mistura de esperança e ceticismo, e foi exatamente com essa bagagem emocional que me sentei para revisitar esta pérola de 2002. Por que falar dele hoje, em pleno 2025? Porque certas histórias, mesmo que não revolucionárias, conseguem ecoar.
Lembro-me bem da aura que cercava o sargento Thomas Beckett no primeiro filme. Um atirador de elite, uma lenda viva, com a pontaria tão afiada quanto sua alma era atormentada. E aqui, em O Atirador 2, somos jogados de volta a esse universo, mas com um Thomas Beckett (Tom Berenger, sempre ele, com aquela cara de quem já viu demais) que parece carregar o peso de mil guerras nas costas. Não é apenas a idade, é o cansaço dos fantasmas do passado, a perda de entes queridos, as cicatrizes invisíveis que definem um homem como ele. O filme não precisa gritar sobre sua dor; ela está ali, no olhar de Berenger, na forma como ele se move, como se cada passo fosse uma confirmação de sua solidão.
A premissa, de cara, já nos fisga: Beckett, agora aposentado, é puxado de volta para o inferno de uma missão perigosa. A tarefa? Eliminar um general sérvio desajustado, um senhor da guerra que, descobrimos, comete atrocidades em segredo. Mas ele não vai sozinho. É obrigado a aceitar a companhia de Cole (Bokeem Woodbine), um prisioneiro condenado à morte, um homem que, aparentemente, tem aversão à violência e que, de repente, se vê no meio de um banho de sangue. E é aqui que a complexidade começa a borbulhar.
A dinâmica entre Beckett e Cole é o verdadeiro coração pulsante de O Atirador 2. Beckett, o predador silencioso, o homem forjado pela guerra. Cole, o prisioneiro com um código moral próprio, um “pacifista” relutante que, ironicamente, precisa ajudar a matar. Você sente a tensão palpável entre eles, a desconfiança inicial. Não é só uma parceria forçada; é um choque de mundos, uma aula de ambiguidade moral. Será que Cole é realmente quem diz ser? Ou ele tem suas próprias cartas na manga? E Beckett, ele ainda acredita na justiça que lhe é vendida, ou apenas obedece por instinto, por não saber viver de outra forma?
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Craig R. Baxley |
Roteiristas | Ron Mita, Jim McClain |
Produtores | Carol Kottenbrook, Scott Einbinder |
Elenco Principal | Tom Berenger, Bokeem Woodbine, Dan Butler, Linden Ashby, Erika Marozsán |
Gênero | Ação |
Ano de Lançamento | 2002 |
Produtoras | Sandstorm Films, TriStar Pictures |
O roteiro de Ron Mita e Jim McClain, sob a direção de Craig R. Baxley, não se contenta em ser apenas um filme de ação direto. Logo, fica claro que a missão de eliminar o general é apenas a ponta do iceberg. Beckett e Cole são peões em um jogo muito maior, uma trama de traição e manipulação orquestrada pelo próprio governo. Aquele sentimento de “fui usado” que permeia as histórias de espiões e militares se instala, e você, como espectador, sente a frustração e a indignação de Beckett. Isso adiciona uma camada de profundidade que eleva o filme de um mero “caça ao homem” para uma reflexão sobre a lealdade, a manipulação política e o custo humano da guerra.
As cenas de ação, por sua vez, são um espetáculo à parte, mesmo para os padrões de hoje. Não espere a pirotecnia exagerada de muitos blockbusters; aqui, a tensão vem do silêncio, da precisão do tiro, da estratégia. Há um duelo tenso, uma perseguição a pé que te deixa sem fôlego, e vários impasses onde a vida de Beckett está por um fio. Baxley sabe como usar o ambiente – a claustrofobia de um esconderijo, a vastidão de um campo aberto – para amplificar o perigo. E quando a bala finalmente encontra seu alvo, o impacto é visceral, real, sem adornos desnecessários. Tom Berenger, mesmo com alguns anos a mais, ainda exala a letalidade de um atirador que respira o cheiro de pólvora. E Bokeem Woodbine traz uma intensidade contida, um mistério que faz com que cada cena sua seja intrigante.
Dan Butler (Eckles) e Linden Ashby (McKenna) interpretam os elos governamentais, e suas atuações nos lembram que os verdadeiros vilões nem sempre usam capas pretas; às vezes, eles vestem ternos e falam a linguagem da burocracia e da “segurança nacional”. Erika Marozsán, como Sophia, adiciona um toque humano e um catalisador para a trama de resgate, mostrando que, mesmo no caos, ainda há algo pelo que lutar, algo a proteger.
O Atirador 2 não é perfeito, claro. Nenhum filme é. Mas ele consegue ser mais do que apenas uma sequência. Ele nos faz questionar os limites da moralidade em tempos de guerra, a linha tênue entre o herói e o criminoso, e o preço da “justiça” quando ela é decidida nas sombras. Você sai da experiência não apenas entretido, mas com aquela pequena inquietação, pensando sobre o papel de cada um de nós diante de um sistema que muitas vezes parece maior e mais frio que qualquer indivíduo. E, para mim, qualquer filme que consiga fazer isso, que consiga arrancar um pingo de reflexão em meio à adrenalina, já cumpriu muito bem o seu papel. É por isso que, mesmo em 2025, vale a pena dar uma chance ao velho Beckett e sua nova e complicada missão.