O Festival dos Trovadores

Faz exatamente três anos que O Festival dos Trovadores chegou até nós, quase que na ponta dos pés, um sussurro no vasto oceano de lançamentos de 2022. E, você sabe, alguns filmes têm essa magia peculiar de não apenas passar pela nossa frente, mas de se aninhar em algum canto da nossa memória, reverberando com uma melodia própria muito depois de os créditos rolarem. Para mim, este drama turco é um desses raros exemplares.

Eu me pego pensando nele vez ou outra, especialmente quando o silêncio se estende demais em uma conversa, ou quando a arte de um velho amigo me lembra das histórias que ele guarda. É que Özcan Alper, o diretor, com a ajuda preciosa do roteiro que ele co-escreveu com Kemal Varol, não nos entrega apenas uma história; ele nos oferece uma jornada, tanto geográfica quanto emocional, que é crua, honesta e dolorosamente familiar para qualquer um que já tenha tentado costurar as feridas abertas por um passado cheio de ausências.

No coração pulsante de O Festival dos Trovadores está o reencontro – ou talvez, o quase reencontro – entre Yusuf (interpretado com uma intensidade silenciosa por Kıvanç Tatlıtuğ), um homem que carrega o peso do abandono, e seu pai, Heves Ali (um Settar Tanrıöğen que é a própria encarnação da melancolia e da sabedoria envelhecida), um trovador, um poeta errante, cujo lar sempre foi a estrada e cuja família eram as canções. Essa dinâmica, meu amigo, é o palco para um drama que não grita, mas que ressoa em cada olhar trocado, em cada palavra não dita. Você consegue sentir a tensão entre o ressentimento do filho e a resignação do pai, não é? Aquele nó na garganta que vem de anos de silêncio e mal-entendidos.

A genialidade de Alper reside em nos convidar a ser mais do que meros espectadores. Ele nos coloca dentro daquele carro, na poeira da estrada, entre pai e filho, enquanto eles viajam rumo a um festival. Não é apenas uma viagem física; é uma travessia pela memória, pelos fantasmas do que poderia ter sido e do que jamais será. Heves Ali, um trovador que canta as dores e alegrias do povo, paradoxalmente, parece ter falhado em cantar as suas próprias verdades para o filho. E Yusuf, preso na armadilha do passado, luta para encontrar a melodia da reconciliação. Não é fascinante como um artista que encanta multidões pode ser tão ineficaz em comunicar-se com seu próprio sangue? Essa contradição é o que torna os personagens tão humanos, tão falhos, tão reais.

Atributo Detalhe
Diretor Özcan Alper
Roteiristas Özcan Alper, Kemal Varol
Produtor Onur Güvenatam
Elenco Principal Kıvanç Tatlıtuğ, Settar Tanrıöğen, Uğur Uzunel, Erkan Can, Laçin Ceylan, Burcu Cavrar, Çetin Sarıkartal, Erkan Bektaş, Pınar Göktaş, Şirin Ergüven Hamşioğlu
Gênero Drama
Ano de Lançamento 2022
Produtora OGM Pictures

Kıvanç Tatlıtuğ, que muitos conhecem por papéis mais glamourosos, aqui se despe de qualquer vaidade. Seu Yusuf é um emaranhado de mágoa e anseio. Você vê a dor em seus ombros tensos, a esperança fugidia em seus olhos quando ele olha para o pai. E Settar Tanrıöğen… ah, Settar Tanrıöğen! Ele não atua como Heves Ali; ele é Heves Ali. Sua voz rouca, seu semblante marcado pelo tempo e pelas estradas, a forma como ele segura o saz, como se fosse uma extensão da sua própria alma. É uma performance que te puxa para dentro, te faz querer sentar e ouvir as histórias que seus olhos contam. A contribuição de cada ator, mesmo nos papéis coadjuvantes de Uğur Uzunel como Salim, e Laçin Ceylan, e Burcu Cavrar, é um fio sutil que tece a rica tapeçaria emocional do filme. Não há uma nota fora do tom, um exagero. Tudo é contido, mas profundamente sentido.

A produção da OGM Pictures nos transporta para paisagens que respiram. As estradas poeirentas, as vilas adormecidas, o vento que balança as árvores – tudo isso não é apenas pano de fundo; é um personagem silencioso que testemunha a saga desses dois homens. E a música, claro. A música dos trovadores, que é a essência da alma de Heves Ali, se torna a ponte, o muro, a esperança e a dor de ambos. É a linguagem que ele entende, mas que Yusuf precisa aprender a decifrar. O drama não vem de grandes explosões ou reviravoltas mirabolantes, mas das pequenas rachaduras que aparecem na superfície da quietude, revelando a fúria e o amor que fervilham por baixo.

Três anos depois de seu lançamento, O Festival dos Trovadores ainda me acompanha, talvez porque ele me faz refletir sobre as complexidades das relações familiares, sobre o peso das escolhas que fazemos e sobre como a arte pode ser tanto uma forma de fuga quanto de conexão. É um lembrete agridoce de que o perdão, por vezes, é um caminho mais longo e tortuoso do que imaginamos, e que algumas feridas nunca cicatrizam completamente, mas podem, com o tempo, se transformar em poesia. E, cá entre nós, não é assim que a vida é, por vezes, uma canção triste e linda ao mesmo tempo? Um filme que, se você ainda não viu, eu o convido a descobrir, e a deixar que sua melodia encontre seu próprio eco em você.

Trailer

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